Usuário(a):Luís Felipe Oliveira de Souza/Testes

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Desde os anos 1960 o pensamento afrocentrista vinha sendo formado. Com o advento da luta pelos direitos cibvis por parte dos negros americanos, lutas decoloniais na África, como em Etiópia e Gana, o pensamento antirracista caminhava para um caminho que não buscava apenas os direitos politicos, mas o direito pelo passado, pela cultura e de ser quem é. Isso influenciou, através das personalidades academicas e publicas famosas da época, vide Malcom X ou Muhammed Ali, nos protestos e lutas na América do Norte, bem como na musica e literatura.

A Soul Music americana, o rhythm and blues, disco, rap e outros ritmos tiveram influencia dos afrocentristas, em seus discursos, formas e vontades. Nos anos 1980, com o governo conservador de Ronald Reagan, a comunidade negra nos Estados Unidos, agora começando ase reconhecer e chamar-se de "afro-americana", teria o afrocentrismo como ponto de oposição ao liberalismo e conservadorismo na década, com agora novos ritmos musicais, funk, rap e modern rhythm and blues, como protagonistas, trazendo aquilo que havia começado a vinte anos, com a musica negra sendo instrumento de justiça social e denuncia.

1960: Curtis Mayfield, cantor e compositor de soul music, que, apesar ser consciente em relação aos direitos civis, foi um pouco critico ao pensamento afrocentrista. Em We are “We’re A Winner” (1967) e “Keep On Pushing” (1964) ele escreve para os afro-americanos terem orgulho de si e se manterem firmes, seguindo em frente. Depois de um tempo ele passa a dizer que negros e brancos são iguais, se não superiores, e que não devem temer o racismo e a branquitude (DAGNINI, 2008, p.4). Curtis influencio diversos artistas afrocentristas em África e Caribe, como um jamaicano chamado Bob Marley.

James Brown também detém uma das musicas mais afrocentristas do período: “Say It Loud – I’m Black and I’m Proud” (1968). Na musica, o "Rei do Funk " expõem um pensamento de orgulho negro, contando ainda com um coro de crianças, as quais respondiam quando Brown dizia "Say it loud" com "I'm black and I'm proud". Sam Cooke, ativista pelos direitos civis, compôs “A Change Is Gonna Come” (1964), que virou um hino para os manifestantes afro-americanos da época. A cantora Nina Simone também foi uma figura emblemática, com canções como “Old Jim Crow” (1964), contra as leis de segragação Jim Crow, “Why? (The King Of Love Is Dead)” (1968), sobre a morte de Martin Luther King e “To be Young, Gifted and Black” (1970), a qual se tornou um hino para os negros na América, com vários artistas negros fazendo covers. Nina Simone era muito ligada ao Pan-Afriocanismo.

1970: Com o fim do movimento pelos direitos civis no final dos anos 1960, a década de 1970 seria marcada por uma série de revoluções culturais, ainda com um pensamento de "consciência negra" e afrocentrismo. Os filmes de blaxploitation marcaram a época com um protagonismo negro frequente. Shaft (1971), dirigido pelo ativista Gordon Parks, Super Fly (1972) dirigido por Gordon Parks Jr. e Black Caesar (1973) de Larry Cohen são exemplos famosos do gênero. Apesar das controvérsias, incluindo o fato de serem filmes muito criticados pela imagem negativa de negros que apresentavam - vendedores de drogas, ladrões e cafetões - essas películas tiveram sua importância, auxiliando no aumento da presença e de obras feitas por pessoas de cor, com protagonismo, ganhando uma boa quantia em dinheiro e influenciando futuros diretores e roteristas em obras aclamadas, como Spike Lee, Quentin Tarantino, John Singleton e Ridley Scott. As trilhas sonoras de alguns filmes foram feitas por artistas famosos como Curtis Mayfield, James Brown e Isaac Hayes, conhecido também como "Black Moses" (DAGNINI, 2008, p.5-6)

