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História Natural[editar | editar código-fonte]

História natural é um termo que abarca diferentes perspectivas sobre um mesmo campo de estudos. As perspectivas atreladas a este campo a compreendem como uma disciplina cumulativa em que estudiosos tentavam desenvolver metodologias para lidar com a grande quantidade de informação que a natureza possuía e sintetizar o que se era possível conhecer dela em um tempo e espaço delimitados.

Atualmente, a perspectiva mais usual a entende como um conjunto variado de disciplinas científicas. A maioria das definições inclui o estudo dos seres vivos (ex.: biologia, incluindo botânica e zoologia), enquanto outras definições estendem o conceito até incluir a geografia, paleontologia, a ecologia ou a bioquímica, bem como partes da geologia e da física e até mesmo da meteorologia.

Neste campo, os estudiosos se propõem a entender as plantas e os animais que circulam o mundo, dando ênfase na experiência e na descrição minuciosa de seus objetos de estudo. A metodologia mais utilizada consiste em observar, interpretar, investigar e, por fim, relatar. Em vista disso, a quantidade de informação registrada antigamente era muito grande e demandava anos de organização o que, economicamente, tornava-se um campo de estudo caro. Nomes famosos como Aristóteles, Carlos Lineu, John Ray, Plínio e Charles Darwin foram alguns dos pesquisadores incluídos neste campo de estudos tão vasto.

Os naturalistas[editar | editar código-fonte]

As pessoas interessadas em pesquisar História Natural chamam-se naturalistas. Nomes como Aristóteles e Plínio são tidos como precursores na área. Eles iniciaram a preocupação em conhecer e registrar o mundo que os cercava. A partir da tradução e circulação de suas obras na Época Moderna, o interesse da comunidade científica no campo foi ampliado e, consequentemente, a própria História Natural. Mesmo com novas abordagens, os novos pesquisadores mantiveram-se conectados à Antiguidade e suas fontes, constantemente, liam as obras clássicas e as comentavam, fosse para apontar erros ou corroborar suas teorias.

Trabalhar com História Natural, nesse período, era tarefa árdua que demandava anos da vida de um naturalista. Um tipo de ciência que objetivava acumular, gradualmente, o máximo de conhecimento, para que dela se extraísse princípios gerais. Essas observações poderiam virar coletâneas, livros, manuais e, quando possível, almejavam a publicação de suas obras por entenderem que aquele conhecimento deveria se juntar aos demais, almejando um ideal de enciclopédia universal.

Com a sua popularização no século XVII, aumentava o número de obras extensas com muitas imagens, logo, os livros poderiam nunca chegar a uma casa impressora. Muitos de seus entusiastas, como os patronos e a própria Corte eram quem poderiam tornar realidade a publicação, mas, isso dependia de seus interesses pela obra do autor. O que tornava inédito aquela obra? É desse modo que a História Natural entre os séculos XVI até o XVIII parecia inesgotável. Sempre havia um novo elemento a ser descoberto e compartilhado no mundo europeu.

Os naturalistas mantiveram uma produção constante de registros, diários e cartas, que hoje são fontes importantes para trabalhar a História do Conhecimento desse período. Campo muito estudado, uma vez que a História Natural impactou, direta e indiretamente, áreas como a medicina, a agricultura, a geografia, a biologia, dentre muitas outras.

Sistemas de organização e o compartilhamento de informação[editar | editar código-fonte]

Com a crescente quantidade de informação registrada, surge um problema: a catalogação de tantos dados. Vários de seus estudiosos como Lineu, Ray e Bauhin se debruçaram durante anos de suas vidas neste problema. Eles percebiam que o tanto de informação que estava sendo gerada precisava de um sistema de organização para tornar-se inteligível. A partir desta problemática começam a surgir os modos de classificação dos seres vivos. Foi uma construção gradativa, cada naturalista possuía seu método de organizar suas informações a partir de padrões de organização. Lineu, por exemplo, começou utilizando cadernos, mas em um dado momento estava limitando suas anotações e, portanto, após muitos experimentos, criou o sistema de fichas. Além disso, nessa época, móveis são criados para armazenar as plantas, anotações e tudo o que fosse preciso. Vê-se um esforço muito grande de categorização do conhecimento da natureza coletivamente.

Dentro dessa comunidade a difusão e o compartilhamento do conhecimento descoberto era parte fundamental da dinâmica, por ser impossível viajar para todos os lugares e ficar grandes períodos para se fazer observações. Apesar de muitos estudiosos possuírem patronos ou incentivo das Coroas europeias, o tempo e o gasto necessário, tornavam uma tarefa improvável para a grande maioria. É nessa dificuldade que surgem os grandes herbários, enciclopédias, apotecários e gabinetes de curiosidades. Agora, os estudiosos não precisavam mais ir até os locais, os objetos vinham até eles. As plantas eram muito mais fáceis de transportar do que animais, logo, a presença do primeiro se sobressai ao segundo na Europa. Além disso, possuir herbários eram sinais de erudição na sociedade, o que tornava um incentivo para a construção dos mesmos.

Breve panorama entre o século XVI ao XIX[editar | editar código-fonte]

Nos séculos XVI e XVII, os naturalistas não questionavam o enciclopedismo como objetivo da História Natural, dividiam com os autores antigos a aspiração de descrever uma natureza universal a partir de livros clássicos e dos que ainda seriam escritos. A imagem do naturalista seguia atrelada à de um coletor e experimentador.

