Saltar para o conteúdo

Igreja Católica na China

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Igreja Católica na China
Igreja Católica na China
Imagem de Nossa Senhora na Catedral de Tianjin

O catolicismo na China (天主教, Tianzhu jiao; literalmente "Religião do Senhor dos Céus") tem uma história longa e turbulenta: o cristianismo foi trazido para a China pelos missionários da Igreja do Oriente no século VII, na dinastia Tang.

No seu relatório de 2020 sobre a perseguição aos cristãos no mundo, a organização Open Doors classificou a China em vigésimo terceiro lugar, afirmando que o governo chinês pretende enquadrar todas as crenças religiosas na sua interpretação do comunismo.[1]

Terminologia chinesa

[editar | editar código-fonte]

Os termos usados para se referir a Deus em chinês são diferentes entre os chineses. Ao chegarem na China, durante a dinastia Tang, os primeiros missionários cristãos da Igreja Assíria referiam-se à sua religião no idioma como Jǐng jiào (景教; literalmente o "ensino brilhante").

Quando os missionários católicos começaram a chegar à China, principalmente a partir do século XVI, alguns deles iniciaram o uso do termo Shangdi (上帝, literalmente "O Imperador de Cima") para designar Deus, que seria mais adequado à língua chinesa. Porém, a hierarquia católica e a maior parte dos missionários (principalmente os jesuítas) acabaram por optar pelo termo mais confucionista Tianzhu (天主, literalmente o "Senhor dos Céus"), pelo menos no culto e nos textos oficiais. Dentro da Igreja Católica na China, o termo Gōng jiào (公教, literalmente o "ensinamento universal") é comum, traduzindo literalmente o significado original da palavra "católico".

Quando os protestantes chegaram à China, no século XIX, preferiram o termo Shangdi, em detrimento de Tianzhu. Muitos protestantes também usam o termo Yehehua (耶和华, "Jeová") ou Shen (神) - que significa, de maneira genérica, "deus" ou "espírito", embora os padres católicos sejam também chamados de shen fu (神父, literalmente "pai espiritual").

A transliteração de "Cristo" no chinês mandarim, utilizada por todos os cristãos, é Jidu (基督).

Na dinastina Yuan (1271-1368)

[editar | editar código-fonte]

Os primeiros registos da entrada de missionários europeus católicos na China datam do século XIII, quando a China era governada pela dinastia Yuan. O padre franciscano italiano João de Montecorvino chegou a Pequim (em mongol, Cambalique) em 1294. Em 1299, ele construiu uma igreja e em 1305 uma segunda em frente ao palácio imperial. Ele estudou e aprendeu a língua chinesa e começou a traduzir, para o chinês, o Novo Testamento e os Salmos. Estima-se que estes missionários conseguiram converter entre 6 mil a 30 mil. Em 1307, o Papa Clemente V enviou sete bispos franciscanos para consagrar João de Montecorvino como Arcebispo de Pequim. Os três que sobreviveram à viagem realizaram esta consagração em 1308, tornando-se também sufragâneos de João. Em 1312, mais três bispos franciscanos foram enviados, mas apenas um conseguiu chegar à China. A missão católica na China, sob a orientação de Montecorvino, conseguiu grande êxito na evangelização no Norte e no Leste da China, apesar da oposição assíria oriental. Além de três igrejas na região de Pequim, os missionários ainda estabeleceram missões em Formosa e no porto de Xiamen. Segundo a tradição, Montecorvino teria convertido até o grão-cã e Imperador Khaishan Kuluk (terceiro imperador mongol da China; 1307 - 1311). Montecorvino morreu em 1328. Em 1338, a pedido do grão-cã Togom Temur (o último imperador mongol da China), um total de 50 eclesiásticos foram enviados pelo Papa para Pequim, entre os quais João de Marignolli.

Porém, em 1368, foi implantada a Dinastia Ming e os mongóis foram expulsos da China. Até 1369, todos os cristãos, quer sejam católicos ou orientais, foram expulsos pelos novos governantes Ming. No entanto, seis séculos mais tarde, Montecorvino inspirou um outro franciscano, o Venerável Gabriele Allegra, para ir para a China e completar a primeira tradução da Bíblia católica inteira para a língua chinesa em 1968.