Saindo do cinema e voltando para a musica, em 20 de agosto de 1972 a Stax Records organizou um grande concerto, reunindo diversos artistas do seu catálogo - oriundos da soul music e funk - em um grande concerto na cidade de Los Angeles, Califórnia. Reunindo mais de 100.000 pessoas, o evento foi um marco na história da musica, contando com muito otimismo e orgulho negro, sendo chamado de "Black Woodstock" (Woodstock negro). Outro grande evento com proporções afrocentricas e Pan-africanas foi a turnê de James Brown pela África, criando uma espécie de ponte entre os afro-americanos e africanos. The Last Poets (Os Últimos Poetas) foi um grupo de poetas e musicos afrocentrados, os quais são citados até mesmo como pioneiros do hip-hop. Marvin Gaye, com os albuns What’s Going On (1971) e Let’s Get It On (1973) teve reconhecimento por ótimos discos de protesto.

1980: Nos anos 1980 o destaque vai para o hip-hop, concentrando todos os pensamentos de orgulho negro, Pan-africanismo e consciência negra, agora somados a uma nova linha de pensamento antropológico, historiográfico e filosófica que havia surgido para contrapor o eurocentrismo em um período conservador: o afrocentrismo. O artista escolhido para descrever este momento no pensamento negro é Afrika Bambaataa.

Afrika foi um dos pioneiros do hip-hop, ao lado de The Last Poets, DJ Kool Herc e Grandmaster Flash. Inspirado nas figuras do Chefe Zulu Bambaataa e do guerreiro lider dos Zulus no século XVIII Shaka Zulu, trocou seu nome após uma viagem a África. Afrika lançou em 1982 “Planet Rock”, canção que viria a expandir o hip-hop para o globo, o que viria a resultar mais tarde em uma "turnê", quando ele e outros dançarinos, DJs e grafiteiros sairam dos Estados Unidos, espalhando sua cultura e influenciando diversos outros artistas. Bambaataa influenciou gerações de artistas conscientes no hip-hop, entre eles Queen Latifah, a qual uma vez disse " “To me Afrocentricity is a way of living...It’s about being into yourself and into your people and being proud of your origins.”. Essa fala resume bem a forma como o pensamento afrocentrado se dispersou na cultura, principalmente nos anos 1980.

Vale apena mencionar também as duas bandas de Hip-hop, formadas no final dos anos 1980, mais emblemáticas e controversas: Public Enemy (PE) e Niggaz With Attitude (NWA). Os grupos são conhecidos por suas fortes criticas contra o racismo, o Establishment branco, a violência policial e um protesto em prol de uma comunidade afro-americana. O segundo álbum de estudio de PE, Fear Of A Black Planet (1990), criticando o racismo nos Estados Unidos nas esferas culturais, sociais e políticas, denunciando a virulência da policia, representada como uma máquina de extermínio. NWA acaba poor tecer criticas parecidas com a de PE, voltadas no combate a supremacia branca, em um emaranhado de polêmicas, como o fato de o FBI ter pedido para que a banda parasse de lançar raps com criticas tão ácidas e fortes. A musica "Fuck Tha Police" (1988), denunciando a violência policial, é uma de suas mais conhecidas obras.

1990 e 2000: Nessas ultimas décadas o pensamento afrocêntrico continuou presente na musica. O grupo de Hip-hop Arrested Development, ganhador do Grammy de 1992 com o álbum "3 Year, 5 Months & 2 Days in the Life of...", com faixas que apreciam a beleza da mulher africana, das roupas e da cultura. O grupo influenciou diversos outros, como The Roots, The Fugees e Erykah Badu.


AFROCENTRISMO

O CONCEITO:

O afrocentrismo é caracterizado como um movimento de integração e assimilação cultural africana, incutindo a origem da civilização ocidental e cultura do continente africano no Egito Antigo. Molefi Kete Asante foi um de seus autores mais influentes com seu Afrocentricity (1980) e The Afrocentric idea (1987) nos anos 1980, baseada nos estudos de Cheikh Anta Diop e Obenga, na tentativa de criar uma história comum para um continente, nas palavras de Hegel, “sem história”.

