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A história de Filipe Camarão[editar | editar código-fonte]

Filipe Camarão nasceu em 1580 e foi batizado em 13 de junho de 1612. [1] [2]

Filipe Camarão
FelipeCamarão/Testes
Retrato anônimo de Filipe Camarão, do século XVII, no Museu do Estado de Pernambuco
Outros nomes Potuguaçu
Nascimento 1580
Local incerto
Morte 1648
Recife, Capitania de Pernambuco
Brasil Colonial
Cônjuge Clara Camarão
Ocupação militar e líder indígena
Religião catolicismo

A princípio chamava-se Potiguaçu [3] e, posteriormente, recebeu o nome de Antônio Filipe Camarão em seu batismo cristão [3]. Seu nome deu-se em homenagem a Santo Antônio e a Filipe IV (Rei da Espanha), já o termo camarão foi escolhido por ser a tradução portuguesa do nome Poti [4]

Filipe era chefe dos índios potiguares [3] e destaca-se no contexto das invasões holandesas em Pernambuco no século XVII, tanto nas de resistência quanto nas de Restauração [5]. As invasões holandesas no Nordeste brasileiro ocorreram no século XVII e estão diretamente ligadas com a União ibérica e com o conflito de independência das províncias dos países baixos contra a Espanha.[6]. A primeira refere-se à passagem do trono português à Coroa espanhola[6]. Assim, se estabelece uma relação entre Portugal e Espanha e a medida que havia um conflito entre os países baixos e a Espanha, a relação de Portugal com a Holanda também é afetada[6]. As relações ficaram estremecidas principalmente no que diz respeito ao comércio[6]. Em 1624, houve as primeiras invasões em Salvador[6]. A região da Bahia era importante devido a produção açucareira e a posição estratégica, uma vez que era um ponto favorável para atacar as frotas espanholas[6]. A ocupação não co seguiu sair dos limites de Salvador[6]. Em 1625, após fortes combates, Salvador foi retomada[6]. No entanto, os holandeses decidiram investir esforços contra Pernambuco no final de 1628 e o ataque finalmente aconteceu com a conquista de Olinda.

Residiu em uma missão jesuítica, sendo doutrinado na fé católica e onde aprendeu o português e um pouco de latim[5]. Uma característica que marcou o personagem foi sua religiosidade, visto como fiel aos preceitos católicos. [7]

Camarão torna-se um dos exemplos de índio aldeado, ou seja, um índio visto como súdito do rei e integrado à colonização e os valores do novo mundo [8], elevando-se ao nível de participante da elite militar colonial[9].

Em meio às invasões holandesa, torna-se essencial para os lados participantes deste conflito a aliança com povos indígenas[10]. Visto isso, a Coroa portuguesa concedeu às lideranças indígenas benefícios e honrarias [11]. Nesse contexto, Portugal procura uma boa relação com Antônio Filipe [12], já que ele era um líder nativo [13] que sabia transitar pelo interior da Colônia [12], fator perigoso para a metrópole caso se aliasse a outro povo. [12]

Camarão sabia de seu poder de negociação tanto com os portugueses quanto com os holandeses, devido ao seu conhecimento das terras do sertão e um forte aliado, Rodela [14], que foi um líder nativo, situado próximo às margens do São Francisco e do Pajeú [15]. Este fornecia à Camarão pessoas para ingressar em seu exército [14]. Em suas negociações, a aliança de Filipe com os portugueses ocorria mediante a acordos e trocas de favores entre ele, a elite local e o governo metropolitano [16], enquanto o lado holandês também fazia suas ofertas para Filipe. Com algumas derrotas, como a da armada do conde da Torre e das tropas de Luís Barbalho, André Vidal e Henrique Dias, Camarão pensa em não retornar à guerra. Nassau, percebendo o abalo do líder nativo com a derrota em mar e em terra, propõe devolver a Filipe suas terras ocupadas pelos holandeses no interior.[17]

Quanto à sua trajetória, em 1645, Camarão parte para Pernambuco [18] para se juntar aos pernambucanos, fato que ocorre em agosto, após a vitória na Batalha de Tabocas [18]. Alguns dias depois, ruma para a batalha de Casa Forte. Junto aos holandeses, havia cerca de 200 índios, sendo o líder destes um parente de Filipe [19]. Após isso, entra no Rio Grande queimando as aldeias indígenas que encontrava em seu caminho, mesmo com envio de reforços por parte dos holandeses, o resultado foi desastroso para os flamengos [20], uma de suas estratégias era a queima de engenhos, impossibilitando o uso dessas terras por ao menos um ano. [12]. Em seguida, então, se dirige à Paraíba, indo ao encontro de André Vidal de Negreiros [20]. É surpreendido por um ataque holandês, o que gera perdas do lado português [20]. Diante disso, volta para o Rio Grande [20]. O exército decide, então, destruir as capitanias de Itamaracá e da Paraíba para impossibilitar seu uso pelo reforço de tropas holandesas [21].

