Saltar para o conteúdo

Basterotes II Bagratúnio

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Basterotes II Bagratúnio
Morte 642/3 ou 645/6
Uaje Rude ou Armênia
Nacionalidade Império Sassânida
Império Bizantino
Etnia Armênia
Progenitores Pai: Simbácio IV
Filho(a)(s) Simbácio V
Ocupação General

Basterotes II Bagratúnio (em latim: Basterotes; em grego medieval: Βαριστερότζης, Baristerótzes; em armênio/arménio: Վարազ-Տիրոց, Varaz-Tirocʼ) foi governador (marzobã) da Armênia, tendo governado entre 628 e 634. Fugiu ao Império Bizantino ao entrar em conflito com o governador do Azerbaijão e foi recebido com honras pelo imperador Heráclio (r. 610–641). Participou num complô armênio para derrubar Heráclio e nomear seu bastardo João Atalarico como imperador e foi exilado na África. Em 645/6, a pedido de Teodoro Restúnio, foi perdoado e reconvocado do exílio, foi à Armênia onde foi nomeado príncipe, mas morreu antes de assumir sua posição.

Nome[editar | editar código-fonte]

Basterotes[1] é a forma latinizada das formas gregas Baristerotzes (Βαριστερότζης, Baristerótzes), Cristerotzes (Κριστερότζης, Kristerótzes) e Carterotzes (Καρτερότζης, Karterotzes), que por sua vez derivam do nome composto armênio Varaz-Tirotes (em armênio/arménio: Վարազ-Տիրոց, Varaz-Tirocʼ).[2] Varaz (Վարազ) derivou do persa médio e parta Varaz (Warāz), que por sua vez derivou do avéstico Varaza (Warāza, "javali selvagem").[3][4] Foi registrado em latim como Varazes e em grego como Barazes (em grego: Βαράζης, Barázēs), Uarazes (Ουαράζης, Ouarázēs)[5][6] e Guraz (Γουραζ, Gouraz).[7] Por sua vez, Tirotes derivou do nome do deus Tir.[8]

Dinar de Cosroes II (r. 590–628)
Dracma de Cavades II (r. 628)

Vida[editar | editar código-fonte]

Era filho de Simbácio IV, irmão de Gariquepetes e pai de Simbácio V (seu filho mais velho) e outros de nome incerto. Sua esposa e família são mencionadas na obra de Sebeos. Basterotes e Gariquepetes foram criados na corte do Cosroes II (r. 590–628) em Ctesifonte. Após a derrota da rebelião de Bestã por seu pai em 596, foi nomeado copeiro real. Nesse momento, ou após a vitória de Simbácio sobre os heftalitas em 608, também recebeu o título honorífico de "Eterno Cosroes" (Zavitean Χosrou).[9][10]

Em 628, o xá foi derrubado por uma conspiração que envolveu várias casas aristocráticas, e Basterotes participou. Um dos líderes da conspiração, Farruquezade informou Basterotes (chamado Tucar nesse relato) sobre quem as facções escolheram para suceder no trono (Cavades) e ele disse: "a escolha seria satisfatória ao canaranges também".[11] Seu apoio, segundo Parvaneh Pourshariati, foi assegurado sob garantias de que teria o ofício de tanuter (membro sênior de um família nacarar).[12] Como recompensa por sua ajuda, Cavades II (r. 628) nomeou-o marzobã da Armênia com posição de aspetes. Um de seus primeiros atos foi a nomeação do católico Cristóvão II (r. 628–630). Ele logo entra em disputa com o governador persa Rustã do vizinho Azerbaijão e foge com sua família a Taraunitis e então, após receber garantias do imperador Heráclio (r. 610–641), para sua corte à época ainda no Assuristão.[13]

Tremisse de Heráclio (r. 610–641)
Soldo de Constante II (r. 641–668)