Sua origem pode ser traçada no ano de 1968, após uma cisão no African Studies Association (ASA), organizada em sua maioria por estudiosos brancos. Neste momento John Clark funda a African Heritage Studies Association (AHSA) formada por negros (####)**. Clark foi um dos primeiros a falar de fato de afrocentrismo. O próprio contexto da época, com a independência de diversas colônias na África, a luta contra o racismo efervescente nos Estados Unidos em diversas frentes na sociedade, levou ao surgimento de tal metodologia.

George G. M. James e seu “Stolen Legacy” (1954) fundaram algumas das ideias anteriormente e foram fonte para diversos estudos posteriores, mas Clark foi um dos primeiros, junto com Diop e Obenga nas áreas linguísticas e culturais, a entrar em uma incursão, buscando uma história comum e universalizante para a África, em um contexto decolonial e na tentativa de um pan-africanismo, em oposição ao eurocentrismo ou uma narrativa de judeus “canaaitas”, os quais pensavam um pan-hebraísmo (SHAVIT).**

A própria África buscava entender seu próprio passado. Nessa conjuntura, Ki-Zerbo organiza o primeiro volume da General History of Africa, criando não só uma historização, no ponto de vista decolonial, do continente como também uma discordância para com os afrocentristas. A hierarquização das fontes proposta por Ki-Zerbo, colocando como essenciais para o estudo aqueles que corroboram para caracterizar semelhanças entre os povos, contrariava os afrocentristas, os quais decidiam por traçar relações linguísticas e de cor de pele entre os povos e posicionando os egípcios como o centro dessa diversidade material.

Essa metodologia culminaria no afrocentrismo de Asante, “Egitocêntrico”, ou seja, a origem da civilização no ocidente, de sua cultura, ciência, filosofia e ética, influenciando e depois sendo supostamente copiada por filósofos helênicos. O Egito seria a base de diversas discussões e teorias dos afrocentristas, inclusive realçando a importância da egiptologia, despertando interesse nos novos alunos (ROTH).

Alguns afrocentristas defendiam a idéia de que Sócrates era negro, que o monoteismo teria suas raizes em África, junto com uma ética elevada e superior as demais civilizações da época, desenvolvendo a pacificidade e até mesmo invenções como planadores (SHAVIT). Essas “provas” como tantas outras, de cunho artístico, cultural e linguístico foram alegadas incansavelmente pelos afrocentristas e criticadas e refutadas por seus opositores, chamando o afrocentrismo de utopia.

A refutação das ideias no campo filosófico começa no fato de não existirem provas conclusivas de que Sócrates era negro, Aristoteles ter roubado idéias da Biblioteca de Alexandria seria um enorme anacronismo, pois esta só veio a ser construida depois da sua morte. A antropologia também foi utilizada como argumento, para estabelecer uma origem egípcia e uma comunidade africana.

A arte também é utilizada como forma de estudar e compreender o tom de pele egipcio através dos desenhos. Essa alegação pode ser refutada pelo fato de existirem outros motivos, mais plausíveis, como simbolismo, representação de inimigos. As fontes literárias utilizadas se baseiam nos escritos de Heródoto, Diodoro de Sicília, Gaston Maspero e a Bíblia. Os críticos descredibilizam essas fontes, pela falta de critérios de Heródoto, até da própria veracidade da Bíblia,  das fontes apenas gregas, e não egípcias, utilizadas por Diodoro de Sicília.

As questões culturais são abordadas pelos afrocentristas de maneira indireta, como uma forma de conexão entre esses povos. O totemismo, a circuncisão e a kingship (monarquia) podem ser elementos compartilhados, porém, para os críticos, são elementos ambíguos e superficiais.  Anta Diop sugere uma característica linguística comum em África, uma origem padrão, compartilhada com diversas raízes no Egito. Estudos recentes refutam, mais uma vez, essa ideia, pois elas se originaram em outras regiões.

