Igreja Paroquial de Aljustrel
Igreja Paroquial de Aljustrel | |
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Escadaria para o adro e fachada principal da igreja. | |
Informações gerais | |
Nomes alternativos | Igreja Matriz de Aljustrel / Igreja do Santíssimo Salvador |
Estilo dominante | Barroco e Maneirismo |
Inauguração | Século XV |
Diocese | Diocese de Beja |
Património de Portugal | |
SIPA | 921 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Aljustrel |
Região | Alentejo |
Coordenadas | 37° 52′ 49,7″ N, 8° 09′ 54,1″ O |
Localização em mapa dinâmico |
A Igreja Paroquial de Aljustrel, igualmente conhecida como Igreja Matriz de Aljustrel, Igreja do Santíssimo Salvador ou Igreja de São Salvador, é um monumento religioso na vila de Aljustrel, na região do Baixo Alentejo, em Portugal. O edifício foi originalmente construído no século XV,[1] tendo sido alvo de várias campanhas de modificação e reconstrução ao longo da sua história.[2] Destaca-se pelas suas dimensões imponentes[3] e pela riqueza dos azulejos no interior,[4] sendo considerado como um dos principais monumentos de Aljustrel.[5]
A igreja é considerada como um dos principais monumentos no município, sendo de grande importância do ponto de vista cultural, religioso e arquitectónico.[6]
Descrição
[editar | editar código-fonte]A igreja situa-se no Largo de Nossa Senhora de Fátima, no centro da vila de Aljustrel, numa plataforma sobre uma encosta, formando um adro.[2] O imóvel integra-se principalmente nos estilos maneirista[4] e barroco.[2] Destaca-se pelas suas grandes dimensões, sendo considerada uma das maiores igrejas na sua tipologia em território nacional,[3] tendo cerca de 23 m de comprimento por 10 m de largura, e paredes com mais de 2 m de espessura.[4] Apresenta uma planta longitudinal,[2] com uma só nave, capela-mor, capelas laterais, uma torre sineira e outras dependências.[2] A fachada principal, virada para oriente, tem três panos divididos por pilastras em argamassa, abrindo-se no centro um portal de verga recta sobrepujado por um janelão, possuindo ambos molduras em cantaria.[2] A fachada termina num frontão triangular, onde se abre um óculo.[2] Adossada à fachada Sul está a torre, rasgada por quatro sineiras, e que tem cobertura em cúpula, rodeada por urnas.[2] Destacam-se igualmente os contrafortes no lado Norte do templo.[2] Nos princípios da década de 1980 existiam três sinos, todos com a mesma inscrição: «Igreja Matriz de Aljustrel - Feito em Lisboa pelo artífice António Alves Guerreiro - Ano de 1820 - sendo o Rev.º Padre Prio Domingos Tenente».[7]
A nave está coberta por uma abóbada lisa,[3] que é suportada apenas pelas paredes laterais, sendo provavelmente a maior nave em abóbada na região do Alentejo.[1] Conta com duas capelas laterais, uma dedicada a Santa Bárbara, espelhando o passado mineiro de Aljustrel, e outra a São Nuno de Santa Maria.[3] No lado do Evangelho encontra-se um baptistério e um púlpito de planta quadrada, elaborado no século XIX, enquanto que na parede oposta surge uma capela lateral, cujo frontal de altar está decorado com azulejos.[2] O arco triunfal é ladeado por quatro capelas, duas laterais e duas colaterais, com retábulos.[2] A capela-mor tem cobertura em abóbada de berço, tal como as dependências da casa da Confraria do Santíssimo Sacramento e da sacristia.[2] No altar-mor encontra-se um trono polícromo,[2] onde está implantada a imagem do padroeiro, o Santíssimo Salvador.[3] Destaca-se igualmente o painel de azulejos polícromos no frontal do altar-mor, elaborado no século XVII, que é considerado uma peça de grande valor do ponto de vista artístico,[4] e onde se retrata a figura do Divino Salvador do Mundo.[3] É atribuído ao célebre artista espanhol Gabriel del Barco, tendo sido considerado pelo investigador Santos Simões como uma peça de grande valor do ponto de vista artístico.[8] O outro painel de azulejos, situado no frontal do altar na capela lateral, poderá ser do mesmo autor.[9] No interior da igreja também é de interesse o coro alto em madeira, suportado por duas colunas, a pia de água benta, e a sacristia, onde se encontra um lavabo do século XVII.[3] No lado esquerdo do altar-mor encontra-se uma outra capela lateral, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, e que terá sido construída por ordem do escudeiro Diogo Coelho.[4] Durante um longo período este espaço funcionou como capela mortuária de um cemitério que estava situado no adro, tendo acesso apenas pelo exterior do edifício.[4] Na capela-mor encontra-se uma placa comemorativa de uma visita feita pela imagem de Nossa Senhora de Fátima em 1947: «Comemoração da visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima que se venera na Cova da Iria a Aljustrel sendo bispo da diocese D. José Patronício e pároco da freguesia Pe. José Guerreiro Simões. 17-11-1947».[7] Em termos de azulejaria, destaca-se também um conjunto de três peças e meia no interior do santuário, que foram descritas pelo Dr. Rafael Salinas Calado, director do Museu Nacional do Azulejo, como «com o desenho executado a castanho manganês e a pintura azul com amarelo, representando flores constitutem espécies muito raras, as únicas que se conhecem no Alentejo.[7]