Litografia em rótulo de cigarro com os quatro heróis: André Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira, Henrique Dias e Filipe Camarão

Em 1647, Camarão se encontra em  Pernambuco. Acredita-se que em meados da primeira quinzena de maio de 1648, Filipe faleceu [22], devido a uma febre maligna [23]  em decorrência da guerra contra os holandeses [24]. O cronista Diogo Lopes aponta que Camarão foi enterrado de acordo com a doutrina cristã [25]. Antônio Filipe Camarão faleceu com cerca de 68 anos e foi sepultado em Várzea, em Pernambuco [4]


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Incertezas sobre sua origem[editar | editar código-fonte]

A data e local [3] de origem de Camarão continuam inexatos por falta de dados históricos definitivos [3] . Seu local de nascimento foi objeto de controvérsia no oitocentos [26] momento no qual houve uma centralidade na figura do índio no Brasil [26] . Em meio a esse debate de sua naturalidade, Antônio Joaquim de Mello [27] defende que Camarão tenha nascido em Pernambuco. Para sustentar sua tese, Joaquim de Mello fundamentou sua argumentação com prova documental e com o relato de testemunhas oculares (os padres Manoel Calado e Rafael de Jesus) [28]. Outros autores, com base na pesquisa feita na Torre do Tombo, deduzem que Camarão residiu e não nasceu em Pernambuco [29]. Varnhagen (1816-1878), entre outros estudiosos, afirmou que Filipe Camarão não era pernambucano [28] e, sim, norte-rio-grandense [30] . O historiador  identificou a tribo indígena a qual Camarão pertencia e isso evidenciou, para ele, a naturalidade Norte-rio-grandense [31]. Já para alguns autores como Aires de Casal, Robert Southey, Joaquim Norberto de Sousa Silva, Basílio Quaresta Forreão, dentre outros, afirmam que Camarão nasceu no Ceará [28] .

A família Camarão[editar | editar código-fonte]

Quanto à família, sabe-se que Filipe casou-se [23] no mesmo dia do batismo na Capela de São Miguel de Guajerú [4] com Clara Camarão e deixou um filho [32] . Embora pouco se saiba sobre Clara, segundo algumas bibliografias, ela nasceu no Rio Grande do Norte, mas viveu em Pernambuco [33] . Em seu batizado no cristianismo, ganhou o nome de Clara e seu sobrenome vem de seu casamento. [33]

Também se sabe um pouco acerca de seu tio, Simão Soares, também conhecido como Jaguari. [34] A mulher e o filho de Simão chegaram a ser cooptados por holandeses, Jaguari passa para o lado dos holandeses para ajudar sua família, porém os flamengos deixam os três aqui e levam alguns outros índios para a Holanda. [34] Por conta dessa mudança de lado, Simão chegou a ser preso, mas, após jurar sua lealdade à Coroa, é solto e acompanha o seu sobrinho nas batalhas, inclusive ganhando mercês devido ao seu desempenho. [34]

Além de Clara, houve outros parentes de Camarão que participaram nas guerras, como Diogo Pinheiro Camarão, seu primo [34] . Dom Diogo Pinheiro Camarão acompanhou seu tio durante 40 anos [16] . Filipe Camarão cuidou de treinar seu sobrinho e apresentá-lo à Espanha e Portugal [35] . Devido ao reconhecimento de seus feitos, Diogo recebe honrarias: o cargo de administrador geral dos índios e o título de dom [35] . Após a morte de Filipe, Diogo se manteve na luta contra os flamengos [35]

Títulos recebidos[editar | editar código-fonte]

Uma visão romântica de Filipe Camarão, por Victor Meireles

Aqueles índios que eram beneficiados com honrarias e benefícios, ao usarem hábitos das ordens militares, obtinham o título de Dom e em vários casos recebiam uma tença[11]. Assim, em 1633, D. Felipe IV concedeu a Camarão o hábito da Ordem de Cristo, 40 mil réis de renda, patente de capitão-mor dos índios Potiguar com 40 mil réis de soldo[24]. Essas honrarias concedidas a ele são devido ao reconhecimento de seus méritos junto à Coroa [36]. A elite colonial não ofereceu resistência já que ele alcançou títulos desejados por todos. [36] Isso significou um degrau a mais no status social na colônia [36], a partir desse momento, Camarão passou a ter visibilidade nas questões militares na Colônia [37]

Terço[editar | editar código-fonte]