A ideia de difusionismo, melhor retratada em Black Athena de Martin Bernal, explora a ideia de uma não “eurocentralidade” no pensamento filosófico e científico clássico. Os conhecimentos egípcios, de forma resumida, teriam se difundido pelo mediterrâneo, através do comércio, viagens, guerras e conquistas. Essa teoria, apesar de parecer válida com os registros, foi extremamente criticada na época que foi lançado o livro.

O pensamento afrocêntrico pode parecer, num primeiro momento, um oposto simétrico ao eurocentrismo, utilizando teorias “facilmente, com a devida vênia, refutáveis e extremamente questionáveis, por tentar centralizar toda uma cultura de um continente em uma única civilização. Contudo, o afrocentrismo vai além, não é apenas uma utopia, ou um simples trabalho acadêmico, é um grito contra o imperialismo, o racismo é um pensamento anti comunitário e agressor de sua época. O  eurocentrismo, na verdade, é uma maneira de enxergar o cânone histórico a partir dos olhos de quem nunca teve história.

             

Shavit, History in Black: Uma discussão entre um pan-hebraísmo e o eurocentrismo, como essas historias universalizantes se conectam no âmbito social, numa luta de judeus e negros nos suburbios Estados Unidos. Diferentes padrões de aculturação na sociedade afro-americana.

afrocentrismes: Já Mary R. Lefkowitz reitera suas críticas anteriores ao afrocentrismo e resume lado a lado, para comparação, o que ela chama de “a narrativa afrocêntrica” e “a narrativa eurocêntrica” da história da Antiguidade.25 Esse procedimento tem um grave defeito: na pressa de refutar o afrocentrismo, reproduz exatamente a polarização artificial e essencialista proclamada por muitos intelectuais afrocêntricos (“afrocentrismo” versus “eurocentrismo”, como se nada existisse fora dessa oposição, e como se estivessemos todos obrigados a ser ou “eurocêntricos” ou “afrocêntricos”). Em outro capítulo, Bernard Ortiz de Montellano faz uma resenha crítica das evidências apresentadas por escritores que argumentam em favor da existência de contatos pré-colombianos entre a África e a América. Ele devota atenção especial às famosas esculturas conhecidas como “cabeças olmecas”, com frequência descritas como representações realistas de personagens “negroides”que teriam estado presentes na América pré-colombiana. ( p. 325)

Wim van Binsbergen (pp. 130, 145-146) argumenta em favor do potencial libertador do empreendimento intelectual de Bernal no contexto da política global do conhecimento em nossa era. Ele vê Black Athena como um projeto que é vasto demais para um único estudioso, mas que necessita urgentemente de ser levado a cabo por uma equipe interdisciplinar (p. 327)

Paul Cartledge (pp. 49, 52-53, 55-61), embora simpático em princípio à posição de Bernal em relação à política do conhecimento, vê o projeto Black Athena como um fracasso político de pouco uso para as populações de origem africana e asiática. Segundo seu diagnóstico, isso decorre em grande parte do já superado modelo “científico” de historiografia adotado por Bernal, e de sua percepção limitada do complexo funcionamento da ideologia tanto no tempo de Heródoto como na Europa do século XIX. A questão anti-racista provocada por Bernal teria trazido efeitos contrários. A obra afrocentrismes teve uma resposta originada na Califórnia em formato de livro por Théophile Obenga. Os criadores acabaram por ser chamados de racistas, eurocentristas ou desonestos, perdendo assim uma oportunidade de debate produtivo.

Em vários trechos (ver p. 19, 84, 103, 112), The Painful Demise of eurocentrism declara que a “Afrocentricidade” consiste na “apresentação apropriada de informação factual numa sociedade multicultural”, na “correção histórica”, e no ensino da “verdade”: “tudo deve ser passado na peneira da dúvida até chegarmos ao leito sólido da verdade”. Os afrocentristas não têm “proposto uma história falsa” e, se alguma vez chegam a especular, fazem isso de acordo com os protocolos geralmente obedecidos pela “análise científica”. O eurocentrismo seria substituir uma narrativa hegemônica por outra mais aceitável cientificamente e factual em um mundo multicultural. (farias, p.327). Tudo é examinado através do olhar do africano.

