Madraça Ulugue Begue (Bucara)
Madraça Ulugue Begue Ulugʻbek madrasasi | |
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Informações gerais | |
Tipo | Madraça |
Construção | 1417–1420 |
Religião | Islão sunita |
Património Mundial | |
Ano | 1993 [♦] |
Referência | 602 en fr es |
Geografia | |
País | Usbequistão |
Cidade | Bucara |
Coordenadas | 39° 46′ 36″ N, 64° 25′ 03″ L |
Localização em mapa dinâmico | |
Notas:
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A Madraça Ulugue Begue (em usbeque: Ulugʻbek madrasasi) é uma madraça (escola islâmica) no centro histórico de Bucara, um sítio classificado como Património Mundial pela UNESCO no Usbequistão.[1] É um dos poucos edifícios do período timúrida em Bucara e nas suas vizinhanças, juntamente com Chashma Ayub. Foi fundada por Ulugue Begue, um neto de Tamerlão que foi governador da Transoxiana antes de ascender ao trono timúrida em 1447.[2]
Tendo começado a ser construída em 1417 ou 1420,[2] tem sensivelmente a mesma idade que a sua homónima em Samarcanda,[3] embora segundo algumas fontes seja ligeiramente mais antiga.[4] É alguns anos mais mais velha do que uma terceira madraça com o mesmo nome, situada em Gʻijduvon), umas dezenas de quilómetros a norte de Bucara,[5]
História e contexto
[editar | editar código-fonte]Quando foi construída, Bucara era uma cidade pouco importante, que ainda não tinha recuperado da destruição praticamente total levada a cabo por Gêngis Cã em 1220. Durante o reinado de Tamerlão (r. 1370–1405) houve alguns indícios ou tentativas de recuperação sem sucesso assinalável, nomeadamente com a construção duma grande mesquita nos moldes da Mesquita de Bibi Canum de Samarcanda. A construção da madraça representou o primeiro sinal do renascimento cultural que viria a ocorrer no século XVI, quando a cidade se tornou a capital do Canato de Bucara dos xaibânidas. Isso porque a existência duma madraça importante atrairia eruditos e cientistas de todo o mundo muçulmano, empenhados em promover a devoção islâmica e o conhecimento.[2]
Como a sua homónima de Samarcanda, a madraça apresenta sinais da paixão de Ulugue Begue pela astronomia, nos estrelas presentes na decoração das superfícies exteriores, pela matemática, nos padrões geométricos girikh, e pelo conhecimento em geral e pelo islão, por duas inscrições — uma na fachada, onde se lê «é dever sagrado de todo o muçulmano, homem ou mulher, procurar o conhecimento»; noutra, numa porta, lê-se «acima do círculo de pessoas bem instruídas no conhecimento dos livros, a sabedoria abre as portas das bênçãos de Alá a todo o instante».[6]
O nome do arquiteto da madraça é conhecido através duma inscrição em forma de estrela que está na parte superior do portal principal onde se lê «Ismael, filho de Thair, filho do mestre Mamude de Isfahã».[6] O seu nome sugere que pode ter sido neto dum dos mestres de obras e artesãos capturados pelas tropas de Tamerlão no Irão que foram forçados a ficar na Ásia Central. As outras duas madraças com o nome de Ulugue Begue têm o mesmo estilo arquitetónico, o que sugere que o arquiteto foi o mesmo.[2]
Arquitetura
[editar | editar código-fonte]O edifício apresenta as mesmas caraterísticas de quase todas as madraças centro-asiáticas. O elementos básicos são a planta retangular, uma pátio interior amplo ao ar livre, rodeado de galerias que dão acesso às hujras (quartos dos estudantes) de dois pisos e pelo menos uma entrada monumental, feita por um ivã com Pistaques. A Madraça Ulugue Begue de Bucara segue esses padrões, mas inclui algumas caraterísticas pioneiras. Uma delas é a entrada principal dar para uma pequena antecâmara que se divide em três direções, dando acesso ao pátio, à mesquita e a uma sala de aulas. Outra particularidade é um ambulatório coberto percorre o interior do piso superior, que proporciona uma passagem contínua para os ocupantes. Finalmente, o ivã traseiro apresenta uma protuberância significativa, que se estende para norte, formando uma extensa área de sombra que provavelmente era usada para aulas ao ar livre. Nas esquinas noroeste e nordeste há salas de aula interiores, chamadas darskhanas.[2]