Nas dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911)

[editar | editar código-fonte]
Matteo Ricci com as suas vestes de um letrado chinês confuciano.
Matteo Ricci é considerado o símbolo do primeiro contacto da China com as ciências e a tecnologia europeias, do encontro pioneiro do Evangelho com os intelectuais da raça Han, assim como um dos primeiros intercâmbios entre a cultura chinesa e a ocidental.
Tarcisio Bertone (2007) sobre Matteo Ricci[2]

Durante a grande expansão do trabalho missionário em todo o mundo, na altura da Contrarreforma católica, os jesuítas e outros missionários católicos tentaram outra vez entrar na China. Eles tiveram pouco sucesso no início, mas acabou por ter um forte e duradouro impacto na China, especialmente no diálogo e intercâmbio cultural, científico e artístico com os intelectuais chineses e com a corte da dinastia Ming.[3]

Em 1576, o Papa Gregório XIII erigiu a Diocese de Macau, sendo esta a primeira diocese na China, com jurisdição eclesiástica inicial sobre toda a China e o Japão. Esta diocese, vinculada ao Padroado português, era sufragânea da Arquidiocese de Goa até 1975, quando ela passou a estar na dependência imediata da Santa Sé. Desde a sua criação, a Diocese de Macau, que era na altura uma colónia portuguesa, teve um papel fundamental na evangelização católica do Extremo Oriente, nomeadamente da China. Foi em Macau que os jesuítas, chefiados por Alessandro Valignano, fundaram o Colégio de São Paulo, que foi a primeira instituição universitária de tipo ocidental no Oriente e em Macau. Esta instituição tinha por principal objectivo a formação adequada dos missionários destacados ao Extremo Oriente. Esta formação académica e espiritual incluía a aprendizagem das culturas e línguas orientais (ex.: chinês) e de diversas disciplinas como a teologia, filosofia, matemática, geografia, astronomia, Latim, Português, música e artes.

A missão católica permanente em Pequim foi criada em 1601 pelos esforços de Matteo Ricci. O seu método de evangelização foi bastante subtil e inteligente: despertou primeiro o interesse do Imperador e dos intelectuais chineses pela ciência e cultura ocidentais, fazendo desse interesse e curiosidade o ponto de abertura para a doutrina católica. Ele também fez tentativas de conciliar o catolicismo com os textos clássicos chineses do confucionismo (uma filosofia que ele estudou profundamente), embora ele fosse hostil, juntamente com os outros jesuítas, ao taoísmo e ao budismo.[3]

Ricci morreu em 1610, mas a missão dos jesuítas conseguiu tornar-se numa parte importante da burocracia imperial. Esta importância só acabou no século XVIII. Em 1644, um jesuíta alemão, Adam Schall von Bell, foi nomeado Presidente do Tribunal das Matemáticas pela nova dinastia Chingue. Este organismo importante era um conselho imperial para matérias científicas, nomeadamente para a organização do calendário chinês, para a previsão de eclipses e para a observação astronómica. O Tribunal das Matemáticas também foi presidido mais tarde por outro jesuíta, o padre Ferdinand Verbiest. Outros jesuítas também foram empregados pela corte imperial como matemáticos, astrónomos, mecânicos, músicos, pintores, fabricantes de instrumentos (principalmente de relógios e mapas), e em outras áreas que exigiam um grau superior de competência técnica. Os jesuítas tiveram também um papel importante na assinatura do Tratado de Nerchinsk (1689), considerado o primeiro tratado subscrito pela China com uma potência da Europa, neste caso com o Império Russo.[4] Sobre o engenho e conhecimento científico dos jesuítas em Pequim, o famoso cientista Leibnitz afirmou:

Estes matemáticos, mecânicos e engenheiros deixaram-nos máquinas de mover grandes cargas, máquinas de escrever caracteres chineses, máquinas pneumáticas, hidráulicas de aplicações variadas e de diferentes usos e até relógios hidráulicos; um aqueduto de oito estádios ou seja de 330 metros.
— Leibnitz, Enseignement des Jésuits, Pièces justificatives, n. º 1, p. 259. G. Pjiester, Nolices Biographiques et Bibliographiques, Vol. I, p. 346.[5]

Os missionários católicos, nomeadamente os jesuítas, conseguiram estabelecer-se em várias cidades chinesas e converteram muitos chineses: em 1617, a Igreja contava com 13 mil convertidos; em 1650, já conseguiu 150 mil novos convertidos; e de 1650 até 1664, o número de convertidos aproximava-se dos 255 mil. Em 1650, abriu-se a primeira igreja pública em Pequim, cuja construção foi financiada pelo Imperador Shunzhi, que era um grande simpatizante e protector de Adam Schall. Esta igreja, construída no sítio onde esteve a primeira capela de Pequim (construída por Matteo Ricci), tornou-se mais tarde na Catedral da Imaculada Conceição, que é a actual sede da Arquidiocese de Pequim.[6] Em 1692, o Imperador Kangxi publicou o Édito de Tolerância ao Cristianismo, que concedia a liberdade religiosa aos católicos.[3][4]

Mapa das Dioceses e Vicariatos Apostólicos na China, em 1696. As 3 Dioceses estavam sob a protecção do Padroado português, enquanto que os vicariatos apostólicos estavam sob a supervisão da Propaganda Fide.

