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Assassinato de Ingrid Bueno

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Caso Ingrid Bueno

Ingrid era uma jogadora profissional de Call of Duty: Mobile
Local do crime São Paulo, São Paulo, Brasil
Data 22 de fevereiro de 2021
por volta das 14h30 (UTC−3)
Tipo de crime homicídio
Arma(s) faca e espada
Vítimas Ingrid Oliveira Bueno da Silva
Réu(s) Guilherme Alves Costa
Advogado de defesa
  • João Marcos Alves Batista
  • William Vinicius Sartório
  • Fernanda Magnusson
Promotor Fernando Cesar Bolque
Juiz Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro
Local do julgamento Fórum Criminal da Barra Funda
Situação encerrado
Consequência réu sentenciado a 14 anos de prisão, sem direito de recorrer em liberdade

O Caso Ingrid Bueno ocorreu em 22 de fevereiro de 2021 em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo, quando a gamer da equipe de Call of Duty: Mobile FBI E-Sports Ingrid Oliveira Bueno da Silva, conhecida como Sol, foi assassinada com o uso de uma faca e uma espada por Guilherme Alves Costa, conhecido como Flashlight e Flash Amodeus.

Guilherme sofreu uma grande decepção religiosa quando viu seu irmão morrer de uma overdose de cocaína. O motivo do assassinato teria sido por ele declarar-se um soldado lutando contra o cristianismo, e matou Ingrid por ela ter entrado em seu caminho. Ele diz ter premeditado o assassinato em duas semanas. Em um segundo depoimento, Guilherme afirmou ter tido ajuda no planejamento de Gabriel Barreto Vilares, Carlos Eduardo Custódio do Nascimento, William Maza dos Santos e Vitor Hugo Souza Rocha, presos no âmbito do Caso Discord. Houve a suspeita do envolvimento de grupos como o Dogolachan, mas Guilherme afirmou não ter envolvimento com chans.

Guilherme passou por um exame psicológico, onde foi estabelecido que não tinha transtornos mentais. Porém sua defesa realizou um segundo exame, diagnostigando Guilherme com transtorno delirante persistente e traços de personalidade antissocial. No dia 8 de maio de 2022, Guilherme foi condenado a 14 anos de prisão, onde recebe acompanhamento psicológico.

Ingrid Oliveira Bueno da Silva tinha 19 anos e havia acabado de começar sua carreira nos e-sports jogando Call of Duty: Mobile na equipe FBI E-Sports, onde era conhecida como Sol. Ela participava de campeonatos organizados pelo grupo Battle Girls, onde, diferente de outros torneios, o jogador não precisa pagar taxa de inscrição.[1][2]

Guilherme Alves Costa tinha 18 anos e jogava em outro time, Gamers Elite, onde era conhecido como Flashlight[1][2] e Flash Amodeus.[3] Ele era muito prestativo e fez um curso de teologia por um ano. Seu irmão morreu de overdose de cocaína na sua frente, o que teria sido o seu gatilho para se decepcionar com a religião. Também tinha problemas com o pai, apesar do desconhecimento de sua família.[4]

Eles se conheceram na internet um mês antes do assassinato e mantiveram o relacionamento sem o conhecimento de seus familiares.[3] Guilherme conversava com Ingrid sobre os seus problemas, o que fez com que ela quisesse ajudá-lo. Ele também dizia estar apaixonado pela garota.[4] O pai de Ingrid acessou mensagens no celular, onde ela diz para Guilherme que suspeitava estar com Covid-19. Guilherme insiste em encontrá-la, mesmo se o resultado do teste fosse positivo. Guilherme então diz que "[v]ocê deve ser minha. Isso faz parte do sacrifício. Agora você não entende, está confusa". Ingrid responde: "Isso não é um livro, Guilherme". Ele diz: "Mas em breve você vai entender o real motivo de eu pedir isso".[5]

Vídeos externos
Guilherme admite que matou Ingrid e pede para divulgarem seu livro

