Igreja Católica no Azerbaijão

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IgrejaCatólica

Azerbaijão
Igreja Católica no Azerbaijão
Igreja da Imaculada Conceição, em Baku
Ano 2021[1]
População total 10.223.000[2]
Cristãos 265.798 (2,6%)[3]
Católicos 1.000 (0,01%)[1]
Paróquias 2[1]
Presbíteros 7[1]
Seminaristas 1[1]
Religiosos 2[1]
Religiosas 10[1]
Presidente da Conferência Episcopal José Luís Mumbiela Sierra[4]
Núncio apostólico Marek Solczyński[5]
Códice AZ

A Igreja Católica no Azerbaijão é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. O país é majoritariamente muçulmano,[6] porém, em grande parte a adesão ao islã é apenas nominal, e os níveis de participação religiosa são baixos.[7] Seguindo os padrões dos países de maioria muçulmana, a liberdade religiosa é amplamente limitada e monitorada pelo governo, e o proselitismo é vetado, mesmo para os estrangeiros. Contudo, no geral, a Igreja azerbaijana mantém boas relações com o governo e com outras religiões. Anualmente, o governo paga fundos aos grupos religiosos considerados "tradicionais", incluindo o catolicismo. Geralmente, os que enfrentam mais perseguição e pressão social pela adesão ao cristianismo são os azeris ex-muçulmanos. A lista de perseguição religiosa de 2023 da Fundação Portas Abertas classificou o Azerbaijão como o 59.º país que mais persegue os cristãos.[6][8]

História[editar | editar código-fonte]

O cristianismo chegou à região no século I, quando a região era governada pelo Reino da Albânia. A heresia nestoriana toma conta da Igreja local no século IV, porém, no século VII a região é tomada pelas invasões árabes, impondo o islã. Tensões entre os azeris muçulmanos e armênios cristãos passaram a ser rotina.[8]

Em 1806, o Azerbaijão é invadido pelo Império Russo, dando fôlego à Igreja Ortodoxa Russa. Em 1920, o país passa a ser parte da União Soviética, sendo instituído o Estado ateu. O governo ateu comunista deixou marcas na sociedade azeri, pois, mesmo o islã sofre rígido controle do governo, e a maioria dos muçulmanos seguem as tradições islâmicas simplesmente como uma forma de cultura. Em 2008, uma pesquisa do Centro Gallup mostrou que apenas 21% da população do país considera a religião uma parte importante da vida diária. Isso torna o Azerbaijão o país de maioria muçulmana menos religioso do mundo. Em 1991, diversos russos deixam o país com a independência, enfraquecendo a ortodoxia.[8]

Atualmente[editar | editar código-fonte]

A Lei de Liberdade de Crença Religiosa, que havia sido aprovada em 2009, foi modificada em 2021, provocando indignação ao definir que líderes religiosos não islâmicos teriam que ser pré-aprovados pelo Comitê Estatal para o Trabalho com Associações Religiosas (CETAR), e os grupos que não respeitarem essa legislação terão suas atividades encerradas. Não está claro ainda como isto se aplicaria à Igreja Católica, porque há um acordo assinado entre o governo e a Santa Sé que garante à Igreja o direito de escolher seus líderes de forma independente. Outra alteração da legislação é a exigência de autorização do CETAR para realizar "eventos religiosos de massas" fora dos locais de culto aprovados pelo Estado. Isso pode causar problemas porque o número de participantes para se considerar um evento de massas não foi definido.[6]

No conflito envolvendo a região de Nagorno-Karabakh, a Armênia acusa o governo azerbaijano de destruir, profanar e confiscar deliberadamente igrejas, santuários e artefatos culturais armênios.[6]

Outra situação comum no país é o casamento forçado de mulheres azeris convertidas ao cristianismo com homens muçulmanos, ou também prisão domiciliar, ameaças, abuso verbal e físico. Há também relatos de homens duramente interrogados por familiares após sua conversão ou até por autoridades policiais.[8]

Organização territorial[editar | editar código-fonte]

A Prefeitura Apostólica do Azerbaijão abrange todo o território azeri

O catolicismo está presente no país por meio da Prefeitura Apostólica do Azerbaijão, que abrange todo o seu território.[9] O território azeri tem duas igrejas católicas: a Paróquia da Imaculada Conceição, tida como a pró-catedral e localizada em Baku, e onde são celebradas missas em inglês e russo, e a Paróquia Cristo Redentor, também localizada na capital do país, com missas celebradas em russo.[10]

Conferência Episcopal[editar | editar código-fonte]

O bispo do Azerbaijão faz parte da Conferência dos Bispos da Ásia Central, junto dos bispos do Afeganistão, Cazaquistão, Mongólia, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e do Uzbequistão. O órgão foi criado em 8 de setembro de 2021.[4]