Devido ao grande dinamismo e crescimento da Igreja chinesa, o vicariato apostólico de Nanquim foi erigido em 1659 pelo Papa Alexandre VII, a partir da Diocese de Macau. E, em 1690, o Papa Alexandre VIII promoveu este vicariato a diocese de Nanquim e, a partir do vicariato apostólico, erigiu a diocese de Pequim. A partir desta profunda restruturação eclesiástica, o território chinês passou a ser servido e abrangido por 3 dioceses: Nanquim, Pequim e Macau, todas elas vinculadas ao Padroado português e dependentes da Arquidiocese de Goa. Mais tarde, estas dioceses perderam território para constituir novos vicariatos apostólicos.[4][7]

Até 1622, a missão católica na China estava sob protecção exclusiva de Portugal, ou seja, estava vinculada ao Padroado português. Porém, em 1622, foi fundada em Roma a Congregação de Propaganda Fide, que passou a ser responsável pela coordenação e envio de missionários para terras não-conquistadas por europeus. E, em 1659, foram erigidos 3 vicariatos apostólicos (Tonquim, Cochinchina e Nanquim) a partir da Diocese de Macau, mas todos eles chefiados por missionários franceses da Sociedade para as Missões Estrangeiras de Paris, que era apoiada pela Congregação de Propaganda Fide. Porém, em 1690, o vicariato apostólico de Nanquim foi promovido a Diocese de Nanquim e esta diocese foi novamente vinculada ao Padroado português.[7] O Padroado português sofreu um novo golpe em 1685: o Rei francês Luís XIV começou a proteger e enviar jesuítas franceses para a China, rivalizando com os restantes jesuítas e missionários protegidos por Portugal. Esta crescente rivalidade entre a França e Portugal contribuiu também para a controvérsia dos ritos na China. No século XIX, o Padroado português na China, já sucessivamente enfraquecido pelas políticas anti-clericais de Portugal (em 1762 com a supressão da Companhia de Jesus e em 1834 com a extinção das ordens religiosas masculinas), perdeu imensa influência e ficou circunscrito apenas à Diocese de Macau. Por isso, grande parte da evangelização na China passou a ser da responsabilidade dos missionários protegidos por França. Devido às disputas entre o Padroado português e a Congregação de Propaganda Fide, em 1856, as dioceses de Nanquim e de Pequim foram transformadas em vicariatos apostólicos (Kiangnan e Chi-Li Setentrional) e desvinculadas do Padroado português. Em 1890-1891, os missionários alemães na China passaram a ser protegidos pelo Governo alemão, desvinculando-se assim da protecção francesa.[4][8]

Uma ilustração da missão dos jesuítas na China, mostrando, em cima, o Padre Matteo Ricci (à esquerda), o Padre Adam Schall (no centro) e o Padre Ferdinand Verbiest (à direita); e em baixo, os leigos chineses Xu Guangqi (à esquerda) e Candide Hiu (à direita; era a neta de Xu Guangqi).

A tentativa pragmática dos jesuítas (protegidos por Portugal) de conciliar a prática dos ritos chineses e o confucionismo com o catolicismo, através de movimentos intelectuais como o figurismo, levou a conflitos com as outras ordens religiosas, principalmente com os dominicanos (protegidos por Espanha), que chegaram a Pequim das Filipinas em meados do século XVII. Este conflito veio chamar-se de "Controvérsia dos ritos na China" e arrastou-se até ao século XVIII, quando o método pragmático dos jesuítas acabou por ser condenado definitivamente pelo Papa Clemente XI (em 1715) e pelo Papa Bento XIV (em 1742).[9][10]