No dia 22, Guilherme chamou Ingrid para ir a sua casa em Pirituba para jogar. Ela entrou e tomou café da manhã com a mãe de Guilherme. Ela saiu para trabalhar como diarista. Ambos ficaram sozinhos até as 10h30, quando o irmão de Guilherme entrou para pegar sua bolsa para fazer entregas de marmitas. Lá, por volta das 14h30, ele a perfurou múltiplas vezes com uma faca e uma espada, e ainda tentou degolá-la.[4][6]

Guilherme postou vídeo com imagens do corpo nas redes sociais e vídeo onde mostra o dedo do meio para o espelho em seu quarto, escrevendo "Sou eu no vídeo, vocês estão cegos?" Seus seguidores duvidaram que o corpo fosse real, então Guilherme gravou vídeo onde ri da situação e diz "Vocês estão achando que é tinta, que é montagem, ou algo do tipo. Mas não, não é [risos]. Eu realmente matei ela, entendeu? Bom, eu tenho um livro também. Pedir para o pessoal divulgando esse meu livro e é isso aí. Espero que vocês leiam, tem algumas verdades".[7][8][9] O vídeo também foi enviado para os membros da Gamers Elite. Os responsáveis pelo grupo enviaram o vídeo para as autoridades responsáveis e pediram que os membros não o divulgassem. Após ferir Ingrid, Guilherme fugiu e seu irmão encontrou o corpo de Ingrid sobre a cama. Guilherme disse aos seus familiares que queria se matar, mas seu irmão o convenceu de se entregar.[2][10] No vídeo, Guilherme estava usando a mesma máscara dos perpetradores do Massacre de Suzano.[11]

Os policiais militares foram chamados por ocorrência de mulher esfaqueada. O óbito de Ingrid foi constatado pela equipe de resgate.[2]

Investigação

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Meia hora após o crime, Guilherme se entregou no 87º Distrito Policial. Ele admitiu que planejou o homicídio com duas semanas de antecedência e disse ter escrito um livro de 52 páginas sobre o motivo do crime, que foi anexado ao inquérito. Ele afirmou em depoimento para a Polícia Civil (PC) ter a sanidade mental completamente apta e que matou Ingrid porque quis. Guilherme foi indiciado pelo promotor Fernando Cesar Bolque por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meio cruel.[3][6][12] O livro se chamava Meu Dicionário, onde Guilherme diz ser um soldado combatendo o cristianismo, e matou Ingrid por ela ter entrado em seu caminho.[10] Também diz ter ressentimento do pai por tê-lo abandonado, chama sua família de hipócrita e dizia estar vivendo uma vida dupla.[4]

No mesmo dia, a professora Lola Aronovich alega ter recebido às 23h09 e-mail do autor do crime ou alguém se passando por ele, onde explica seu ódio às mulheres e se declarou usuário de chans. Também disse ter planejado o assassinato por duas semanas. Um dia depois, foi ameaçada de morte por uma ligação anônima.[13][14] Mas o promotor de Justiça Fernando Cesar Bolque se manifestou dizendo que o garoto não poderia ter sido o autor da mensagem e da ameaça, pois ele já se encontrava detido na delegacia e sem seu celular. O e-mail usado também é falso e não-rastreável.[13] Uma postagem já apagada no Endchan, imageboard que hospedava o Dogolachan, afirmava ter ajudado Guilherme no planejamento e divulgação do assassinato.[15] O fórum original havia sido fechado em 2019 após a Operação Illuminate, que prendeu cinco moderadores.[16][17] Outro grupo que teria ajudado Guilherme seria o Crazychan, grupo de WhatsApp criado em 2016 envolvido em diversos crimes, incluindo misoginia e pedofilia, que teria dado uma pistola 9mm para Guilherme, que não foi encontrada pela polícia. Ainda, no Firechan, um usuário chamado Ghostfag disse ter sido o mentor de Guilherme.[11] O garoto, porém, nega ter qualquer involvimento com imageboards. Apesar disso, declarou admirar Anders Breivik.[15]