Ao final do século XVII, é possível ver um aprofundamento nos detalhes e no nível de precisão dos relatos. Agora, havia divisões e especializações dentro do campo para o enciclopedismo ser alcançado de maneira mais eficaz. Muito também em consequência da criação de novas tecnologias para observação e da expansão fronteiriça para as colônias. O que perdurou até os séculos XVIII e XIX, no qual o termo História Natural era usado com frequência, a fim de designar estudos científicos, para além da História política ou eclesiástica. Assim, a área incluía aspectos da física, da astronomia, da arqueologia e das demais já supracitadas.

A grande popularidade da História Natural na Época Moderna é visível pelo número de pessoas, entre o final do século XVI até XVIII, que faziam dessa área seu trabalho de vida, visto que a quantidade de informações novas dificilmente se encerraria. Com esse campo em constante expansão, a partir da segunda metade do século XVI, já é possível observar um crescimento nas possibilidades profissionais para os que se aventuravam a seguir esta ciência. Por exemplo, com as colônias, os viajantes eram incentivados a se tornarem grandes observadores dessa natureza desconhecida e descreverem em seus cadernos, já nas universidades europeias abrem-se vagas para professores de História Natural e botânica.

Apesar da História Natural ter sofrido mudanças significativas, é possível ver até hoje, em algumas instituições, o termo em seus nomes. Alguns exemplos são o Museu de História Natural, em Londres, o Museu Nacional de História Natural (parte da Smithsonian Institution) em Washington, D.C., o Museu Americano de História Natural em Nova Iorque (que publica uma revista chamada Natural History), etc[1]. Demonstrando o impacto que a História Natural teve na sociedade e nas comunidades científicas da Época Moderna, que ressoam até os dias atuais.

A História Natural e o Novo Mundo[editar | editar código-fonte]

Apesar do protagonismo europeu, o que classificamos como história natural não é um fenômeno exclusivamente do continente Europeu, podendo ser associado com as práticas de estudiosos de outras partes do mundo. Um exemplo são os honzougaku no Japão, que também catalogavam plantas e suas propriedades farmacológicas em herbários e enciclopédias entre os séculos XVI e XIX.

Com a expansão marítima, principiada pela Europa, a chegada em territórios desconhecidos chamou a atenção dos estudiosos pelas possibilidades que chegavam até eles. Quando as fronteiras do mundo europeu se expandiram, as do conhecimento também, e o período da Época Moderna expandiu o vocabulário da História Natural.

Cada colônia possuía suas relações únicas com a Europa, no entanto, um ponto em comum foi a troca de conhecimento gerada pela relação entre as regiões. Sendo um dos principais tópicos o conhecimento daquela natureza que os europeus desconheciam, quando o contato ultrapassou as fronteiras, modificou o conhecimento em voga. Muitas habilidades medicinais foram importadas para a Europa de suas colônias no Leste Asiático, nas Américas e na África, desde o século XVI, e exportadas para as colônias pelas missões franciscanas em locais como o México e jesuíticas em regiões da China, Japão e América portuguesa. Utilizavam do conhecimento da natureza para se comunicar e passar ensinamentos teológicos junto a filosofia natural para os nativos.

(Talvez o título ou estrutura da seção poderia ser alterado, fica um pouco confuso ser entitulado apenas "e o Novo Mundo" quando na realidede o seção se inicia falando sobre o Japãoe prossegue para falar sobre o continente asiático. Talvez renomear o capítulo para algo como "A História Natural fora da Europa"? A parte sobre o Japão também seria melhor no final da seção e não no começo)

A História Natural e a atividade social[editar | editar código-fonte]

Fora da Europa, a história natural também estava envolvida com as transformações sociais da época. No caso dos honzougaku japoneses, o Japão estava passando por um processo de “desencantamento” do mundo natural, no qual as crenças populares japonesas acreditavam que habitavam vários espíritos hostis aos seres humanos, sendo que as práticas xintoístas seriam uma maneira de pacificá-los. Porém, a monetarização da sociedade japonesa e o desenvolvimento de mecanismos mercantis tornaram possível o desenvolvimento de estudiosos profissionais como os honzougaku.

Enquanto isso na Europa, as universidades tiveram um papel fundamental no aprofundamento das pesquisas. Estudantes durantes suas férias de verão aproveitavam para viajar e observar a natureza. No entanto, era um campo trabalhado majoritariamente por homens. As mulheres em sua maioria não estavam inseridas nas comunidades universitárias de forma ampla e o trabalho que faziam relacionada à História Natural estava voltado para o âmbito doméstico.

(A questão da história natural no Japão é interessante, mas é possível que ela seja uma questão muito específica? Talvez isso gere problemas, já que a especificidade no Japão e na Europa indique que deveria ser feita menção de história natural em outras partes do mundo)

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Brown, Lesley (1993). The new shorter Oxford English dictionary on historical principles. Oxford: Clarendon press 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Allen, David Elliston (1994), The Naturalist in Britain: a social history, ISBN 0-691-03632-2, New Jersey: Princeton University Press.
  • Findlen, Paula (2006), Natural History, em DASTON, Lorraine; PARK, Katharine (Orgs.). The Cambridge History of Science. Vol. 3: Early Modern Science. ISBN 13-978-0521572446, New York: Cambridge University Press.
  • Liu, Huajie (2012), Living as a Naturalist, ISBN 978-7-301-19788-2, Beijing: Peking University Press.
  • Ogilvie, Brian W. (2008). The science of describing - Natural history in Renaissance Europe (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press.
  • Vogel, Klaus (2006), European Expansion and Self-Definition, em DASTON, Lorraine; PARK, Katharine (Orgs.). The Cambridge History of Science. Vol. 3: Early Modern Science. ISBN 13-978-0521572446 New York: Cambridge University Press.