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Centro Histórico de Sabará

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Detalhe de uma rua no Centro Histórico

O Centro Histórico de Sabará é o núcleo antigo e um bairro da cidade brasileira de Sabará, no estado de Minas Gerais, a mais antiga do estado e uma das principais cidades do Ciclo do Ouro. O Centro preserva importante casario e monumentos do Barroco brasileiro, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.[1]

Vista de Sabará a partir do rio das Velhas, gravura de Rugendas, c. 1820

Situada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Sabará é o mais antigo centro de povoamento português do estado,[2][3] estabelecido na confluência do Rio Sabará com o Rio das Velhas. A área era chamada pelos indígenas de Sabarabuçu, nome que significa "pedra grande brilhante" ou "serra resplandecente". Era um lugar cercado de lendas sobre tesouros. Começou a ser colonizada com a chegada de criadores de gado em meados do século XVII, que fundaram uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.[4] Pouco depois diversas bandeiras paulistas percorreram a região à procura de ouro, prata e pedras preciosas, atraídos pelas lendas que corriam sobre as riquezas escondidas no Sabarabuçu.[2] A região é de fato rica em minérios e Sabará se tornou um dos principais centros de mineração durante o Ciclo do Ouro.[5]

A fundação do arraial é atribuída a Borba Gato, membro da bandeira de Fernão Dias, que em torno de 1674 fundou uma feitoria em Roça Grande, às margens do Rio das Velhas. Borba Gato encontrou ouro no rio, o que atraiu uma multidão de garimpeiros e desencadeou a formação de arraiais ao longo do seu percurso. Em torno de 1682 foram encontradas na área pedras verdes que se julgou serem esmeraldas, fazendo com que o povoamento se expandisse. O arraial de Sabará só foi oficializado em 1700 durante a visita do governador Artur de Sá e Menezes, reunindo os arraiais da Roça Grande, da Barra, dos Porcos, da Igreja Velha, do Bom Retiro e da Mouraria, tendo sua sede em Barra. Freguesia em 1707, em 17 de julho de 1711 foi elevada à condição de vila, com o nome de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabuçu, sendo então dotada de melhoramentos urbanísticos, Casa de Câmara e Cadeia, pontes, chafarizes, encanamentos, calçamento das ruas, capelas e de uma nova Matriz. Em 1714 se tornou sede de uma comarca, e em 6 de março de 1838 se tornou cidade, já com seu nome resumido a Sabará.[4][6][3] Ao contrário de outras vilas mineiras, onde a Matriz, a Casa da Câmara e Cadeia e o Pelourinho ficavam próximos, em Sabará as sedes administrativa e religiosa se localizavam em arraiais diferentes. Os prédios da administração civil ficaram em Barra, e a Igreja Matriz em Igreja Velha.[7]

Interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Sabará cresceu como uma típica vila colonial portuguesa de zona montanhosa, com ruas estreitas e sinuosas calçadas de pedra irregular, ladeadas por casario de um ou dois pavimentos, com habitações contíguas, construídas sem espaço entre si no alinhamento da via pública, dotadas de fachadas despojadas com aberturas de vergas retas ou em arco abatido e cobertura de telhas de barro capa-canal. Nos interiores, pouca mobília e pouca decoração. Neste modelo de urbanismo, o luxo era reservado para as igrejas.[8]

Durante a fase mais dinâmica da mineração, Sabará conheceu uma intensa atividade edificatória. Passado o auge do ouro, a cidade conseguiu manter uma economia relativamente dinâmica, através da exploração da navegação pelo Rio das Velhas. No fim do século XIX as ferrovias substituíram o rio, inserindo Sabará no ciclo de exploração do ferro, acelerado em 1920 com a chegada da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que deu um forte impulso à sua economia. Essa atividade econômica ininterrupta provocou uma transformação igualmente constante no perfil urbano, com a substituição de edificações antigas por novas em outros estilos, especialmente depois do século XIX, além de se expandirem os limites urbanos com diversos loteamentos.[8]