Guilherme foi preso preventivamente, transferido para o Centro de Detenção Provisória Paulo Gilberto de Araújo, no bairro de Belém, Zona Leste. O Ministério Público denunciou Guilherme no dia 25, quebrou o sigilo de seu celular e pediu que fosse realizado um exame de insanidade.[3][18] Inicialmente, a denúncia foi por feminicídio, mas foi descartada pelo promotor.[15] A defesa alegou que o réu era inimputável, mas o exame declarou que Guilherme não possuía doenças mentais.[19] A defesa, então, realizou exame por um psiquiatra particular, alegando que o laudo possuía poucas folhas. O novo laudo concluiu que Guilherme tem transtorno delirante persistente e traços de personalidade antissocial.[10] No dia 2 de março, o Ministério Público pediu a reconstrução da cena do crime.[20]

Guilherme foi a júri popular, presidido pela juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro. Originalmente, o julgamento seria no dia 3 de março de 2022, mas foi adiado para o dia 9 de maio a pedido da defesa, pela anexação dos documentos que não haviam sido analisados pelo Ministério Público. Sua defesa é realizada pelos advogados João Marcos Alves Batista, William Vinicius Sartório e Fernanda Magnusson. Ela alega que o réu tenha problemas mentais, o que o tornaria semi-imputável e evitaria sua prisão. A tese, porém, foi contestada pelo advogado Fernando Cesar Bolque do Ministério Público, que se baseia no laudo oficial feito pelos peritos da justiça.[10] No dia 8 de maio, o júri no Fórum Criminal da Barra Funda condenou Guilherme a 14 anos de prisão, sem direito de recorrer em liberdade. Durante sua prisão, ele deve receber acompanhamento psiquiátrico.[7]

Em 2023, Guilherme prestou outro depoimento para a PC onde afirmou que outras quatro pessoas estariam envolvidas no planejamento da morte de Ingrid. Seus nomes são Gabriel Barreto Vilares, Carlos Eduardo Custódio do Nascimento, William Maza dos Santos e Vitor Hugo Souza Rocha. Um deles teria se gravado ligando para o pai dela e dizendo que tinha se masturbado para o cadáver. Os quatro indiciados foram presos em outra operação, no chamado Caso Discord. A averiguação do telefonema foi encaminhado para o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa.[12]

Após o assassinato, o grupo FBI E-Sports postou mensagem de luto nos stories do Instagram, dizendo que "Ela era uma pessoa extraordinária, a quem vamos lembrar todo dia que o Sol nascer, todo dia que a luz do Sol tocar no nosso corpo, toda vez que olharmos para o Sol, nós vamos lembrar dela".[1] A Gamers Elite publicou nota dizendo que "não compactua com qualquer criminoso de nenhum modo e jamais irá compactuar ou fazer apologias ao mesmo".[2] Sua família e amigos prestaram homenagens.[13] O pai de Ingrid publicou carta aberta, onde chamou o crime de premeditado e prestou solidariedade à família de Guilherme.[21] A família de Guilherme se desculpou com um rápido telefonema para a família de Ingrid.[22] No dia 24, a mãe de Guilherme deu entrevista para a TV Record, dizendo não reconhecer o próprio filho.[23] No dia 26, suas fãs a homenagearam no Call of Duty Mobile, se ajoelhando na frente da igreja dentro do jogo.[24]

O assassinato foi comemorado em grupos de WhatsApp e fórums como o Dogolachan.[15]

O fato teve repercussão internacional.[25][26][27]