História
[editar | editar código-fonte]O edifício primitivo da igreja foi construído provavelmente nos princípios do século XV, pela Ordem de Santiago.[1] As mais antigas referências à igreja são de 1478, como parte da apresentação do prior João Annes Mouta.[3] Porém, o local onde se situa foi ocupado pelo menos desde a época islâmica, tendo sido descobertos alguns silos daquela cronologia na área em redor.[10] Nos registos da visitação de 1482 refere-se que a igreja tinha sido visitada por um grupo de fidalgos e cavaleiros que pertenciam à Ordem de Santiago, composto por Gil Vaz da Cunha, Duarte Furtado de Almeida e Álvaro Dias.[3] Em 1510 foi novamente registada numa visitação, feita por D. Jorge, filho do rei D. João II e mestre da Ordem de Santiago, que relata que o santuário foi fundado por Fernão de Mascarenhas, comendador de Aljustrel nos reinados de D. Duarte e D. Afonso V.[3] Nesta crónica também se faz a descrição do santuário: «o altar mor era de alvenaria, forrado de azulejos, com dois degraus, também forrados de azulejos e sobre o altar, nas costas da capela mor estava pintado a imagem de Deus Padre e a parte direita do altar, está pintada a Verónica, com o vulto de Nosso Senhor e a imagem de São João e da outra parte do altar estava Santiago a Cavalo com muitos mouros diante dele e as paredes da dita capela eram de pedra e cal, forradas e pintadas a matiz e o tecto pintado de folhagem... o corpo da igreja é de uma só nave e fundado sobre três arcos de tijolo e as paredes de pedra e de cal e era forrada de cortiça... e as paredes com muitas imagens de santos e aves no cruzeiro da ousia estava pintado um crucifixo com Nossa Senhora de uma parte de São João da outra e nas paredes do dito cruzeiro dois altares, o da direita era de alvenaria forrado com todo o seu degrau ao pé de azulejos e estava pintado sobre o dito altar o Espírito Santo e pela ilharga dele Santa Catarina e outros santos e as armas de Fernão de Mascarenhas, que foi o comendador que a dita igreja fez... e à porta da dita igreja estava um alpendre fundado sobre três esteios de tijolo.»[11] D. Jorge relatou igualmente que a igreja tinha emprestado as suas riquezas ao rei Afonso IV, para ajudar nas campanhas na costa africana: «Porquanto achamos que El Rei meu Senhor deve certa prata às igrejas daquela que El Rei Don Afonso, meu avô mandou tomar, a qual agora manda pagar... que vão requerer ao pagador da dita prata que dizem que é Diogo Fernandes Cabral que lha pague... o que cumprirão da notificação desta a quatro meses sob a dita pena».[7]
O documento da visitação de 1533, feita por Álvaro Mendes, cavaleiro da Ordem de Santiago, e o padre Afonso Roiz, prior da Igreja de São Pedro de Palmela, regista que existia uma pia baptismal em pedra muito boa e lavrada em oitavo, e que o acervo da igreja incluía uma custódia em prata branca, em forma de copa ou taça cerrada, e que pesava quatro marcos menos dois reais, de prata.[11] Foi igualmente mencionada a a capela lateral, que estava encravada na parede do lado esquerddo do altar, que tinha acesso apenas pelo adro, e que provavelmente serviria como a capela do cemitério, que esteve instalado no adro da igreja.[11] Refere-se que «a dita capela, de Nossa Senhora da Conceição, foi agora edificada por Diogo Coelho, Escudeiro, da dita vila morador, o qual apareceu perante nós e disse que ele edificara a dita capela com propósito e fundamento de ali fazer a sua sepultura e e ainda não tinha dotado a dita capela com coisa alguma, porém, ele tinha vontade de apropriar alguns bens, para lhe dizerem algumas missas por sua alma e isso faria segundo Deus lhe desse a entender».[11] Esta capela lateral também foi referida na visitação de 1533, confirmando-se que tinha sido construída por Diogo Coelho e pela sua esposa Leonor Faleira, que já tinham falecido, e que tinham ordenado a Afonso Coelho que fizesse ali obras de reparação, e pintar uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sobre o altar, que seria forrado a azulejos.[11]