Originalmente em cada um dos ângulos exteriores havia uma guldasta (uma espécie de minarete), como é usual nas madraças da Ásia Central. As guldastas desapareceram e não foram reconstruídas em nenhuma das intervenções de restauro feitas ao longo dos séculos.[2]
A fachada exterior sul é decorada com ladrilhos vidrados coloridos, que inclui uma faixa "cordada" em volta da moldura interna do pishtaq. O eixo do edifício está praticamente alinhado na direção norte-sul, com uma inclinação de cerca de 10 graus para sudoeste para que a parede da quibla da mesquita fique orientada em direção a Meca. Cerca de 130 anos depois da construção da Madraça Ulugue Begue, Abdal Aziz Khan construiu outra madraça a sul, no mesmo eixo, criando um conjunto de edifícios em par, seguindo o princípio de planeamento urbano conhecido como kosh, que está presente noutros locais de Bucara, como por exemplo no par formado pela Mesquita Kalyan e pela Madraça Miriárabe.[2]
Notas
Referências
- ↑ Historic Centre of Bukhara. UNESCO World Heritage Centre - World Heritage List (whc.unesco.org). Em inglês ; em francês ; em espanhol. Páginas visitadas em 20 de novembro de 2020.
- ↑ a b c d e f g «Ulugh Beg Madrasa, Bukhara, Uzbekistan» (em inglês). Asian Historical Architecture. www.orientalarchitecture.com. Consultado em 20 de novembro de 2020
- ↑ «Ulugʻbek Madrasasi, Bukhara, Uzbekistan». archnet.org (em inglês). ArchNet: Islamic Architecture Community. Consultado em 20 de novembro de 2020
- ↑ «Ulugbek Madrasah, Bukhara» (em inglês). www.advantour.com. Consultado em 20 de novembro de 2020
- ↑ Bloom & Blair 2009, p. 398. Versão online: «Central Asia». Oxford Islamic Studies Online. Consultado em 20 de novembro de 2020
- ↑ a b MacLeod & Mayhew 2017, p. 277.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Chuvin, Pierre; Degeorge, Gerard (2001), Samarkand, Bukhara, Khiva, ISBN 9782080111692 (em inglês), Flammarion
- Dani, Ahmad Hasan; Masson, Vadim Mikhaĭlovich, eds. (1992), History of Civilizations of Central Asia, Volume 6, ISBN 9789231034671 (em inglês), Paris: UNESCO
- Gangler, Anette; Gaube, Heinz; Petruccioli, Attilio (2004), Bukhara, the Eastern Dome of Islam: Urban Development, Urban Space, Architecture and Population, ISBN 9783932565274 (em inglês), Axel Menges
- Grabar, Oleg (1966), «The Earliest Islamic Commemorative Structures, Notes and Documents», Smithsonian Institution, Ars Orientalis, ISSN 0571-1371 (em inglês), 6: 7–46, JSTOR 4629220, OCLC 1514243
- Hattstein, Markus; Delius, Peter (2007), Islam: Art and Architecture, ISBN 9783833111785 (em inglês), Könemann
- Hillenbrand, Robert (1994), Islamic Architecture: Form, Function, and Meaning, ISBN 9780231101332 (em inglês), Nova Iorque: Columbia University Press
- Knobloch, Edgar (2001), Monuments of Central Asia, ISBN 9781860645907 (em inglês), Bloomsbury Academic
- MacLeod, Calum; Mayhew, Bradley (2017), Uzbekistan – The Golden Road to Samarkand, ISBN 978-962-217-837-3 (em inglês) 8.ª ed. , Hong Kong: Odyssey Books & Maps
- Soustiel, Jean; Porter, Yves; Janos, Damien (2003), Hampton, Ellen, ed., Tombs of Paradise: The Shah-e Zende in Samarkand and Architectural Ceramics of Central Asia, ISBN 9782903824433 (em inglês), Monelle Hayot
A Madraça Ulugue Begue está incluída no sítio "Centro histórico de Bucara", Património Mundial da UNESCO. |