Devido à controvérsia e às condenações papais, o Imperador Kangxi proibiu as missões cristãs na China, em 1721.[11] O Imperador Yongzheng, filho e sucessor de Kangxi, publicou em 1724 um edital que ordenava o exílio para Cantão de todos os missionários, excepto aqueles que trabalhavam na Corte imperial (na sua maioria, eram jesuítas). Em 1736, o Imperador Qianlong, filho e sucessor de Yongzheng, publicou um edital que proibia o ensino da doutrina católica, sob pena de morte. A partir de 1746, agravaram-se as perseguições aos católicos, primeiro nas cidades e posteriormente no meio rural. E estas perseguições variavam muito de intensidade e de frequência, podendo haver períodos de relativa tolerância entre as vagas de perseguição, visto que tudo dependia da maior ou menor tolerância dos vários imperadores ou do zelo dos mandarins regionais em aplicar os decretos imperiais.[12] Com a supressão da Companhia de Jesus (1762-1773) e a consequente retirada da China desta dinâmica força missionária, a Igreja Católica na China, que naquela altura já contava com 300 mil católicos, ficou ainda mais exposta às sucessivas ondas de perseguição..[13] Em 1784, houve uma nova onda de perseguição aos católicos, com a expulsão de mais missionários e enfraquecendo ainda mais a Igreja: como por exemplo, em 1788, ainda conseguiram sobreviver 30 mil cristãos em Nanquim, mas só havia um missionário "meio cego e surdo" e um padre chinês saudável para os servir. Nas províncias de Guangdong e Guangxi, cuja evangelização era da responsabilidade da Diocese de Macau, havia 15 mil cristãos, mas os seus onze missionários foram todos expulsos ou mortos.[13] Estas perseguições tornaram-se ainda mais severas durante o reinado de Jiajing (1796-1820): muitos católicos chineses e clérigos foram martirizados e um decreto imperial, que foi publicado em 1811, ordenava à busca e captura de missionários estrangeiros (europeus). Naquela altura, só restavam 7 missionários a residirem na Corte imperial com a condição de não desempenharem nenhuma actividade missionária. Mesmo com todas estas dificuldades, a Igreja Católica conseguiu sobreviver clandestinamente na China[4]

Finalmente, a situação começou a melhorar em 1846, quando o Imperador Daoguang ordenou que todos os estabelecimentos pertencentes anteriormente aos cristãos fossem devolvidos aos seus proprietários, e que os oficiais que prendiam cristãos inofensivos deviam ser julgados. Porém, apesar disso, ainda continuou a haver algumas perseguições graves em várias províncias chinesas, nomeadamente em Guangxi e em Guizhou. Aliás, o martírio do padre Auguste Chapdelaine, M.E.P., em Guangxi, no dia 29 de Fevereiro de 1856, serviu de pretexto à França para se juntar ao Reino Unido numa acção militar conjunta contra a China. Na sequência da vitória da aliança anglo-francesa, a China foi obrigada a assinar o Tratado de Tianjin (1858) e a Convenção de Pequim (1860), que concediam, entre outras coisas, a liberdade religiosa a todos os cristãos e vários privilégios às missões cristãs. As antigas igrejas de Pequim foram devolvidas aos lazaristas e passaportes foram imediatamente emitidos para 28 missionários. Estas reivindicações francesas a favor do cristianismo confirmaram o estatuto da França como protectora das missões católicas na China, que eram na altura principalmente operadas pela Sociedade para as Missões Estrangeiras de Paris, pelos lazaristas e pelos jesuítas franceses.[4]

Com as novas leis favoráveis à missionação, a Igreja Católica cresceu muito na China. Porém, os cristãos chineses e os missionários (católicos ou protestantes) passaram a estar cada vez mais associados ao imperialismo ocidental e, por isso, eram periodicamente perseguidos e assassinados pelos radicais chineses antiocidentais. Causado principalmente pelas grandes transformações sócio-económicas e pelas injustiças provocadas em parte pelos tratados desiguais que a China foi forçada a assinar, o ódio ao Ocidente foi crescendo em vários sectores da população chinesa, que tendia tradicionalmente para a xenofobia. E este ódio dificultava a vida da Igreja, que sofria periodicamente perseguições populares antiocidentais que eram por vezes apoiadas pelos mandarins regionais ou locais. A maior e mais sangrenta destas perseguições foi o Levante dos boxers (1899-1900), que teve o apoio da Imperatriz Dowager Cixi e seus aliados conservadores e xenófobos. Nesta rebelião antiocidental, a segurança das missões e dos cristãos em geral tornou-se insustentável e milhares de leigos chineses, missionários ocidentais e sacerdotes católicos, ortodoxos e protestantes foram martirizados pelos boxers chineses. Alguns dos mártires católicos foram canonizados em conjunto no dia 1 de Outubro de 2000 pelo Papa João Paulo II. Depois da vitória da Aliança das Oito Nações sobre os boxers chineses em 1900, a normalidade voltou às missões cristãs, mas o estigma de que o cristianismo era uma importação imperialista ocidental continuou a perdurar em algumas correntes do pensamento nacionalista chinês e, posteriormente, na ideologia do Partido Comunista Chinês.[4]

Na República da China (1911-1949)

[editar | editar código-fonte]

Durante séculos, foi difícil para a Igreja Católica se implantar na China, porque, entre outras razões, ela condenava e proibia os católicos chineses de praticarem os ritos confucianos, principalmente o culto aos antepassados. Para os chineses, esta veneração dos mortos era um rito antigo que expressava a virtude da piedade filial. Mas, para a Santa Sé, este culto era um acto religioso incompatível com a doutrina católica.

