Zuísmo

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Um altar zuísta dedicado a Pazuzu pertencente a um praticante americano de cultos mesopotâmicos.
A Bíblia Anunnaki do zuísmo marduquita.

O Zuísmo (em árabe: الزوئية al-Zuiyya; em inglês: Zuism), também chamado Neopaganismo sumério-mesopotâmico e Neopaganismo semítico-cananeu, ou Natib Qadish (em ugarítico: ntb qdš 𐎐𐎚𐎁𐎟𐎖𐎄𐎌), é um grupo de movimentos neo-pagãos de tradição suméria-mesopotâmica e semita-cananéia. Existem grupos zuístas nos Estados Unidos, Europa Ocidental, Europa Oriental e Oriente Médio.[1]

Suas origens podem ser traçadas aos neopagãos húngaros das décadas de 1960 e 1970, notadamente na obra do assiriólogo Ferenc Badiny Jós (1909–2007), que fundou uma "Igreja Húngara" zuísta e foi o autor da Bíblia magiar.[2][3] O Neopaganismo mesopotâmico tem também foi cultivado pelo autor esotérico americano Joshua Free, que divulgou suas doutrinas desde 2008 sob o nome de "Zuísmo marduquita".[4]

Na Islândia, uma organização zuísta local, a Zuism trúfélag, oficialmente reconhecida pelo estado em 2013, foi usada para contornar o imposto sobre religiões e protestar contra os laços entre religião e estado.[5] A maioria dos adeptos são jovens, conectados à Internet e pessoas já desvinculadas do Cristianismo.[6]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

A palavra "Zuísmo" vem do verbo sumério zu 𒍪 (acádio: idû), que significa "saber", "conhecer".[7] "Zuísmo" significa, portanto, "religião do conhecimento", e a palavra foi usada pela primeira vez pelo zuísta americano Joshua Free em meados dos anos 2000.[4] As palavras natib e qadish vêm do idioma ugarítico, idioma na antiga cidade-estado cananéia de Ugarit. Natib significa "caminho" e qadish significa "sagrado". Juntos, Natib Qadish significa, portanto, "caminho sagrado". Os seguidores desta religião são chamados de qadish, no plural qadishuma, e os sacerdotes, homens e mulheres, são chamados respectivamente de qadishu e qaditshu.[8]

Tipos de Zuísmo[editar | editar código-fonte]

Zuísmo húngaro[editar | editar código-fonte]

O primeiro movimento zuísta organizado foi iniciado pelo assiriólogo húngaro Ferenc Badiny Jós (1909–2007), Ida Bobula,[9] e outros autores como Tibor Baráth, Victor Padányi e András Zakar,[10] nas décadas de 1960 e 1970 entre os neopagãos húngaros que procuraram conectar as origens dos húngaros com os antigos sumérios.[9] Ferenc Badiny Jós, que emigrou para Buenos Aires, Argentina, fundou uma "Igreja Húngara" (Magyar Egyház) de tradição suméria, cujo legado continua até hoje entre os zuístas (neo-pagãos sumérios) na Hungria.[2] Um importante legado de Badiny Jós é sua Bíblia Magiar de tradição suméria.[3]

Zuísmo marduquita[editar | editar código-fonte]

Altar de um zuísta marduquita canadense. Apresentado na capa do Book of Marduk está o merkabah (carruagem) zuísta, o meio de conexão com os sete Anunáqui e a trindade suprema (Anu, Enlil, Enki).[11]

O Zuísmo marduquita (Mardukite Zuism) é uma doutrina zuísta fundada pelo autor esotérico americano Joshua Free em 2008 e incorporada pela "Igreja Fundadora do Zuísmo Marduquita" (Founding Church of Mardukite Zuism).[4][12] Seus livros religiosos incluem a Anunnaki Bible New Standard Zuist Edition, o Mardukite Zuist Necronomicon, The Power of Zu e os muitos outros escritos sobre teoria e prática do mesmo autor. Joshua Free define o Zuísmo como uma "sistemologia" e "tecnologia espiritual" para a auto-realização, ou seja, a reunião do eu com Deus, e, além de "conhecimento", ele dá a zu o significado de "consciência", e a interpreta como a energia radiante que permeia todos os seres vivos.[13]

Zuísmo iraquiano[editar | editar código-fonte]

O assiriólogo russo V. V. Yemelyanov documentou o surgimento de um Neopaganismo zuísta no Iraque no início de 2010, com a disseminação de orações aos deuses mesopotâmicos em árabe.[14]

Zuísmo cananeu[editar | editar código-fonte]

O Zuísmo reconstrucionista cananeu é uma pequena comunidade no Israel contemporâneo. Tem antecedentes no movimento cultural e literário do cananismo entre os judeus na Palestina britânica na década de 1940, especialmente na obra de Yonatan Ratosh (1908–1981), nascido como Uriel Helpern em Varsóvia, Polônia.[15] O Zuísmo cananeu também é chamado de Natib Qadish, uma expressão criada pela adepta americana Tess Dawson no início dos anos 2000.[16] O adepto israelense Elad Aaron formulou uma ideologia cultural para a redescoberta política da religião pandeista cananéia chamada "novo cananismo re-sionista (Shni-Tzioni)".[17]

Zuísmo islandês[editar | editar código-fonte]

A "Associação de Fé de Zuísmo" (Zuism trúfélag) é uma organização religiosa zuísta reconhecida pelo governo na Islândia em 2013, quando a lei islandesa foi alterada para permitir que mais religiões não cristãs se registrassem com o estado. A Zuism trúfélag foi fundada anos antes, em 2010, por Ólafur Helgi Þorgrímsson, que a deixou em um estágio inicial de desenvolvimento.[5][18]