O terço dos índios de Pernambuco, também conhecido como terço de Camarão, foi criado em meados do século XVII, no momento em que a Coroa lidava com a invasão holandesa e [38] a ameaça externa ainda era um fator que preocupava a Coroa [24]. Era composto por 10 companhias de cada 100 homens cada, cada uma chefiada por um capitão e o terço era comandado pelo mestre de campo[38]. Foi estruturado em uma hierarquia militar somente de índios e teve como liderança D. Antônio Filipe Camarão na luta contra os holandeses [24]. Acima de toda essa hierarquia havia o capitão-mor e o governador das capitanias de Pernambuco, ocuparam dessa função parentes de Filipe Camarão.[24]

Aspectos Historiográficos[editar | editar código-fonte]

Quanto ao aspecto historiográfico, a obra de alguns cronistas permite entender como Camarão foi apropriado no século XVIII [39]. Usando como exemplo Domingos Loreto Couto (1700-1757), o autor exalta os feitos de Camarão nas guerras holandesas, enfatizando alguns aspectos do índio, como a bravura e a fidelidade [39]. Já o século XIX foi marcado pela definição de um projeto nacional através do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) [40]. A guerra contra os holandeses ganhou seu destaque sendo pensada através do romance nacional, ou seja, se abordou uma história contra o “invasor” estrangeiro, a mobilização das “três raças” pelo sentimento comum de pátria e o heroísmo [41]. Camarão recebe várias homenagens, pensa-se nele com confirmação das convicções indianistas [41] . Mesmo Varnhagen, influenciado pelas doutrinas raciais que eram elaboradas na Europa em seu contexto e contrário ao culto da herança ameríndia, vê Filipe como prova de que o bárbaro pode ser corrigido [42] .

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Elias, Juliana (2007), Militarização indígena na capitania de Pernambuco no século XVII: caso Camarão, Clio: Revista de Pesquisa Histórica 
  • Elias, Juliana (2005), A visibilidade do primeiro Camarão no processo de militarização indígena na capitania de Pernambuco no século XVII, Universidade Federal de Pernambuco 
  • Medeiros, Ricardo (2011), Concessão De Títulos Nobiliárquicos a Lideranças Indígenas Na América Portuguesa, Mosaico, 
  • Fagundes, Igor (2014), Felipe Camarão, um cavaleiro potiguar a serviço del Rei: memória, história e identidade nas guerras pernambucanas, século XVII, 7 Mares 
  • Souza, Márcia (2012), A Atuação Militar Dos Índios Na Conquista Do Sertão Do Norte Do Estado Do Brasil 
  • Costa, Bruno (2019), A retórica da naturalidade: a pátria de Felipe Camarão como um problema historiográfico 
  • Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte 
  • Fagundes, Igor (2016), A história do índio Antônio Felipe (Poti) Camarão 


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  1. Elias 2007, p. 116.
  2. Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
  3. a b c d e Elias 2005, p. 134.
  4. a b c Elias 2005, p. 135.
  5. a b Pereira 2014, p. 201.
  6. a b c d e f g h Fagundes 2016, p. 12.
  7. Pereira 2014, p. 202.
  8. Pereira 2014, p. 201/202.
  9. Elias 2005, p. 146.
  10. Medeiros 2011, p. 175.
  11. a b Medeiros 2011, p. 176.
  12. a b c d Elias 2007, p. 131.
  13. Elias 2005, p. 142.
  14. a b Elias 2007, p. 133.
  15. Elias 2005, p. 145.
  16. a b Elias 2007, p. 139.
  17. Elias 2007, p. 132.
  18. a b Elias 2007, p. 135.
  19. Elias 2007, p. 135/136.
  20. a b c d Elias 2007, p. 136.
  21. Elias 2007, p. 137.
  22. Elias 2007, p. 138.
  23. a b Pereira 2014, p. 203.
  24. a b c d e Medeiros 2011, p. 177.
  25. Elias 2007, p. 203.
  26. a b Costa 2019, p. 2.
  27. Costa 2019, p. 3.
  28. a b c Costa 2019, p. 4.
  29. Elias 2007, p. 119.
  30. Costa 2019, p. 8.
  31. Costa 2019, p. 12.
  32. Costa 2019, p. 203.
  33. a b Costa 2019, p. 204.
  34. a b c d Costa 2019, p. 205.
  35. a b c Elias 2007, p. 140.
  36. a b c Elias 2005, p. 141.
  37. Elias 2007, p. 123.
  38. a b Souza 2012, p. 3.
  39. a b Pereira 2014, p. 207.
  40. Pereira 2014, p. 207-208.
  41. a b Pereira 2014, p. 208.
  42. Pereira 2014, p. 208-209.