Porém, em 1939, o Papa Pio XII revogou as anteriores condenações e proibições à prática dos ritos chineses, cujo significado e práticas sofreram alterações com o tempo. Mais concretamente, o Papa autorizou os católicos chineses a estarem presentes nas cerimónias em honra de Confúcio nos templos confucionistas ou nas escolas; permitiu a presença nas escolas católicas de imagens de Confúcio ou de tabuletas com o nome dele; autorizou os magistrados e os estudantes católicos chineses a assistirem passivamente a cerimónias públicas que aparentam ser supersticiosas; e concordou que era lícito e inquestionável as inclinações de cabeça e outras manifestações civis e tradicionais de respeito para um falecido (e/ou antepassado) ou para as suas imagens.[14]

Principalmente, o Papa Pio XII reconheceu assim que o culto aos antepassados, se não resvalasse na idolatria nem na superstição, era uma maneira honrosa dos chineses de estimar os seus parentes e, portanto, permitida pelos católicos chineses. Isso significava também que o confucionismo foi reconhecido como uma filosofia e uma parte integrante da cultura chinesa, e não como uma religião pagã incompatível com o catolicismo, como antes se pensava. E os ritos chineses, na forma como eram praticados no século XX, foram reconhecidos como ritos essencialmente civis.[15]

O decreto papal mudou a situação eclesiástica na China: a Igreja Católica começou a florescer a um ritmo superior do que antigamente. Aproveitando este momento, o Papa Pio XII estabeleceu uma nova hierarquia eclesiástica local e elevou o Arcebispo de Pequim, Thomas Tien Ken-sin, SVD, ao Colégio dos Cardeais. Depois desta mudança dramática, o governo da República da China estabeleceu relações diplomáticas com o Vaticano, em 1943.[16] Após a Segunda Guerra Mundial, cerca de quatro milhões de chineses eram católicos. Em 1949, a Igreja Católica na China era constituída por:

[editar | editar código-fonte]

Desde o estabelecimento da República Popular da China, em 1949, pelo Partido Comunista Chinês, o catolicismo, como todas as religiões, passou a estar fortemente supervisionado pelo Estado, que é oficialmente ateu. O Estado também determinou que todo o culto católico só era legal quando era conduzido pelas igrejas pertencentes à Associação Patriótica Católica Chinesa, um organismo governamental fundada em 1957 e que não aceita a autoridade do Papa. Em 1951, as autoridades chinesas forçaram a Igreja chinesa de cortar as suas relações com a Santa Sé e com o resto da Igreja Católica.[18]

Os clérigos que resistiram à subjugação da Igreja Católica pelo Estado foram submetidos à opressão, incluindo prisões de vários anos (como no caso do Cardeal Kung Pin-mei), tortura e martírio (como no caso do padre jesuíta Beda Chang). Bispos e sacerdotes foram forçados a trabalhar em empregos degradantes para ganhar a vida. Os missionários estrangeiros foram acusados de serem agentes das forças imperialistas, por isso foram expulsos da China[19] O Papa Pio XII reagiu com várias encíclicas e cartas apostólicas, incluindo Cupimus imprimis, Ad Apostolorum Principis e Ad Sinarum Gentem.

Actualmente, os católicos leais ao Papa que não reconhecem o papel desempenhado pela Associação Patriótica continuam ainda na clandestinidade, porque o Governo chinês continua a persegui-los. Estes católicos clandestinos organizam-se e formam as chamadas Igrejas subterrâneas. Estas Igrejas particulares clandestinas têm os seus próprios padres e bispos, que reconhecem a autoridade do Papa como seu supremo Chefe e que foram ordenados legítima e validamente.[20] Estima-se que, actualmente, há cerca de 8 milhões de católicos clandestinos e 5 milhões de católicos oficiais (aqueles que frequentam as igrejas aprovadas pela Associação Patriótica Católica Chinesa) [21]

Os únicos sítios na República Popular da China onde a Igreja Católica não é perseguida nem controlada são nas regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong, onde a liberdade religiosa é defendida pelos seus textos constitucionais (Lei Básica de Macau e Lei Básica de Hong Kong) e por tratados internacionais (Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau e Declaração conjunta sino-britânica sobre a questão de Hong Kong). Logo, as dioceses de Macau e de Hong Kong não são controladas pela Associação Patriótica.