We Can’t Go Home, Clarence E. Walker: Walker pertence a uma linhagem intelectual que tem raízes na tradição socialista americana, e que foi recentemente categorizada como “transformacionista”. Na verdade, o livro de Walker é um longo e vigoroso libelo contra o afrocentrismo centrado no Egito antigo, nele denunciado como uma ideologia “desabilitante” (disempowering) por várias razões (pp. xxv, xxvii, 36-37): por sua concentração sobre “reabilitação psicológica” e atenção insuficiente às “barreiras estruturais que os negros têm historicamente enfrentado nos Estados Unidos”; por sua visão de uma “cultura africana unificada que transcende tempo e espaço”; por sua retórica que “privilegia o sincrônico em relação ao diacrônico”; por sua “ilusão de que nos possamos reencaixar em um passado que jamais existiu”; e pela “escassez de evidência empírica” apresentada em apoio a suas doutrinas. Walker recusa-se a usar o termo “African-American” e em vez disso usa “Negro” e “Black” (ver p. xv, xxv, 60). Rejeita os estudos de “negros fabricados na América”, e volta seus estudos para gente africana (Africalogia), colocandosse contrario a uma ideia Kemética. Walker intervém no debate sobre os efeitos psicológicos da escravidão e da discriminação racial, e sobre o que tem sido chamado de “teoria da ‘psique negra danificada’”,60 com uma crítica ao que ele chama de “mitologia terapêutica” afrocêntrica (pp. xxvi, 77-79, 93). Ele opina que “historicamente, os negros foram oprimidos na América não porque lhes faltasse auto-estima, mas porque eram negros”, e que a “obsessão do afrocentrismo com a antiguidade foge dessa questão”, e também foge de questões outras tais como os conflitos de classe na África do passado e do presente, as cumplicidades africanas no tráfico de escravos, e a comercialização de escravos por muçulmanos — ocupando-se somente da denúncia do tráfico perpetrado por cristãos e judeus.


Música[editar | editar código-fonte]

O afrocentrismo não esteve resguardado apenas ao ambiente acadêmico, tendo relações com a cultura afro-americana, africana e, até mesmo, o carnaval brasileiro. O movimento intelectual começou a se projetar na cultura de massa nos anos 1960, com o advento da luta pelos direitos civis por parte dos negros estadounidenses, lutas pela descolonização na África, como em Etiópia e Gana. O pensamento antirracista não buscava apenas os direitos políticos, mas o direito pelo passado, pela cultura e de ser quem é .

Desde a soul até o hip-hop nos anos 1980 e 1990, existia uma reprodução de um discurso de orgulho da negritude e afrocentrado, no combate ao racismo e violência na américa do norte. Nos anos 1980, com o governo conservador de Ronald Reagan, a comunidade negra nos Estados Unidos, agora começando a se reconhecer e chamar-se de "afro-americana", teria o afrocentrismo como ponto de oposição ao liberalismo e conservadorismo na década, com agora novos ritmos musicais, funk, rap e rhythm and blues, como protagonistas, trazendo aquilo que havia começado há vinte anos, com a música negra sendo instrumento de justiça social e denúncia da violência sofrida.

Década de 1960[editar | editar código-fonte][editar | editar código-fonte]

Durante essa primeira década, com o advindo do Pan-Africanismo, a repercução das guerras por independência na na África e dos movimentos contrários as leis Jim Crow e os protestos a favor dos direitos civis. O afrocentrismo começava a dar seus primeiros passos no meio acadêmico, com Cheik Anta Diop, Marcus Garvey e Elijah Muhammad publicando seus primeiros trabalhos no calor desse momento, pensando sobre a história da população africana no continente de origem e nas Américas com o decorrer da diáspora. Diop em suas pesquisas reconciliar a África com sua imagem e passado e prepara-la para o futuro, encaminhando as novas gerações em um ambiente inspirador em relação a sua história (DIOP, 1974, p. 14-17). Existem diferenças entre as pesquisas acadêmicas e as músicas e peculiaridades dos artistas aqui apresentados. O afrocentrismo, nesse momento, aparece como um elemento de inspiração para estéticas mais africanizadas. A partir desta década, a comunidade afro-americana tende a cada vez mais procurar na sua própria história e culturas, fora dos moldes europeizantes, soluções para as dificuldades envolvidas com o racismo do presente (BLATCHER (20, Kroubo).

