Marco Valério Corvo
Marco Valério Corvo Caleno | |
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Cônsul da República Romana | |
Consulado | 348 a.C. 346 a.C. 343 a.C. 335 a.C. 300 a.C. 299 a.C. |
Morte | c. 271 a.C. |
Marco Valério Corvo Caleno (c. 371 a.C. – c. 271 a.C.; em latim: Marcus Valerius Corvus Calenus) foi um político da gente Valéria da República Romana, eleito cônsul por seis vezes, em 348, 346, 343, 335, 300 e 299 a.C., com Marco Popílio Lenas, Caio Petélio Libo Visolo, Aulo Cornélio Cosso, Marco Atílio Régulo, Quinto Apuleio Pansa e Marco Fúlvio Petino respectivamente. Além disso, foi nomeado ditador duas vezes, em 342 e 301 a.C.. Um dos mais importantes expoentes da gente Valéria, foi pai de Marco Valério Máximo Corvino, cônsul em 289 a.C..
É considerado um herói romano do século IV a.C. e lutou contra diversos inimigos da República, tendo supostamente se aposentado como fazendeiro e vivido até os cem anos.[1][2] Possui uma imensa lista de realizações como militar e político. O cronista Valério Antias é considerado como criador de boa parte dos exageros sobre Corvo.
Corvo
[editar | editar código-fonte]Político e tribuno militar romano, Marco Valério acompanhou, em 349 a.C., Lúcio Fúrio Camilo em sua campanha contra os gauleses. Na principal batalha, ganhou seu cognome "Corvo" (em latim: "Corvus") por causa de um duelo contra um inimigo gigantesco, que teria vencido com a ajuda de um corvo:
“ | Um gaulês se adiantou na linha inimiga, notável tanto pela estatura quanto pelas armas, e, batendo no escudo com sua espada, desafiou [...] um dos romanos ao combate. [...] M. Valério, um tribuno militar ainda adolescente [...] se adiantou armado [...] quando um corvo desceu do céu e pousou virado contra o inimigo. O fato foi interpretado como auspicioso. O corvo manteve sua posição e, quando o combate começou, alçou voo e se atirou, com bico e garras, contra os olhos do inimigo. Derrotado o gaulês, a vitória coube aos romanos. | ” |
Primeiro consulado (348 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Marco Valério foi eleito pela primeira vez em 348 a.C. com Marco Popílio Lenas,[3] ano no qual foi assinado o segundo Tratado romano-cartaginês entre Roma e Cartago. Tinha apenas vinte e dois anos de idade.
Segundo consulado (346 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Em 346 a.C., foi eleito novamente, desta vez com Caio Petélio Libo Visolo.[4] Marco Valério cuidou da campanha contra os volscos, que tentavam atrair os latinos para uma guerra contra Roma. Eles foram derrotados numa batalha campal e os romanos em seguida capturaram a cidade de Satrico, que foi arrasada. Em seu triunfo, Marco Valério exibiu 4 000 soldados presos em Satrico.
“ | A cidade foi arrasada até o chão e incendiada. O único edifício que não foi incendiado foi o Templo de Mater Matuta. O butim foi integralmente entregue aos soldados. Os quatro mil soldados que foram presos não foram incluídos no butim: o cônsul os fez caminhar em fila à frente de sua própria carruagem durante o triunfo. Vendidos em seguida, renderam uma grande quantidade de dinheiro ao tesouro estatal | ” |
Terceiro consulado (343 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Foi eleito cônsul pela terceira vez com Aulo Cornélio Cosso em 343 a.C.[5], primeiro ano da Primeira Guerra Samnita, e foi encarregado de comandar as tropas romanas na Campânia. Conseguiu a vitória na Batalha do Monte Gauro[6] e outra perto de Suessula, o que lhe valeu um triunfo.[7] Marco Valério tinha consigo 40 000 escudos abandonados e 170 estandartes inimigos[8] e seu triunfo foi, supostamente, o mais impressionante realizado até então.