Pedido de perdão feito por João Paulo II em 2001

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Os 120 Mártires da China

Na sequência da canonização dos 120 mártires chineses (1 de Outubro de 2000) e a consequente reação negativa do Governo comunista chinês, o Papa João Paulo II aproveitou para fazer um pedido de perdão ao povo chinês por todos os "erros e limitações" que foram cometidos por católicos na China. Este pedido de perdão, com um convite ao diálogo com as autoridades chinesas, está contido numa mensagem feita pelo Papa por ocasião do IV centenário da chegada do padre Matteo Ricci a Pequim, no dia 24 de Outubro de 2001. Nesta mensagem, ele enquadrou estes "erros e limitações" num contexto condicionado pela limitação própria "da alma e da ação humana" e "por situações difíceis, relacionadas com acontecimentos históricos complexos e por interesses políticos contrastantes." Não pretendendo emitir um juízo definitivo sobre os complexos períodos históricos, o Papa especificou dois exemplos onde "erros e limitações" foram cometidos: nas "controvérsias teológicas", de entre as quais se destacava a controvérsia dos ritos na China, que contribuiu para o início das perseguições no final do reinado de Kangxi (1654-1722); e na realidade das missões estarem protegidas, em alguns momentos difíceis da história chinesa, pelas potências europeias, dando a falsa impressão de que o cristianismo era um aliado do imperialismo ocidental. O Papa achava que esta proteção, sendo possivelmente uma reação ocidental às perseguições que a Igreja chinesa sofria desde o século XVIII, "revelou-se muitas vezes limitativa para a própria liberdade de ação da Igreja e teve repercussões negativas para a China".[22][23]

Carta de Bento XVI em 2007

[editar | editar código-fonte]

No dia 27 de Maio de 2007, o Papa Bento XVI escreveu uma carta aos católicos chineses para lhes dar "algumas orientações sobre a vida da Igreja e a obra de evangelização na China".[24] Nesta carta, que revogou todas as anteriores "faculdades e directrizes pastorais" dirigidas à Igreja chinesa,[25] o Papa Bento XVI traçou, resumidamente, a situação eclesiástica na China, que é dominada por "tensões e divisões no interior da Igreja".[26] Estas tensões são principalmente causadas por organismos estatais (como a Associação Patriótica Católica Chinesa), "que se impuseram como principais responsáveis pela vida da comunidade católica. Ainda hoje, com efeito, o reconhecimento por parte dos citados organismos é o critério para declarar uma comunidade, uma pessoa ou um lugar religioso legal e, consequentemente, « oficial ». Tudo isto causou divisões tanto entre o clero como entre os fiéis. É uma situação que depende sobretudo de factores externos à Igreja, mas que condicionou seriamente o seu caminho, dando margem a suspeitas, acusações recíprocas e denúncias, e que continua a ser uma sua preocupante fragilidade". O Papa também mencionou que, para obter este reconhecimento legal, estes organismos estatais, "em numerosos casos concretos, aliás quase sempre, [...] obrigam as pessoas envolvidas a assumir posições, a realizar gestos e a assumir compromissos que são contrários aos ditames da sua consciência de católicos". Por isso, o Papa reconheceu que é "difícil determinar a escolha correcta a ser feita", salientando ainda que "numerosos membros da comunidade católica perguntam-se se o reconhecimento por parte das Autoridades civis — necessário para actuar publicamente — comprometa de algum modo a comunhão com a Igreja universal". Dado à difícil situação, o Papa deixou por isso que cada Bispo local, depois de ter ouvido o seu presbitério, decida se deve obter ou não o reconhecimento estatal, porque ele "tem melhores condições de conhecer a situação local, de medir as concretas possibilidades de escolha e de avaliar eventuais consequências dentro da comunidade diocesana"[27]

O Papa, mostrando "disponibilidade para um diálogo respeitoso e construtivo" com as autoridades civis,[28] reconheceu as tensões entre o Vaticano e o Governo chinês:

A finalidade dos organismos estatais de aplicar e "actuar «os princípios de independência e autonomia, autogestão e administração democrática da Igreja», é inconciliável com a doutrina católica, que desde os antigos Símbolos de fé professa a Igreja «una, santa, católica e apostólica».[27]
"Um dos problemas mais delicados nas relações da Santa Sé com as Autoridades do vosso País é a questão das nomeações episcopais. Por um lado, pode-se compreender que as Autoridades governamentais estejam atentas à escolha daqueles que irão desempenhar o importante papel de guias e de pastores das comunidades católicas locais, vistas as valências sociais que — na China como no resto do mundo — tal função tem também no campo civil. Por outro lado, a Santa Sé acompanha com especial cuidado a nomeação dos Bispos, porque esta toca o próprio coração da vida da Igreja, enquanto a nomeação dos Bispos por parte do Papa é garantia da unidade da Igreja e da comunhão hierárquica. Por este motivo, o Código de Direito Canónico (cf. cân. 1382) estabelece graves sanções seja para o Bispo que confere livremente a ordenação episcopal sem mandato apostólico, seja para aquele que a recebe: tal ordenação representa de facto uma dolorosa ferida na comunhão eclesial e uma grave violação da disciplina canónica.".[29]