A Casa da Intendência, antiga casa do Padre Correia, um bom exemplo da arquitetura colonial

Apesar disso, a parte mais antiga conservou uma significativa homogeneidade morfológica, típica do século XVIII,[9] possibilitando seu tombamento pelo IPHAN em 1938, um dos primeiros que o órgão realizou, complementado em 1965 com o tombamento da Rua Direita,[1] embora haja algumas intrusões de casas neoclássicas e ecléticas em meio ao casario colonial.[9] Na descrição do IPHAN, "entre as esquinas das ruas da República e Comendador Viana até à Praça Santa Rita e Rua Luiz Cassiano, estão as edificações que constituem o conjunto mais homogêneo que dá força e identidade a todo o logradouro. Destacam-se interessantes sobrados com sistema construtivo em alvenaria de adobe, cunhais de madeira e vãos moldurados com sobrevergas trabalhadas e guarda-corpo em madeira recortada".[1] Segundo Jaqueline Santos, "a estrutura urbana tradicional de Sabará, caracterizada pela grande pregnância e identidade, expressa-se através de um todo coeso e homogêneo".[9]

Interior do Teatro Municipal

A cidade tem uma rica e antiga tradição cultural.[10] Para a construção das primeiras igrejas foi necessário atrair artesãos e artistas, e também foram necessários músicos para o culto e para cerimônias cívicas. Desde o início do século XVIII há registro de intensa atividade de músicos profissionais nas missas, procissões, funerais e nas solenidades da Câmara e das milícias.[7] Em 1770 já havia um teatro para óperas, dramas e comédias.[11]

As extravagantes festividades promovidas em setembro de 1795 para comemorar o nascimento de D. Francisco Antônio, príncipe da Beira, e que duraram dez dias, dão uma amostra da riqueza da tradição cultural de Sabará: as festas iniciaram com um préstito solene de oficiais da Câmara e da governança, acompanhados por cavaleiros e uma banda, anunciando a abertura das comemorações. Depois houve missas, matinas e Te Deums em ação de graças, procissões noturnas com fogos, banquetes, bailes, discursos, toques de sinos, cavalhadas, touradas, recitais de ópera, dança, poesia e música coral e instrumental, fogos de artifício, e festas nas ruas com música, dança e comida, ruas enfeitadas com ramos e flores, com maciça concorrência da população, e com um custo de mais de um conto de reis. Muitas outras festas desse porte ocorreram ao longo de muitos anos.[12]

A maioria dos eventos públicos que ocorrem em Sabará ocorre no Centro, que é o coração vital da cidade. Lá são organizadas celebrações cívicas, religiosas, festivas, culturais e artísticas, bem como manifestações políticas.[13] Entre as celebrações mais tradicionais estão o Festival de Inverno, organizado todos os anos para comemorar o aniversário da cidade, com dezenas de programações, incluindo exposições, grandes shows de música popular, concertos de música erudita, teatro, dança, oficinas e esportes,[14][15][16] a Festa da Jabuticaba, que atrai um público de mais de 140 mil pessoas,[17] e as da Semana Santa, declaradas Patrimônio Imaterial de Sabará.[18] No Centro o visitante também pode conhecer o artesanato típico e as especialidades culinárias de Sabará.[3]

Conservação

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Igreja de Nossa Senhora do Carmo

O IPHAN tombou o conjunto do Centro Histórico da cidade, havendo 19 tombamentos de bens individuais. Quatro edifícios são protegidos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, e 23 tombados pelo Município.[1][2] O Plano Diretor municipal declarou o Centro Área de Proteção ao Patrimônio Cultural I. Seu valor histórico é amplamente reconhecido, tornando Sabará contemporaneamente um importante polo de turismo na região, sendo integrado a dois importantes roteiros turísticos intermunicipais, o da Estrada Real e do Circuito do Ouro, mas o Centro ainda é um bairro residencial. Tem um comércio ativo. Muitas casas foram convertidas em lojas, bares, restaurantes e pousadas, mas as adaptações em geral são adequadas em termos de conservação patrimonial. Na pesquisa de opinião que Santos fez entre os moradores, todos deram impressões positivas sobre suas vivências no local e se mostraram identificados com o Centro e sua historicidade, expressando o desejo de vê-lo bem conservado.[19]

