Egossintonia e egodistonia
Na psicanálise, a egossintonia refere-se aos comportamentos, valores e sentimentos que estão em harmonia ou são plausíveis para suprir as necessidades do ego, respeitando o contexto da autoimagem. Por outro lado, a egodistonia, também chamada de ego alienígena,[1] refere-se aos pensamentos e comportamentos que estão em conflito psicológico ou em ação de dissonância, devido às necessidades do ego e ao duelo com a autoimagem.
Aplicabilidade
[editar | editar código-fonte]A psicologia anormal caracteriza diversos transtornos de personalidade como egossintônicos, dificultando o tratamento, pois os pacientes podem abster-se de percepções e comportamentos impróprios.[2] Como exemplo, uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista tem a autoconsciência excessiva de rejeitar questões que desafiam seus pontos de vista. Tal comportamento corresponde, em termos psiquiátricos, a uma visão pobre da autoimagem. A anorexia nervosa, doença multiaxial do Eixo I do diagnóstico psiquiátrico, tem um tratamento difícil e caracteriza-se por uma imagem corporal distorcida e também pelo medo iminente de ganhar peso. A anorexia nervosa, portanto, é classificada como egossintônica, pois alguns pacientes que portam a doença, negam a sua existência.[3] Ademais, o jogo patológico é, no entanto, visto como egossintônico dependendo do envolvimento do paciente com o vício em jogos.[4][5]
Uma ilustração das diferenças entre um transtorno mental egodistônico e transtorno mental egossintônico é a comparação do transtorno obsessivo-compulsivo com o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva. O TOC é considerado egodistônico, pois os pensamentos, ímpetos e compulsões não são consistentes com a autoimagem do indivíduo, ou seja, o paciente percebe que as obsessões são irracionais e angustiadas devido às compulsões. Em contrapartida, o transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo é classificado como egossintônico, uma vez que o paciente geralmente percebe sua obsessão alinhada com o exagero de ordem, perfeccionismo e controle.[6][7]
Herança freudiana
[editar | editar código-fonte]O termo "egossintônico" foi introduzido pela primeira vez em 1914, pelo psicanalista Sigmund Freud na obra On Narcissism (Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos, em tradução livre).[8][9] Para Freud, conflitos de ordem psíquica surgem de acordo com o atraso comportamental dos instintos, que acabam entrando em conflito com o ego..[10] Otto Fenichel, psicanalista austríaco da segunda geração, distinguiu a distonia e a sintonia do ego como impulsos mórbidos.[11]
Anna Freud, especialista em psicologia da personalidade, enfatizou que as expressões egossintônicas eram mais difíceis de serem expostas em comparação com as egodistônicas.[12] O psicólogo austríaco Heinz Hartmann utilizou os conceitos de egossintonia e egodistonia em suas obras.[8] De modo geral, psicanalistas abordam a egodistonia como uma evidência direta do comportamento, visto que a egossintonia é abordada como indireta.[13]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Anosognosia
- Dissonância cognitiva
- Orientação sexual egodistônica
- Transtorno obsessivo-compulsivo
- Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Referências
- ↑ Howard Rosenthal, Human Services Dictionary (2003) p. 102
- ↑ D. Williams, The Jumbled Jigsaw (2005) p. 294
- ↑ E. Hollander, Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders (2010) p. 44
- ↑ Jon Halliday/Peter Fuller eds., The Psychology of Gambling (London 1974) p. 236 and p. 31
- ↑ E. Hollander, Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders (2010) p. 92
- ↑ Aardema, F. & O'Connor. (2007). The menace within: obsessions and the self. International Journal of Cognitive Therapy, 21, 182-197.
- ↑ Aardema, F. & O'Connor. (2003). Seeing white bears that are not there: Inference processes in obsessions. Journal of Cognitive Psychotherapy, 17, 23-37.
- ↑ a b J. Palombo et al, Guide to Psychoanalytic Developmental Theories (2009) p. 55
- ↑ Teresa Brennan, The Interpretation of the Flesh (1992) p. 82
- ↑ Sigmund Freud, Case Studies II (PFL 9) p. 206
- ↑ Otto Fenichel, The Psychoanalytic Theory of Neurosis (London 1946) p. 382 and p. 367=8
- ↑ Janet Malcolm, Psychoanalysis: The Impossible Profession (London 1988) p.36
- ↑ Daniel Rancour-Laferriere, Sign and Subject (1978) p. 52