O nacarar Mecécio II Genúnio, general dos exércitos da Armênia nomeado por Heráclio, cobriu-o de calúnias, mas o imperador não deu importância.[14] Segundo o cronista Sebeos, Heráclio recebeu-o com grandes honrarias, deu-lhe "residência real, assentos de prata e muito tesouro" e "exaltou-o sobre todos os patrícios de seu reino". Em 635 ou 637, Basterotes se envolveu na conspiração Teodoro, Vaanes Corcorúnio e Davi Sarones para derrubar o imperador e nomear seu filho bastardo João Atalarico. A conspiração foi revelada, e Basterotes foi exilado na África; sua vida foi poupada porque, alegadamente, se opôs à morte do imperador.[13] Pourshariati propõe que seja o homônimo que esteve na Batalha de Jalula de 637 travada entre o Império Sassânida e o Califado Ortodoxo.[15]

Em seu leito de morte em 641, Heráclio alegadamente perdoa-o e faz seu sucessor Constantino III (r. 641) jurar que reconvocaria-o com sua família do exílio e restauraria suas honras.[13] Em 642, o Califado Ortodoxo avança contra a Armênia e toma Dúbio, a capital, levando muito espólio e butim. O marzobã Teodoro Restúnio solicita sua reconvocação a Constante II (r. 641–668) por saber de suas habilidades em lidar com tais situações.[16] Pourshariati propõe que Basterotes é o homônimo que também esteve nas Batalhas de Niavende de 642 e Uaje Rude de 642/3, na qual supostamente morreu.[15] Porém, essa suposição colide com o relato de Sebeos e a datação proposta por outros autores, que consideram que Constante restaurou-o a sua antiga dignidade no Império Bizantino em 645/6.[16]

Aparentemente estava em Constantinopla quando Restúnio foi convocado para responder por suas ações diante de Constante. Pouco tempo depois, fugiu da capital e dirigiu-se a Taique, na Armênia. Restúnio, os príncipes armênios e o católico Narses III, o Construtor mediaram sua situação com o imperador e pediram-lhe que nomeasse Basterotes como "príncipe da terra". Constante cede e nomeia-o governador (príncipe) com a alta posição de curopalata.[2] Constante enviou-lhe a coroa de honra (talvez a bálteo ou zoen), sua família e os ricos presentes concedidos antes por Heráclio, mas adoece e falece antes de recebê-los. Foi sepultado ao lado de seu pai na fortaleza de Terua, em Cogovita.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Razates
Marzobã da Armênia
628-634
Sucedido por
Mecécio II
(mestre dos soldados da Armênia)
Precedido por
Teodoro Restúnio
(marzobã)
Príncipe da Armênia
645
Sucedido por
Teodoro Restúnio
(príncipe)

Referências

  1. Migne 1851, p. 1111.
  2. a b Lilie 2013, #8567 Varaztiroc'.
  3. Fausto, o Bizantino 1989, p. 422.
  4. Martirosyan 2021, p. 19.
  5. Justi 1895, p. 348-349.
  6. Ačaṙyan 1942–1962a, p. 62.
  7. Weber 2019.
  8. Ačaṙyan 1942–1962b, p. 162.
  9. Pourshariati 2008, p. 153–154.
  10. Martindale 1992, p. 1363.
  11. Pourshariati 2008, p. 154.
  12. Pourshariati 2008, p. 174.
  13. a b c d Martindale 1992, p. 1364.
  14. Grousset 1973, p. 283-286.
  15. a b Pourshariati 2008, p. 469.
  16. a b Grousset 1973, p. 298-299.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962a). «Վարազ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962b). «Վարազ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot 
  • Justi, Ferdinand (1895). Iranisches Namenbuch. Marburgo: N. G. Elwertsche Verlagsbuchhandlung 
  • Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). «#8567 Varaztiroc'». Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt 
  • Martirosyan, Hrach (2021). «Faszikel 3: Iranian Personal Names in Armenian Collateral Tradition». In: Schmitt, Rudiger; Eichner, Heiner; Fragner, Bert G.; Sadovski, Velizar. Iranisches Personennamenbuch. Iranische namen in nebenüberlieferungen indogermanischer sprachen. Viena: Academia Austríaca de Ciências 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Varaztiroch». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8 
  • Migne, Jacques Paul (1851). Patrologiae Cursus Completus. Paris: Excudebatur et venit apud J.P. Migne editorem 
  • Pourshariati, Parvaneh (2008). Decline and Fall of the Sasanian Empire: The Sasanian-Parthian Confederacy and the Arab Conquest of Iran. Nova Iorque: IB Tauris & Co Ltd. ISBN 978-1-84511-645-3