Wilson dos Santos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Fernando Wilson Fernandes dos Santos (Benguela, 3 de novembro de 1951 — Jamba-Cueio, novembro de 1991)[1][2] foi um advogado, cientista social, político e diplomata angolano.[3]

Teve uma profícua carreira no serviço diplomático da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), à época um grupo rebelde de Angola.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido na cidade de Benguela, era filho de Arnaldo Jesse Alfredo dos Santos e Maria das Dores Fernandes dos Santos.[5] Nesta cidade estudou nas escolas primárias Nº 30 e Colégio Padre Vicente, e sua educação secundária foi feita no Liceu Nacional Comandante Peixoto Correia (atualmente Escola Secundária Comandante Cassange).[5]

No final da década de 1960 muda-se para Lisboa para estudar direito na Universidade de Lisboa, transferindo seu curso posteriormente para a Universidade de Coimbra, onde o conclui.[5] Ainda em Lisboa, filia-se à UNITA após ter acesso à publicações do partido que chegavam até a cidade trazidos por estudantes angolanos.[5]

Em 1972 muda-se para a Suíça para matricular-se num curso de ciências sociais no Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais de Genebra.[5] Sua primeira função no partido é como secretário administrativo da UNITA, em agosto de 1972, e representante da organização na Federação dos Estudantes Negros na Suíça no mesmo ano.[5] Trabalha também para divulgar a luta nacionalista da UNITA em outros cículos intelectuais suíços.[5]

Em 1974 é designado por Jonas Savimbi para integrar as comissões de negociações com Portugal sobre a independência angolana[5] tornando-se, em seguida, representante-geral da UNITA no país e secretário de informação.[5] No mesmo ano é nomeado delegado do partido em Luanda para acompanhar a formação do governo de transição.[5]

Em Luanda, em 1975, acaba por ser alistado para as batalhas finais da independência angolana,[5] galgando posição de coronel das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA).[5] A derrota militar o fez integrar a "Longa Marcha" até a base partidária de Sandona (Moxico).[5] Lá, Savimbi realizou uma conferência da UNITA na qual, em 10 de maio de 1976, foi lido o "Manifesto do Rio Cuanza", onde foi nomeado representante do partido no Senegal.[5]

Foi designado pelo partido a receber treinamento nos Marrocos em 1978, ano que retornou à Angola.[5] Foi nomeado vice-secretário de informação do partido, cargo que ocupou até 1981.[5] Neste ano, é enviado para servir como representante da UNITA na Bélgica.[5] No anos seguinte volta a ser representante do partido em Portugal.[5]

Em 1985 volta a Angola para ser nomeado para chefiar as funções de informação da UNITA, ocupando-se destas atribuições até o final da década de 1980.[5] Passa a chefiar a secretaria de cooperação internacional, mudando-se para os Estados Unidos em 1989, para trabalhar com Tito Chingunji.[5]

Morte e investigação[editar | editar código-fonte]

Estava trabalhando nas estruturas do partido nos Estados Unidos quando foi convocado por Savimbi para comparecer na localidade de Jamba-Cueio.[3] Ali foi acusado de participar da intentona para tomada de poder na UNITA.[3] O jornalista britânico Fred Bridgland, biógrafo do líder da UNITA Jonas Savimbi, afirmou que este tramou uma emboscada e ordenou o assassinato de Dos Santos[6] para punir uma possível tentativa traição política de Tito e Dos Santos.[3]

A causa e a forma da morte Wilson dos Santos, em novembro de 1991, são desconhecidas.[7] Além de Fred Bridgland, na década de 1990, o Ministro das Relações Exteriores da UNITA, Tony da Costa Fernandes, e o Ministro do Interior da UNITA, general Miguel N'Zau Puna descobriram e tornaram público o facto de Jonas Savimbi ter ordenado os assassinatos de Santos e Tito Chingunji.[8] As mortes de Wilson dos Santos e Tito Chingunji e as deserções de Fernandes e Puna enfraqueceram as relações da UNITA com os Estados Unidos[8] e prejudicaram a reputação internacional de Savimbi.[8] Savimbi negou as acusações.[9]

Sua esposa Helena Jamba Chingunji dos Santos também foi morta no episódio.[3]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Foi casado com a irmã gêmea de Tito Chingunji, Helena Jamba Chingunji dos Santos.[3] Seu cunhado Tito[3] era chefe das Relações Exteriores da UNITA e estrategista político do partido. Ambos lutaram contra o governo de José Eduardo dos Santos na Guerra Civil Angolana.[10]

Referências

  1. Brittain, Victoria (1998). Death of Dignity: Angola's Civil War. Pluto Press (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-7453-1247-7 
  2. Minter, William (1994). Apartheid's Contras: An Inquiry Into the Roots of War in Angola and Mozambique. William Minter (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-85649-266-9 
  3. a b c d e f g A saga dos Chingunji. Nação Ovimbundo. 7 de julho de 2009.
  4. Summary of World Broadcasts. BBC Monitoring Service, 1959.
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t UNITA (1990). The UNITA Leadership. Jamba: União Nacional para a Independência Total de Angola. p. 77-78 
  6. «UN prepares to withdraw MONUA». OCHA/UN. Angola Peace Monitor Issue. 5 (5). 22 de janeiro de 1999 
  7. «Savimbi accepts responsibility for death of two UNITA officials». UPI (em inglês). Consultado em 28 de novembro de 2019 
  8. a b c Marcelo Bittencourt Ivair Pinto (julho de 2016). «As eleições angolanas de 1992». Irati. Revista TEL. 7 (2): 170-192. ISSN 2177-6644 
  9. Meredith, Martin (2005). The Fate of Africa: From the Hopes of Freedom to the Heart of Despair: A History of 50 Years of Independence. [S.l.: s.n.] 
  10. Kukkuk, Leon (2005). Letters to Gabriella. [S.l.: s.n.]