Primeira ditadura (342 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Em 342 a.C., foi nomeado ditador pela primeira vez e escolheu como mestre da cavalaria (magister equitum) Lúcio Emílio Mamercino Privernato. Sufocou, com medidas brandas e conciliatórias, uma tentativa de revolta por parte da guarnição de Capua durante a Primeira Guerra Samnita, evitando que ela se transformasse numa guerra civil.[9] Durante a crise, Corvo foi nomeado ditador para lidar com os amotinados[10]. Os revoltosos marcharam contra Roma e encontraram as tropas de Marco Valério a cerca de 130 quilômetros de Roma. Fazendo uso de suas relações com o exército no passado, conseguiu chegar a um acordo com os rebeldes,[11] Concordou e apoiou a aprovação de leis (conhecidas como "ne cui militum fraudi secessio fuit")[12] que concediam imunidade aos soldados revoltosos, impediam a remoção do nome do soldado do serviço ativo sem seu consentimento e proibia que um tribuno militar fosse demovido à patente de centurião.[13] Marco Valério se recusou, porém, a concordar com a diminuição dos salários dos cavaleiros e com a execução imediata dos decênviros.[14] Já se sugeriu também que, durante a crise da aprovação das "Leges Genuciae", Corvo a tenha sugerido que o Senado concordasse com as demandas da plebe pela abolição da escravidão por dívida, mas teria sido rejeitado sem maiores discussões[15]. Alguns historiadores, como Gary Forsythe e S. P. Oakley, consideram que os alegados eventos de motim tenham sido invenções literárias, embora as leis aprovadas em seu mandato sejam corretas.[16]
Quarto consulado (335 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Foi eleito cônsul pela quarta vez em 335 a.C., com Marco Atílio Régulo.[17] Os sidicínios se aliaram aos ausônios de Cales e o Senado estava ansioso para escolher alguém com uma comprovada reputação militar. Em um rompimento com a tradição, os cônsules não tiraram a sorte por suas províncias e o Senado designou a área ao redor de Cales diretamente a Corvo. Ele cercou e conquistou a cidade; depois da conquista, os romanos criaram ali uma colônia de 2 500 homens.[18] Por esta vitória, Corvo conseguiu seu segundo triunfo, e os dois cônsules, a honra de portar o agnome "Caleno" ("Calenus").[19]
Os cônsules, estando fora da cidade durante a guerra, nomearam Lúcio Emílio Mamercino Privernato ditador "comitiorum habendorum causa" (com poderes limitados) para garantir a realização da Assembleia das centúrias e a eleição dos cônsules para o ano seguinte.[20]
Período intermediário
[editar | editar código-fonte]Foi interrex por duas vezes, em 332[21][22] e 330 a.C.[23][24] É possível que ele tenha sido ainda um legado na época do ditador Lúcio Papírio Cursor (325 a.C.), durante a Segunda Guerra Samnita.[25] Em 313 a.C., Marco Valério foi nomeado um dos "Triumviri coloniae deducendae", que receberam o poder de fundar uma colônia em Satícula.[26] Em 310 a.C., foi novamente um legado sob Lúcio Papírio Cursor e participou de uma grande batalha em "Longulae" contra os samnitas.[27] Em 308 a.C., foi eleito pretor pela quarta vez, principalmente pelo seu serviço em "Longulae".[28][a]
Segunda ditadura (302-1 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Corvo foi nomeado ditador novamente em 302 a.C.[29] para enfrentar uma revolta entre etruscos e marsos em Arretium e Carseoli.[30] Os romanos se voltaram primeiro contra os marsos, desbaratando-os numa única batalha:
“ | Depois de conseguirem se fortificar no interior da cidade, no decurso de uns poucos dias conquistou Milionia, Plestina e Fresília. Condenando os marsos à perda de parte de seu território, renovou em seguida o tratado de aliança com eles. | ” |
Os marsos tentaram conseguir a paz e, Marco Valério, por suas vitórias, recebeu seu terceiro triunfo.[32] No ano seguinte, 301 a.C., foi nomeado novamente ditador, desta vez para combater os etruscos[33][34] e este foi o último ano ditatorial da história de Roma, no qual não se elegeram cônsules. Enquanto Corvo estava em Roma consultando os arúspices, seu mestre da cavalaria (provavelmente Marco Emílio Paulo[35]) foi emboscado pelo inimigo e forçado a abandonar seu acampamento, perdendo, no processo, uma parte de seu exército. Marco Valério, que veio rapidamente para ajudá-lo, encontrou e combateu os etruscos, o que lhe valeu um novo triunfo.[36][b] Depois de evitarem uma nova emboscada, romanos e etruscos se enfrentaram numa batalha campal. Aos etruscos foi concedida uma trégua de dois anos e o ditador celebrou um triunfo pela vitória.[38]
Quinto consulado (300 a.C.)