No final de 2015, a liderança da Zuism trúfélag da Islândia foi conferida por um grupo de primeiros membros conhecido como "Conselho de Anciões". Sob o novo líder Ísak Andri Ólafsson, a Zuism trúfélag tornou-se um meio de protesto contra as principais igrejas apoiadas pelo governo e contra a imposição de um imposto a todos os contribuintes, devido à sua religião se eles tivessem uma registrada; após o início do protesto, mais de 3.000 membros se juntaram em um curto período de tempo no final de 2015. A Islândia exige que os contribuintes se identifiquem com uma das religiões reconhecidas pelo estado, ou com uma religião não reconhecida ou sem religião; um imposto é pago (aproximadamente US $ 80, £ 50 em 2015) à religião em questão, se reconhecida, mas irá diretamente para o governo se uma religião não for declarada. A Zuism trúfélag, ao contrário de outras religiões, promete devolver o dinheiro que recebe do imposto.[5][18]

Ágúst Arnar Ágústsson e a nova diretoria comandada por Ísak Andri Ólafsson deram início a uma disputa judicial pela liderança da organização. Ágúst Arnar Ágústsson foi finalmente reintegrado como líder do movimento e, em outubro de 2017, após dois anos de atividade congelada, o caso foi encerrado permitindo que a igreja se desfizesse de suas acusações e reembolsasse seus membros. Em 2020, Ágúst Arnar Ágústsson e seu irmão Einar foram acusados ​​de fraude e lavagem de dinheiro depois de estabelecer empresas de fachada para canalizar fundos do governo que a igreja estava recebendo para si.[5][18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Feraro, 2014 e 2016.
  2. a b Kovács, 2019.
  3. a b Ferenc Badiny Jós, Magyar Biblia, 1985 (arquivo).
  4. a b c Joshua Free, "Deep Roots of Modern Mesopotamian Neopaganism; Origins of Mardukite Zuism from 2008 Publications", 2 de julho de 2020 (arquivo); "Anunnaki Bible New Standard Zuist Edition sets 'new standard' for future of Mesopotamian Neopaganism", 12 de agosto de 2020 (arquivo).
  5. a b c d Bromley, 2018.
  6. Boldyreva e Grishina, 2017.
  7. Wolfe, 2015.
  8. Dawson, 2009.
  9. a b Kolozsi, 2012, pp. 50–53.
  10. Szilárdi, 2013, pp. 232–234.
  11. Joshua Free, "Babylon, Gateway of the Gods: Energy Signatures, Mardukite Sigils, Anunnaki Signs & Glyphs", 3 de julho de 2014 (arquivo).
  12. Free e Kaos, 2019.
  13. Free e Kaos, 2019; Free e Penn, 2020.
  14. V. V. Yemelyanov, "Изучая шумеро-аккадские тексты, становишься и сам немного мерuм, Polit.ru, 12 de novembro de 2012 (arquivo).
  15. Feraro, 2016, p. 68.
  16. Feraro, 2016, p. 60.
  17. Feraro, 2016, p. 73.
  18. a b c "Stjórnendur Zuism ákærðir fyrir fjársvik og peningaþvætti", Vísir, 7 de dezembro de 2020; "Zuism: Trúfélagið sem fjármagnaði ferðalög, áfengiskaup og hlutabréfaviðskipti tveggja bræðra", Kjarninn, 8 de dezembro de 2020.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Altar de um praticante canadense de zuísmo marduquita com algumas das escrituras do movimento: a edição francesa dos livros do Mardukite Zuist Necronomicon e Babylonian Magick de Joshua Free.

Trabalhos acadêmicos[editar | editar código-fonte]

  • Ádám Kolozsi, "Social Constructions of the Native Faith: Mytho-historical Narratives and Identity-discourse in Hungarian Neo-paganism", Central European University Nationalism Studies Program, 2012
  • Elena L. Boldyreva e Natalia Y. Grishina, "Internet Influence on Political System Transformation in Iceland", Proceedings of the International Conference Internet and Modern Society (IMS-2017), 2017, pp. 225–229, doi:10.1145/3143699.3143710
  • David G. Bromley, "Zuism (Iceland)", World Religion and Spirituality Project, Virginia Commonwealth University, 2018
  • Jared Wolfe, "ZU: The Life of a Sumerian Verb in Early Mesopotamia", University of California, 2015
  • Nóra Kovács, "A diaszpóra visszavándorlásának ideológiai vonatkozásai Közép-Kelet Európában: Badiny Jós Ferenc Magyarországon", Hungarian Diasporas, 2019
  • Réka Szilárdi, "Neopaganism in Hungary: Under the Spell of Roots", em Kaarina Aitamurto e Scott Simpson (eds.), Modern Pagan and Native Faith Movements in Central and Eastern Europe, 2013, pp. 230–248, ISBN 978-1844656622
  • Shai Feraro, "The Return of Baal to the Holy Land: Canaanite Reconstructionism among Contemporary Israeli Pagans", Nova Religio, 20(2): 59–81, 2016, doi:10.1525/nr.2016.20.2.59
  • Shai Feraro, "Two Steps Forward, One Step Back: The Shaping of a Community-Building Discourse among Israeli Pagans", Israel Studies Review, 29(2): 57–77, 2014, doi: 10.3167/isr.2014.290205

Sites externos[editar | editar código-fonte]