Por esta razão, um obstáculo importante para o restabelecimento das relações entre o Vaticano e Pequim tem sido precisamente a questão da nomeação dos bispos, com ambas as partes a reclamarem este direito importante. Esta divisão fundamental foi atenuada nos últimos anos, porque muitos bispos nomeados pelo Governo chinês e consagrados "sem o mandato pontifício [...] pediram para ser acolhidos na comunhão com o Sucessor de Pedro e com os demais Irmãos no episcopado", um pedido que a Santa Sé aceitou.[30] Em 2006, o Governo chinês parou de ordenar bispos sem a aprovação pontifícia, quando ambos os lados passaram a adoptar uma prática de acordo informal sobre os candidatos mutuamente aceitáveis.[18] E, em Setembro de 2007, um bispo-coadjutor da Diocese de Guiyang foi conjuntamente nomeado pelo Vaticano e pela Associação Patriótica Católica Chinesa, constituindo um sinal de maior aproximação entre as duas partes[31]

Porém, existe ainda vários acontecimentos que continuam a dificultar a reconciliação entre o Vaticano e a China, nomeadamente a ordenação ilícita pela Associação Patriótica de um novo bispo em Chengde, sem a aprovação da Santa Sé, em 2010..[18][32] Também em 2010, o Governo chinês, sem a autorização do Vaticano, organizou uma assembleia nacional de representantes católicos e forçou a participação de "vários bispos, padres, religiosos e leigos" fiéis ao Papa. Neste encontro, foi "eleito" o presidente nacional da Associação Patriótica Católica Chinesa e o presidente do Conselho dos Bispos Chineses, dois organismos governamentais que tentam construir uma Igreja independente da autoridade do Papa.[33][34][35] E, somando a estes acontecimentos, existe ainda vários bispos chineses que não pediram o reconhecimento da Santa Sé. O Papa afirmou que estes bispos "devem ser considerados ilegítimos, mas validamente ordenados, sempre que se tenha a certeza de que receberam a ordenação de Bispos validamente ordenados e que foi respeitado o rito católico da ordenação episcopal. Estes, portanto, embora não estejam em comunhão com o Papa, exercem validamente o seu ministério na administração dos sacramentos, mesmo que de modo ilegítimo". Logo, os padres ordenados por estes bispos ilegítimos também são considerados válidos[30]

Nesta carta, o Papa afirmou que os fiéis devem, "na medida do possível, procurar Bispos e sacerdotes que estejam em comunhão com o Papa", podendo eles serem reconhecidos ou não pelas autoridades civis e pertencerem ou não aos "organismos queridos pelo Estado e alheios à estrutura da Igreja", desde que este reconhecimento estatal "não suponha a negação de princípios irrenunciáveis da fé e da comunhão eclesiástica". Todavia, quando os fiéis não conseguirem encontrar clérigos reconhecidos pela Santa Sé, "podem, por exigência do próprio bem espiritual, dirigir-se também àqueles que não estão em comunhão com o Papa".[36]

O Papa, mencionando a divisão entre os católicos clandestinos (aqueles que são perseguidos pelo Governo chinês, porque são publicamente leais ao Papa e não reconhecem o papel desempenhado pela Associação Patriótica Católica Chinesa) e os católicos oficiais (aqueles que frequentam as igrejas controladas pela Associação Patriótica), afirmou várias vezes que estes dois grupos de católicos são, no fundo, membros da única Igreja Católica, mas que não se puderam unir por razões e circunstâncias externas (a interferência dos organismos estatais, a ausência de relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República Popular da China, etc.). O Papa exortou ainda que estes dois grupos, mesmo que não possam unir-se estruturalmente, devem procurar mutuamente o perdão e a "reconciliação espiritual", para preparar o caminho para uma futura união visível. Resumindo, Bento XVI declarou que os católicos que participam nas actividades organizadas pela Associação Patriótica não são cismáticos e que os sacramentos administrados nestas igrejas oficiais são válidos. É de notar que a Igreja oficial não é sinónimo de Associação Patriótica, que é só um organismo estatal que limita a liberdade religiosa da Igreja Católica.[26][27][36][37]