Apesar do seu valor como monumento, o Poder Público reconhece que há problemas a serem resolvidos no manejo e conservação do Centro Histórico e sua exploração para o turismo, incluindo uma gestão mal integrada entre o município, a comunidade e a iniciava privada; estrutura deficitária para eventos de grande porte; pouca infraestrutura de apoio ao turista; serviços desatualizados e pouco eficientes; políticas fracas para preservação dos bens históricos; dificuldades para conter o crescimento urbano desordenado, e outros.[3]

Principais marcos

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Além do casario habitacional em estilo colonial, no Centro Histórico se destacam as igrejas de Nossa Senhora do Carmo, que contém obras de Aleijadinho e Francisco Vieira Servas, Nossa Senhora do Ó, São Francisco, Rosário dos Pretos e a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, além dos chafarizes do Rosário e do Kaquende, a Casa da Intendência, o Teatro Municipal, o Museu do Ouro, todos tombados individualmente pelo IPHAN.[3][10]

Commons
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Referências

  1. a b c d "Sabará (MG)". Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, consulta em 18 de julho de 2024
  2. a b c "Villa Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará celebra 300 anos de fundação". Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 13 de julho de 2011
  3. a b c d e Plano Municipal de Turismo de Sabará 2010-2020. Conselho de Turismo de Sabará, 2010, pp. 8-10
  4. a b Torres, Ludmila Machado Pereira de Oliveira. "Ofícios mecânicos e a Câmara: regulamentação e controle na Vila Real de Sabará (1735-1829)". In: Clio — Revista de Pesquisa Histórica, 2021 (39)
  5. "Amanhecer no Centro Histórico de Sabará encanta a todos nesta época do ano". Jornal Panorama, 14 de julho de 2024
  6. Fonseca, Adélia F. & Menezes, Cássio L. C. Um olhar sobre as potencialidades histórico-culturais como atrativos turísticos em Sabará. Belo Horizonte. Universidade Federal de Minas Gerais, 2004, pp. 1-8
  7. a b Miranda, Daniela. Músicos de Sabará: a prática musical religiosa a serviço da Câmara (1749-1822). Universidade Federal de Minas Gerais, 2002, pp. 12-15
  8. a b Santos, Jaqueline Duarte. Transformações na paisagem de Sabará: uma investigação das diferentes historicidades e das construções identitárias. Universidade Federal de Minas Gerais, 2013, pp. 21-25
  9. a b c Santos, pp. 58-60
  10. a b "Arquitetura colonial em Sabará: Principais pontos turísticos e culturais!" Em Sabará, 17 de abril de 2023
  11. O espetáculo continua: Teatro de Sabará 1818 / 1970. Governo do Estado de Minas Gerais, 1970
  12. Miranda, pp. 34-53
  13. Santos, pp. 158-160
  14. Clark, Glaucia Melo. "Aniversário da cidade é comemorado com muita cultura e arte". Folha de Sabará, 4 de agosto de 2015
  15. Clark, Glaucia Melo. "Sabará realiza apresentações de teatro edição do Festival de Inverno 2024". Folha de Sabará, 11 de julho de 2024
  16. "Festival de Inverno ocupa Sabará com teatro, música e outras atrações gratuitas". Sou BH, 5 de julho de 2023
  17. "Produtores mostram receitas tradicionais no Festival da Jabuticaba de Sabará". Governo do Estado de Minas Gerais, 24 de novembro de 2011
  18. Werneck, Gustavo. "Semana Santa em Sabará expõe mistério de painéis achados sob piso de igreja". Estado de Minas Gerais, 17 de março de 2024
  19. Santos, pp. 58-62