Julgamento das bruxas de Lisboa
O julgamento das bruxas de Lisboa ocorreu entre 1559 e 1560, em Lisboa, tendo sido decretada a execução de cinco mulheres na fogueira pelo crime de heresia e bruxaria. O julgamento gerou um inquérito geral em Portugal, a pedido da rainha D. Catarina, viúva de D. João III e regente durante a menoridade de D. Sebastião, que resultou num segundo julgamento, onde 27 mulheres e um homem foram acusados do mesmo crime, sendo uma das acusadas condenada à morte no ano seguinte.[1] Este foi o único julgamento de bruxas com múltiplas sentenças de morte que ocorreu em Portugal.
O julgamento
[editar | editar código-fonte]O julgamento das bruxas de Lisboa foi o primeiro dos dois únicos casos instaurados nos tribunais seculares portugueses pelo crime de bruxaria, sendo considerado ímpar em Portugal, uma vez que a acusação por esse crime normalmente não resultava numa condenação ou sentença de morte.
Em 1559, Gomes Soares, desembargador e ouvidor do duque de Aveiro, levou de Aveiro para Lisboa, várias mulheres suspeitas de praticarem feitiçaria.[2] Nos autos do julgamento, nenhum dos nomes das acusadas foi registado. Uma das mulheres confessou ter tido relações sexuais com o Diabo, alegando que o ato era mais prazeroso do que sexo com homens mortais, enquanto outra confessou ter matado mais de 200 bebés.[3] Entre as suas confissões, por se apresentarem com as vestes rasgadas, sujas e com marcas visíveis de tortura, as mulheres afirmaram que o Diabo e os seus demónios as visitavam na prisão e as puniam com violência pelas suas confissões.[4] Cinco mulheres foram sentenciadas à morte na fogueira, tendo a sua execução ocorrido no Largo do Rossio.[5][6]
Devido ao escândalo e agitação social que se gerou pela gravidade das confissões das mulheres acusadas e a sua execução, a rainha D. Catarina ordenou o levantamento de mais um inquérito geral sobre as práticas de bruxaria em Portugal, que resultou na prisão de 27 pessoas, sendo uma mulher condenada à morte em Coimbra.[6] As restantes 25 mulheres e um homem foram condenados a outras punições, como a prisão, o banimento e castigos corporais como o açoitamento.[7]
Após o caso, não existiram mais julgamentos por bruxaria ou feitiçaria nos tribunais seculares. Apenas o Tribunal da Inquisição Portuguesa levou a julgamento mais de 800 pessoas pelo mesmo crime, sendo quatro pessoas sentenciadas à morte entre 1626 e 1744.[8] Das pessoas sentenciadas, apenas uma foi efetivamente executada, Luís de la Penha, em Évora em 1626.[9] Muitos dos acusados morreram, no entanto, nos calabouços ou celas da Inquisição Portuguesa enquanto aguardavam julgamento ou a sua execução, vítimas de maus-tratos, tortura, negligência ou doença.[1][10]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b Burns, William E. (30 de outubro de 2003). Witch Hunts in Europe and America: An Encyclopedia (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing USA
- ↑ Coelho, António Borges (8 de março de 2018). Inquisição de Évora 1533-1668. [S.l.]: Leya
- ↑ «Confissão de duas bruxas que queimaram na cidade de Lisboa no ano de 1559 pelo juizo secu...». purl.pt (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2023
- ↑ Revista brasileira de lingüística. [S.l.]: Editora Vozes. 2003
- ↑ Ler história. [S.l.]: Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa. 1983
- ↑ a b Coelho, António Borges; Baptista-Bastos (1993). O nome das ruas. [S.l.]: Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa
- ↑ «"Papéis vários" - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 14 de agosto de 2023
- ↑ Brian P. Levack, The Oxford Handbook of Witchcraft in Early Modern Europe and Colonial America
- ↑ Steven T. Katz, The Holocaust in Historical Context: The holocaust and mass death before the modern age
- ↑ Program, Richard M. Golden Director, Jewish Studies (30 de janeiro de 2006). Encyclopedia of Witchcraft [4 volumes]: The Western Tradition [4 volumes] (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing USA
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Brian P. Levack: The Oxford Handbook of Witchcraft in Early Modern Europe and Colonial America
- Rego, Yvonne Cunha (ed. ) -- Feiticeiros, profetas e visionários. Textos antigos portugueses, Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1981, p. 13-21.
- http://www.suppressedhistories.net/secrethistory/ReignD.pdf
- Steven T. Katz: O Holocausto no Contexto Histórico: O holocausto e a morte em massa antes da era moderna