Referências

  1. OpenDoors World Watch List 2020. [S.l.]: OpenDoors. 2020. 34 páginas 
  2. HOMILIA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE NA MISSA PARA OS ESTUDANTES DE TEOLOGIA PARTICIPANTES DO CURSO SOBRE O TEMA: "MATTEO RICCI. DIÁLOGO ENTRE A CHINA E O OCIDENTE" (2007)
  3. a b c "Ricci (Matteo)", no Evangelization Dictionay Online do FOJP Online School of Evangelization: páginas 1, 2 e 3 (em inglês)
  4. a b c d e f g The Church in China, na Enciclopédia Católica (1913)
  5. Monsenhor Manuel Teixeira, "Bispos, Missionários, Igrejas e Escolas: no IV Centenário da Diocese de Macau" (Macau e a sua Diocese, Vol. 12), Macau, Tipografia da Missão do Padroado, 1976; pág. 99
  6. Johann Adam Schall von Bell, na Catholic Encyclopedia
  7. a b «Padroado Português do Oriente». Consultado em 28 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 18 de fevereiro de 2010 
  8. Padroado ultramarino português, na Infopédia
  9. Mantienne, Frédéric 1999 Monseigneur Pigneau de Béhaine, Editions Eglises d'Asie, 128 Rue du Bac, Paris, ISSN 12756865 ISBN 2914402201; p. 180
  10. "Ricci (Matteo)", no Evangelization Dictionay Online do FOJP Online School of Evangelization: página 3 (em inglês)
  11. China in Transition, 1517-1911, Dan J. Li, trans. (New York: Van Nostrand Reinhold Company, 1969), p. 22.
  12. Alberto Garuti, A China também tem seus santos[ligação inativa], in Revista "Mundo e Missão".
  13. a b Monsenhor Manuel Teixeira, "Bispos, Missionários, Igrejas e Escolas: no IV Centenário da Diocese de Macau" (Macau e a sua Diocese, Vol. 12), Macau, Tipografia da Missão do Padroado, 1976; págs. 64 e 102
  14. S.C.Prop. Fid., 8 Dec., 1939, AAS 32-24
  15. Jan Olav Smit, Pope Pius XII, Burns Oates & Washburne, London, Dublin, 1951; p. 186-187
  16. Jan Olav Smit, Pope Pius XII, London, 1951, p. 188
  17. Alberto Giovanetti, Pio XII parla alla Chiesa del Silenzio, Milano, 1959, p. 230
  18. a b c Bishops for pawns, Economist, 25 de Novembro de 2010
  19. Alberto Giovanetti, Pio XII parla alla Chiesa del Silenzio, Milano, 1959, p. 232
  20. «Catholicism still illegal in China: Cardinal Kung Foundation». Consultado em 16 de setembro de 2010. Arquivado do original em 2 de abril de 2007 
  21. China names new Catholic bishop (BBC; 7 de Maio de 2006)
  22. João Paulo II, Mensagem do Santo Padre por ocasião do IV centenário da chegada do padre Matteo Ricci a Pequim (24 de Outubro de 2001), no site oficial da Santa Sé.
  23. Ernesto Arosio, Papa pede perdão ao Povo chinês Arquivado em 22 de junho de 2012, no Wayback Machine., na revista Mundo e Missão.
  24. Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 2 (2007)
  25. Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 18 (2007)
  26. a b Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 6 (2007)
  27. a b c Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 7 (2007)
  28. Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 4 (2007)
  29. Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 9 (2007)
  30. a b Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 8 (2007)
  31. Vatican approval for Guiyang Episcopal ordination made public, Asia News, 9 de Outubro de 2007
  32. China church ordains bishop over Vatican objection, denverpost.com, 19 de Novembro de 2010
  33. Liberdade Religiosa: Pequim rejeita acusações do Vaticano Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine., Agência Ecclesia, 22 de Dezembro de 2010
  34. Igreja Chinesa inicia assembléia sem aprovação do Vaticano, Associação Cultural Montfort
  35. Vatican in new clash with China over church, Associated Press, 17 de Dezembro de 2010
  36. a b Carta de Bento XVI aos bispos, aos presbíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da Igreja Católica na República Popular da China; n. 10 (2007)
  37. Compendium of the Letter of the Holy Father Pope Benedict XVI to the Bishops, Priests, Consecrated Persons and Lay Faithful of the Catholic Church in the People’s Republic of China (2007), p. 1, 8 e 9
  • Vincent Cronin, Wise Man from the West, Fortuna Books, Londres, 1955 (sobre Matteo Ricci)
  • C. W. Allen, Kelly & Walsh, Jesuits at the Court of Peking, Xangai, c.1933

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]