  1. a b c Lucas Gerardi (6 de outubro de 2022). «COD: Jogadora Sol é assassinada em São Paulo». ESPN. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 24 de fevereiro de 2021 
  2. a b c d e «Estudante é suspeito de matar jogadora profissional de game que conheceu pela internet; jovem de 19 anos foi morta a facadas em SP». G1 SP. 23 de fevereiro de 2021. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  3. a b c d Tiago Scheuer e William Soares (24 de fevereiro de 2021). «Estudante preso por esfaquear e matar jogadora profissional de game é indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil em SP». SP1 e G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  4. a b c d Grasielle Castro (7 de março de 2021). «De religioso a assassino: como agia o jovem que matou gamer a facadas». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  5. «'Você deve ser minha', diz jovem em mensagem antes de matar gamer». R7. 1 de março de 2021. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  6. a b Glauco Araújo e Kleber Tomaz (25 de fevereiro de 2021). «MP acusa estudante de usar faca e espada para matar jogadora profissional de game em SP e pede exame de insanidade mental». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  7. a b Mariana Costa e Gabriela Marçal (9 de agosto de 2022). «Jovem que matou gamer com espada em SP é condenado a 14 anos de prisão». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  8. Rebeca Borges (24 de fevereiro de 2021). «Acusado de assassinar gamer a facadas gravou vídeo: "Realmente matei"». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2021 
  9. «Jovem que matou Ingrid Sol com espada postou vídeo mostrando o corpo: 'olha que maravilha'». Ei Nerd. 9 de agosto de 2022. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  10. a b c d Kleber Tomaz (3 de março de 2022). «Estudante que usou faca e espada para matar gamer conhecida como Sol vai a júri popular em SP». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  11. a b Lola Aronovich (25 de fevereiro de 2021). «Lola Aronovich: O assassinato de Sol não é caso isolado». CartaCapital. Consultado em 23 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 23 de setembro de 2024 
  12. a b Alfredo Henrique (18 de agosto de 2023). «Reviravolta: caso de gamer morta com espada pode ser reaberto após depoimento de assassino». Metrópoles. Consultado em 12 de novembro de 2024 
  13. a b c Laura Reif (26 de fevereiro de 2021). «Família e amigos lamentam morte de jovem gamer: "Cruel e injusto", diz irmã». Marie Clarie. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  14. Lola Aronovich (25 de fevereiro de 2021). «O assassinato de Sol não é caso isolado». CartaCapital. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  15. a b c d Leonardo Coelho (10 de março de 2021). «Sol, Luciana, Elidia, Massacres de Suzano e Realengo: as 23 vítimas do terrorismo misógino». Ponte Jornalismo. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  16. Chico Alves (9 de dezembro de 2020). «Ameaças a vereadoras negras e trans são perigo real, diz ativista Lola». Uol. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  17. Leonardo Coelho (12 de dezembro de 2020). «Os ataques dos trolls de extrema-direita a políticas negras e LGBT+ recém-eleitas». Ponte Jornalismo. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  18. Renato Fontes (27 de fevereiro de 2021). «Justiça quebra sigilo de jovem suspeito de matar jogadora de game em SP». Agora São Paulo. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  19. Kleber Tomaz (10 de setembro de 2021). «Laudo diz que estudante que usou faca e espada para matar gamer em SP não tem doença mental; réu poderá ir a júri popular». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  20. Cesar Sacheto (2 de março de 2021). «MP pede a reconstituição de assassinato de gamer em São Paulo». R7. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  21. Lucas Gerardi (3 de março de 2021). «'Foi um crime hediondo, cruel, brutal, macabro, planejado', desabafa pai de Sol em carta aberta». ESPN. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  22. Alfredo Henrique (2 de março de 2021). «Parentes de suspeito de matar gamer pedem perdão à família dela, diz advogado». Agora São Paulo. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 2 de março de 2021 
  23. Roberto Wagner (24 de fevereiro de 2021). «Mãe de acusado de matar gamer desabafa: "Filho que criei não foi esse"». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  24. Anselmo Caparica (26 de fevereiro de 2021). «Grupo de meninas homenageia jogadora dentro de game preferido dela; adolescente foi assassinada por estudante em SP». SP1 e G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  25. Cade Onder (24 de fevereiro de 2021). «Call Of Duty eSports Player Murdered In Disturbing Tragedy» (em inglês). ScreenRant. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  26. Kayleigh Partleton. «Call of Duty: Mobile pro reportedly murders female player» (em inglês). pocketgamer.biz. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de abril de 2021 
  27. Yaron Steinbuch (26 de fevereiro de 2021). «Brazilian gamer arrested after posting footage after allegedly killing Call of Duty: Mobile rival». News.co.au. Consultado em 9 de outubro de 2022