Segundo os documentos relativos à visitação de 1565, em 1546 começou a ser construído um novo edifício da igreja matriz no mesmo sítio da anterior, tendo as obras terminado em 1559.[4] O presente edifício foi construído durante a primeira metade do século XVIII.[2] Nos princípios do século XIX foi executado o retábulo e a tribuna do púlpito, e na segunda metade da centúria foi construído o coro alto e a teia.[2] Em meados do século XX foram instalados os frontais de azulejaria,[2] e em 1947 o santuário foi visitado pela imagem de Nossa Senhora de Fátima, tendo sido colocada uma placa comemorativa na capela-mor.[7] Em 1996 foi novamente alvo de obras, durante as quais foi instalado um novo pavimento na nave.[2]
Em Novembro de 2020, foi aprovada uma candidatura aos fundos comunitários, para a realização de obras de restauro e beneficiação da Igreja.[12] Esta candidatura foi feita pela Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Aljustrel, como parte da iniciativa Operação Renovação de Aldeias, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2020,[13] tendo sido contemplada com uma taxa de apoio de 80%, correspondendo a 160 mil Euros,[12] num investimento total de cerca de 169 mil Euros.[13] O restante valor foi parcialmente coberto pela autarquia, que também procurou apoio financeiro por parte das empresas industriais no município,[12] tendo a obra sido parcialmente financiada pela Almina, a companhia responsável pelas minas.[14] A autarquia responsabilizou-se igualmente pela elaboração dos planos técnicos e o acompanhamento das obras, que iriam abrangir principalmente o restauro das coberturas do edifício, com a instalação de novas estruturas de madeira e dos telhados, recuperação dos beirados e outras intervenções.[13] Em 2 de Junho de 2021 foi assinado o contrato para o início da empreitada,[13] tendo as obras começado no mês seguinte.[15]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Lista de património edificado em Aljustrel
- Capela da Misericórdia de Aljustrel
- Castelo de Aljustrel
- Edifício dos Correios de Aljustrel
- Hospital de Aljustrel
- Igreja Matriz de Messejana
- Basílica Real de Castro Verde
- Capela de São Bartolomeu
- Igreja Paroquial de Ervidel
- Igreja Paroquial de Ferreira do Alentejo
- Igreja Paroquial de Santa Maria de Odemira
- Igreja Paroquial de São João de Negrilhos
- Igreja Paroquial do Salvador de Odemira
- Termas de São João do Deserto
Referências
- ↑ a b c «Aljustrel». Câmara Municipal de Aljustrel. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q FALCÃO, José; PEREIRA, Ricardo (1996). «Igreja Paroquial de Aljustrel / Igreja do Santíssimo Salvador». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 31 de Julho de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j «Igreja Matriz de Aljustrel». Paróquia de Aljustrel. Consultado em 31 de Julho de 2022
- ↑ a b c d e f g «Património e turismo». União das Freguesias de Aljustrel e Rio de Moinhos. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ «Igreja Matriz de Aljustrel vai ser recuperada» (PDF). Boletim Municipal de Aljustrel (249). Aljustrel: Câmara Municipal de Aljustrel. Dezembro de 2020. p. 4. Consultado em 2 de Agosto de 2022
- ↑ «Igreja Matriz de Aljustrel vai ser reabilitada». O Digital. 18 de Novembro de 2020. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ a b c d e LOBATO, 1983:90-91
- ↑ «Aljustrel». Solares de Portugal. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ CARVALHO, Maria do Rosário (2012). A pintura do azulejo em Portugal [1675-1725]. Autorias e biografias - um novo paradigma (anexo A) (PDF) (Tese de Doutoramento). Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. p. 3. Consultado em 2 de Agosto de 2022
- ↑ LOBATO, 1983:40
- ↑ a b c d e LOBATO, 1983:87-88
- ↑ a b c «Igreja Matriz de Aljustrel vai ser recuperada». Rádio Pax. 19 de Novembro de 2020. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ a b c d «Obras de beneficiação da Igreja Matriz de Aljustrel avançam em julho». Correio Alentejo. 4 de Junho de 2021. Consultado em 1 de Agosto de 2022
- ↑ «Almina entrega apoios a coletividades do concelho de Aljustrel». Correio Alentejo. 13 de Julho de 2021. Consultado em 10 de Agosto de 2022
- ↑ ALVES, Ana Teresa (6 de Agosto de 2021). «Igreja Matriz de Aljustrel alvo de trabalhos de recuperação». Sul Informação. Consultado em 1 de Agosto de 2022
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- LOBATO, João Rodrigues (2005) [1983]. Aljustrel: Monografia. Aljustrel: Câmara Municipal de Aljustrel. 432 páginas
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Igreja Paroquial de Aljustrel / Igreja do Santíssimo Salvador na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
- «Página sobre a Igreja Paroquial de Aljustrel, no sítio electrónico Wikimapia»
- «Página sobre a Igreja Paroquial de Aljustrel, no sítio electrónico All About Portugal»