Dórdia Gil de Soverosa
Dórdia Gil de Soverosa | |
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Rica-dona/Senhora | |
Nascimento | ca. 1230 |
Reino de Portugal | |
Morte | 1269 (39 anos) |
Mosteiro de Arouca, Arouca, Reino de Portugal | |
Sepultado em | Mosteiro de Arouca, Arouca, Aveiro, Portugal |
Nome completo | |
Dórdia Gil [de Soverosa][1] | |
Dinastia | Soverosa |
Pai | Gil Vasques I, Senhor de Soverosa |
Mãe | Maria Gonçalves Girão |
Religião | Catolicismo romano |
Brasão |
Dórdia Gil de Soverosa (c.1230 - c.1269), foi uma rica-dona portuguesa dos meados do século XIII. Com a partida de vários membros da sua família para o Reino de Castela, na sequência do apoio dado a Sancho II de Portugal contra o irmão, o conde Afonso de Bolonha, Dórdia foi uma das poucas que permaneceu em Portugal, sendo uma das principais gestoras do património familiar sito em território português[2].
Primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Nascida possivelmente por volta de 1230, Dórdia era filha de Gil Vasques de Soverosa e da sua terceira esposa Maria Gonçalves Girão[2][3], sendo assim meia-irmã do importante rico-homem e valido de Sancho II de Portugal, Martim Gil de Soverosa[4][5], e também do trovador Vasco Gil de Soverosa.
O papel dos Soverosas começa a ganhar especial relevância precisamente entre as décadas de 30 e 40, quando Martim Gil começou a deter uma grande influência na cúria[5]. Tendo em conta que o meio-irmão fora o braço-direito de Sancho II de Portugal, toda a família liga assim o seu destino ao partido do monarca, tornando-se numa das famílias que se opuseram ao partido do conde Afonso de Bolonha. Em dezembro de 1247[6], Dórdia participa na doação que Martim Gil faz, com todos os seus irmãos, com exceção de Fernão e Guiomar Gil, de bens paternos, sitos em Amarante, a Gonçalo Gil, seu irmão[7][5].
Exílio
[editar | editar código-fonte]O conde de Bolonha declarou-se vencedor do conflito em 1247, e Sancho havia sido deposto por uma bula do Papa Inocêncio IV, sai definitivamente de Portugal e refugia-se em Toledo, Reino de Castela, onde falece no ano seguinte. Os irmãos de Dórdia, Martim, Vasco, Manrique e João Gil, acompanham, assim, o deposto monarca para o exílio em Castela[8]. Aí, participaram na tomada de Sevilha de 1248, junto a muitos outros aristocratas (de entre os quais vários portugueses[8]).
Dórdia foi talvez a única, ou das poucas que se manteve em Portugal depois do êxodo dos Soverosas para o reino vizinho. Temendo possíveis represálias contra si, dada a família a que pertencia, encontrou refúgio no Mosteiro de Arouca, assim como Guiomar Gil de Riba de Vizela, irmã de Constança Gil de Riba de Vizela, por sua vez cunhada de Dórdia[3]. Aquele mosteiro havia sido reformado pela infanta Mafalda e tornara-se um centro de refúgio para donas que procuravam a vida contemplativa[9]. Além disso, Dórdia poderia contar com o apoio da abadessa, Mor Martins de Riba de Vizela, que era prima de Gil Martins de Riba de Vizela e pai da sua cunhada[2].
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O impacto trovadoresco da clausura
[editar | editar código-fonte]A entrada de Dórdia e Guiomar no mosteiro de Arouca provocou viva indignação do trovador João Garcia de Guilhade, que lamenta a perda de tão belas damas para a vida espiritual. A cantiga, inserida subtilmente no conflito dos anos imediatamente anteriores, pode conter uma ironia disfarçada. De facto, as donzelas pertenciam a famílias que se mantiveram fiéis ao monarca deposto, e o trovador pertencia muito provavelmente ao círculo dos Sousas, uma das principais apoiantes do conde bolonhês. Muito provavelmente tratar-se-á de uma crítica velada às linhagens derrotadas, dando a entender que ambas terão entrado no Mosteiro mais por conveniência familiar do que propriamente por vocação[10].