Nos anos 1960, em meio às lutas antirracistas e em prol dos direitos civis nos Estados Unidos. James Brown também detém uma das músicas mais afrocentristas do período: “Say It Loud – I’m Black and I’m Proud” (1968). A música transborda uma forma de empoderamento e subversão. O "Rei do Funk" expõem um pensamento de orgulho negro, contando ainda com um coro de crianças, as quais respondiam quando Brown dizia "Say it loud" com "I'm black and I'm proud", se orgulhando de sua étinia e origem. Ele racializa o discurso, afirmando que a negritude é orgulhosa de si e de seu passado. Através disso, ela exige mudanças nos paradigmas raciais, contracenando com o ambiente político anteriormente descrito.

A cantora Nina Simone também foi uma figura emblemática, com canções aclamadas como “To be Young, Gifted and Black” (1970) e "Four Women" (1965). De acordo com Molefi Asante, o "afrocentrismo seria colocar os ideais africanos no centro de qualquer discussão que envolva a cultura africana e seu comportamento" (1998, p.2). Simone exemplifica essa situação culturalmente de uma forma especifica. Ela era pan-africanista e apoiava publicamente as lutas por independência no continente e a união da África. Nesse contexto ela recebe certa influência afrocentrista, buscava compreender em "Four Women" (1965) como a cor de pele aprisiona. Na música são apresentadas quatro mulheres com tons de pele diferentes e consequentemente violências diferentes. Contudo, na visão de Simone, isso as une. Logo, em uma análise estética, isso a torna afrocentrada por discutir as agressões sofridas por essas mulheres (e ela mesma) a partir dos termos dos próprios afro-americanos, adentrando em sua psique e sensações em relação ao racismo, procurando sobrepor estes obstáculos íntimos (Blatcher, 2005, p.195-202).

Por outro lado, "To Be Young Gifted and Black" (1970) releva um grau de esperança e retoma aos movimentos de resistência contra o racismo, personificados na juventude negra estadounidense. É uma canção de protesto, voltada à empoderar e gerar nos afro-americanos uma espécie de consciência negra e orgulho de ser quem é, como uma resposta positiva necessária e centrada na negritude (BLATCHER, 2005, p.208-213). A consciência negra, o estabelecimento de filosofias afrocentradas e sua vasão na cultura popular negra, personalidades famosas (Martin Luther king Jr., Malcolm X, Muhammad Ali) e envolvidas nos inúmeros protestos pelos direitos civis, pavimentaram o caminho para a popularização do afrocentrismo na década de 1980.

Década de 1980 e 1990[editar | editar código-fonte]

Os anos 1980 protagonizavam uma dispersão do afrocentrismo. Isso ocorria pela década ser marcada por uma forte onda conservadora, culminando na eleição de Ronald Reagan para a presidência. Em contra partida, a cultura urbana negra nos Estados Unidos exercia outro imaginário, focado no protagonismo de suas histórias, vidas e sofrimentos, contrários ao status quo branco e conservador. O afrocentrismo surge para esses grupos como um pensamento não europeizante e inversor da pirâmide histórica. A partir de seus postulados, a origem filosófica, civilizacional e cientifica não era de propriedade da antiga Grécia e Roma, e sim no Egito e Núbia antigas. As demandas e interpretações da população na época, principalmente aquela embarcada no meio cultura (Grafite, Hip Hop, Break e Rap) observavam o mundo e suas existências a partir desse viés, alterando de maneira íntima e ao mesmo tempo coletiva suas formas de expressão. Contudo, existem lacunas, o afrocentrismo não é compreendido em toda a sua essência acadêmica por esses artistas, todavia apresentam certa influência em suas estéticas e usos da história e cultura de África. (KROUBO)