Nunciatura Apostólica[editar | editar código-fonte]

A Nunciatura Apostólica do Azerbaijão foi criada em 1994, e sua sede fica localizada em Tbilisi, capital da vizinha Geórgia.[5]

Visitas papais[editar | editar código-fonte]

O país foi visitado por duas vezes por papas, sendo a primeira vez por São João Paulo II e uma vez pelo Papa Francisco. A primeira viagem foi feita entre os dias 22 e 23 de maio de 2002, e também incluiu a Bulgária.[11] O Sumo Pontífice eloigou a convivência pacífica das religiões que convivem em território azerbaijano.[12]

Honra a vós, homens do Islão, presentes no Azerbaijão, por vos terdes aberto à hospitalidade, um valor tão querido à vossa religião e ao vosso povo, e por terdes aceite os crentes das outras religiões como vossos irmãos. Honra a vós, judeus, que aqui conservastes com coragem e constância os vossos antigos costumes de boa vizinhança, enriquecendo esta Terra com uma contribuição de grande valor e profundidade. Honra a vós, cristãos, que contribuístes de maneira insistente, sobretudo com a antiga igreja dos Albanos, para formar a identidade desta Terra. Honra particularmente a ti, Igreja ortodoxa, testemunha do Deus amigo dos homens e cântico elevado à sua beleza. Quando a fúria do ateísmo se desencadeou sobre esta região, tu ofereceste a hospitalidade aos filhos da Igreja católica, então desprovidos dos lugares de culto e dos pastores que lhes eram próprios, e puseste-los em comunicação com Cristo mediante a graça dos santos Sacramentos. Deus seja louvado por este testemunho de amor, que foi prestado pelas três grandes religiões! Possa ele crescer e ser confirmado, eliminando com o orvalho do afecto e da amizade qualquer resíduo dos focos de oposição!
 
Encontro com líderes políticos, religiosos e artistas, em Baku, no dia 22 de maio de 2002[12].

A segunda viagem ocorreu em 2 de outubro de 2016, incluindo em seu roteiro também a Armênia.[13] O Papa Francisco respondeu a perguntas de jornalistas, dentre elas destaca-se a resposta dada sobre a resolução do conflito entre armenos e azerbaijanos.[14]

Creio que o único caminho seja o diálogo, o diálogo sincero, sem cartas escondidas, sincero, face a face. Negociações sinceras. E, se não é possível chegar a isto, é preciso ter a coragem de ir para um tribunal internacional, ir para Haia por exemplo, e submeter-se ao arbitrado internacional. Não vejo outro caminho. A alternativa é a guerra, e a guerra sempre destrói, com a guerra tudo está perdido! Além disso, para os cristãos, há a oração: rezar pela paz, para que os corações tomem esta via do diálogo, da negociação, ou se vá para um tribunal internacional. Mas não se podem manter problemas assim... Pensai que os três países caucásicos têm problemas: a própria Geórgia tem um problema com a Rússia, não é muito conhecido... mas tem um problema, que pode crescer... não se sabe; e a Arménia é um país sem fronteiras abertas, tem problemas com o Azerbaijão. Deve-se ir para o tribunal internacional, se não avançarem o diálogo e a negociação: não há outro caminho. E a oração, a oração pela paz.
 
Conversa do Papa Francisco com jornalistas em seu voo de retorno de Baku a Roma[14].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g «Catholic Church in Azerbaijan» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  2. «Azerbaijão». Brasil Escola. Consultado em 2 de junho de 2024 
  3. «Azerbaijan» (em inglês). CIA. 22 de maio de 2024. Consultado em 2 de junho de 2024 
  4. a b «Bishops' Conference of Central Asia» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  5. a b «Apostolic Nunciature - Azerbaijan» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  6. a b c d «Azerbaijão». Fundação ACN. Consultado em 2 de junho de 2024 
  7. «National / Regional Profiles» (em inglês). The Association of Religion Data Archives. Consultado em 2 de junho de 2024 
  8. a b c d «Azerbaijão». Portas Abertas. Consultado em 2 de junho de 2024 
  9. «Apostolic Prefecture of Azerbaijan» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  10. «Churches in the Apostolic Prefecture of Azerbaijan» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  11. «Special Celebrations in a.d. 2002» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  12. a b São João Paulo II (22 de maio de 2002). «DISCURSO DO SANTO PADRE». Vatican.va. Consultado em 2 de junho de 2024 
  13. «Special Celebrations in a.d. 2016» (em inglês). GCatholic. Consultado em 2 de junho de 2024 
  14. a b Papa Francisco (10 de fevereiro de 2016). «Coletiva de imprensa do Santo Padre». Vatican.va. Consultado em 2 de junho de 2024