Gestão fundiária
[editar | editar código-fonte]Dórdia tornou-se monja, mas nunca ganhou nenhum cargo relevante naquele mosteiro. Contudo, foi a partir dali que geriu o grande património de acordo com os interesses familiares: geriu também património galego, como atesta uma doação que fez ao Mosteiro galego de São Pedro de Pedroso, por alma da sua mãe, em data posterior a 1257, e ainda o escambo que faz, entre 1266 e 1268, com Martim Afonso de Leão, filho da sua meia-irmã Teresa Gil de Soverosa, de bens nas terras galegas de Atay, Trastámara e Ponferrada, apoiando assim a política do seu sobrinho que tentava libertar-se do património materno em Portugal, e unificar as posses galegas da família. Em fevereiro de 1268, amplia a doação, provavelmente a pedido da abadessa[11]
Além disso, e também em consonância com o procedimento familiar, fez doação dos bens herdados do seu pai, em Ribelas e Sobrosa[3], à Ordem do Hospital, na casa da ordem em Leça do Balio[9].
Morte e posteridade
[editar | editar código-fonte]Dórdia havia doado, pouco antes de falecer, ao Mosteiro de Arouca todos os herdamentos que detinha em Lisboa, Évora e Santarém. É muito provável que esta monja falecesse em 1269, e antes do final do ano, pois esse mês de dezembro, Mor Martins faz referência à sua parente:
“ |
...doña Dordia Gil filha de D. Gil Vaasquiz, nossa mongya est pasada[11] |
” |
É nesse momento que se referem também os bens doados pela falecida ao Mosteiro, e que a abadessa requer às referidas vilas a entrega dos bens dispostos pela parente. Contudo, parecem ter ocorrido problemas nestas entregas, pois só em 1287 é que Martim Anes de Soverosa entrega à Abadia as propriedades dispostas pela tia em Santarém, o que leva a pensar que as autoridades desta cidade se terão, num primeiro momento, recusado a entregá-las ao cenóbio[11].
Ainda em 1281, se resolviam problemas nas suas disposições, pois o executor testamentário de Dórdia pediu à prioresa da Igreja de Chelas sessenta libras, que Dórdia deixara para o Mosteiro de São Domingos de Lisboa[3]. Os bens deixados a este mesmo cenóbio são ainda referidos em 1330, onde Dórdia é referida como filha de Gil Vasques de Sousa[3]. Em 1289 metade os mesmos foram entregues ao sobrinho de Dórdia, Martim Anes de Soverosa, com a condição de entregar as ditas sessenta libras ao mosteiro lisboeta.
Referências
- ↑ O epíteto de Soverosa é uma designação posterior dada aos membros desta linhagem, uma vez que nenhum deles é é mencionado por fontes contemporâneas com este apelido. Cf. Calderón Medina, 2018, p.209
- ↑ a b c Calderón Medina 2018, p. 168.
- ↑ a b c d e Sottomayor-Pizarro 1997, p. 812.
- ↑ David 1986, p. 67.
- ↑ a b c Sottomayor-Pizarro 1997, p. 809.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 162.
- ↑ Calderón Medina 2018, p. 143.
- ↑ a b David 1986, p. 62.
- ↑ a b Calderón Medina 2018, p. 169.
- ↑ Deus! Como se forom perder e matar - João Garcia de Guilhade
- ↑ a b c Calderón Medina 2018, p. 170.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Calderón Medina, Inés (2018). Los Soverosa - Una parentela entre tres reinos - Poder y parentesco en la Edad Media hispana (ss.XI-XIII). Valladolid: Universidad de Valladolid
- David, Henrique (1986). «Os portugueses nos livros de Repartimiento da Andaluzia (século XIII)» (PDF). Universidade de Oporto. Revista da Faculdade de Letras. Historia (3): 51-. OCLC 770912493
- Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325. Porto: Tese de Doutoramento, Edicão do Autor