Isso influenciou diversos artistas conscientes no hip-hop, entre eles Queen Latifah, a qual uma vez disse "Para mim afrocentrismo é uma forma de viver...é sobre ser você mesmo e com a sua gente e estar orgulhoso das suas origens."  Essa fala resume bem a forma como o pensamento afrocentrista se dispersou na cultura afro-americana dos anos 1980. Latifah utilizava roupas e pensamentos voltados a África, como pode ser visto no videoclipe de "Ladies First" (1989), com um forte cunho feminista negro. O clipe mostra cenas da África do Sul e a cantora com roupas tradicionais do continente. Ela, com o vídeo e as rimas da canção, honrava seus ancestrais, honrava um ideal de um continente africano racializado e visto a partir da ótica estadounidense. O discurso dessa geração de artistas vai além da simples critica ao racismo, agregando novas falas, estéticas que discutiam a cultura e história dos afro-americanos, termo o qual surgiu naquela época, através de seus próprios critérios e características. Isso criava uma forma de existir e ser totalmente diferente.

Afrika Bambaataa foi um dos pioneiros do Hip Hop, ao lado de The Last Poets, DJ Kool Herc e Grandmaster Flash. Tinha um modo de vida afrocentrado, incluindo suas roupas, aparência e a troca de seu nome, inspirado nas figuras do Chefe zulu Bambata e do guerreiro lider dos Zulus no século XVIII Shaka Zulu, após uma viagem a África.  Afrika é também o fundador da Universal Zulu Nation, uma fundação criada no inicio dos anos 1970 para combater o crime e que depois de 1980 ganhou proporções mais pacificas e afrocentradas. No portal da fundação na internet é possível ler biografias produzidas por eles sobre diversos intelectuais africanos e afro-americanos, como Cheik Anta Diop. Em 1982 lançou “Planet Rock”, canção que viria a expandir o hip-hop para o globo, o que viria a resultar mais tarde em uma "turnê", quando ele e outros dançarinos, DJs e grafiteiros saíram dos Estados Unidos, espalhando sua cultura e influenciando diversos outros artistas. Mais uma vez, a ótica afrocentrada fixa um ponto de origem e orgulho, um começo para a memória desses povos em África através de grandes figuras de resistência e um passado grandioso. Isso influencia seus modos de vida de maneira intima, em contra partida a estéticas e estilos eurocêntricos. Ao mesmo tempo, agregam uma comunidade consigo, espalhando essas ideias no coletivo. (KROUBO, BLATCHER).

As concepções do afrocentrismo acabaram por atravessar a fronteira dos Estados Unidos e aportar na cultura popular brasileira. São exemplos a musica "O Faraó" (1987), popular no carnaval da Bahia e o Axé brasileiro. Ambos reproduzem a tese dos afrocentristas de um Egito predominantemente negro; alicerçadas em uma reverencia para a civilização antiga, apropriada em uma cultura afro-brasileira como uma forma de resistência aos preconceitos vividos no país.  

Por fim, no inicio dos anos 1990, Michael Jackson leva à televisão o clipe de "Remember The Time" (1991), faixa do albúm Dangerous. O vídeo reproduz, imageticamente, o imaginário afrocentrista da época, com um Egito predominantemente negro, tal qual as propostas de Diop e Asante.

Usos publicitários[editar | editar código-fonte]

O afrocentrismo não acabou por influenciar apenas a musicalidade negra, outro exemplo da mesma época e conhecido na cultura de massa estadunidense foi a campanha publicitária da Budweiser "Great Kings of Africa". A peça publicitária foi produzida de fevereiro de 1976 ao ano 2000, com diversos reis e rainhas africanas, indo além do próprio Egito, até outras grandes civilizações, como a Núbia, o Império do Mali e o Rei Aníbal Barca de Cartago. O texto apostava não apenas no aumento das vendas para o público negro, mas em quais seriam as reações do publico jovem negro e as inspirações que geraria ao ver grandes reis e rainhas racializados e imaginados como pessoas negras, tal qual no século XX. O elemento de orgulho, inspiração e busca por uma origem retoma mais uma vez.