[editar | editar código-fonte]Marco Valério foi cônsul pela quinta vez em 300 a.C. com Quinto Apuleio Pansa.[39] Coube a ele conduzir uma campanha militar de pouca importância contra os équos.[40][41]
Ele também se envolveu na aprovação de duas leis. A primeira foi a Lex Ogulnia, que resultou na abertura do Colégio dos Pontífices e do Colégio de Áugures aos plebeus, obra dos irmãos Cneu e Quinto Ogúlnio Galo, tribunos da plebe que lhe emprestaram o nome. A segunda, Lex Valeria de provocatio, proposta por ele mesmo, foi uma extensão do "provocatio" ("direito de apelação") aos plebeus, que tornou ilegal o uso de força desproporcional, especificamente o assassinato ou o chicoteamento pelos magistrados mais graduados na cidade de Roma.[42][43] A partir daí, os plebeus conseguiram eleger quatro pontífices e cinco áugures, números iguais ou maiores aos quatro pontífices e quatro áugures patrícios.[44]
Sexto consulado (299 a.C.)
[editar | editar código-fonte]O Senado chegou a considerar nomeá-lo ditador pela quarta vez,[45] mas ele acabou eleito cônsul sufecto depois da morte de Tito Mânlio Torquato, que estava à frente da guerra contra os etruscos. Corvo o substituiu e, a partir de então, os etruscos evitaram o combate direto e permaneceram seguros em suas cidades fortificadas. Embora Corvo tenha incendiado vilas inteiras para atraí-los, os etruscos teimosamente se recusaram a lutar contra Marco Valério Corvo, apesar de seus 72 anos de idade.[46][47]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Cônsul da República Romana | ||
Precedido por: Lúcio Fúrio Camilo |
Marco Popílio Lenas IV 348 a.C. com Marco Valério Corvo |
Sucedido por: Caio Pláucio Venão Ipseu |
Precedido por: Caio Pláucio Venão Ipseu |
Marco Valério Corvo II 346 a.C. com Caio Petélio Libo Visolo II |
Sucedido por: Marco Fábio Dorsuão |
Precedido por: Caio Márcio Rutilo III |
Marco Valério Corvo III 343 a.C. |
Sucedido por: Caio Márcio Rutilo IV com Quinto Servílio Aala III |
Precedido por: Cesão Duílio |
Marco Valério Corvo IV 335 a.C. |
Sucedido por: Espúrio Postúmio Albino Caudino |
Precedido por: Marco Lívio Denter |
Marco Valério Corvo (Quarto ano ditatorial) 301 a.C. |
Sucedido por: Marco Valério Corvo V |
Precedido por: Marco Valério Corvo (Quarto ano ditatorial) |
Marco Valério Corvo V 300 a.C. |
Sucedido por: Marco Fúlvio Petino |
Precedido por: Marco Valério Corvo V |
Marco Fúlvio Petino 299 a.C. com Tito Mânlio Torquato |
Sucedido por: Lúcio Cornélio Cipião Barbado |
Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ As datas do segundo e terceiro pretorados de Corvo permanecem envoltas em mistério. É provável que o segundo tenha sido depois de 345 a.C. e o terceiro, antes de 308 a.C..
- ↑ Os relatos dos eventos em 302-1 a.C. são contraditórios e muitos dos detalhes, muito duvidosos. É possível que Corvo tenha sido ditador por apenas um ano e que as batalhas contra os etruscos uma invenção literária posterior[37].
Referências
- ↑ Cícero, Cat M 17, 60
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VII 33.
- ↑ a b Lívio, Ab Urbe condita VII, 26.
- ↑ a b Lívio, Ab Urbe condita VII, 27
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VII, 28
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VII, 32-33.
- ↑ Lívio, Ab Urbe Condita VII, 38.
- ↑ Smith, pg. 861; Arnold, pg. 115
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VII, 38-39.
- ↑ Broughton, pg. 133
- ↑ Oakley, pg. 98; Smith, pg. 862; Arnold, pgs. 120-2
- ↑ Oakley, pg. 471
- ↑ Broughton, pg. 134; Arnold, pg. 123
- ↑ Arnold, pg. 124
- ↑ Arnold, pgs. 126-7
- ↑ Forsythe, pgs. 272-3; Oakley, pgs. 361-5
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VIII, 16.
- ↑ Broughton, pgs. 139-140; Smith, pg. 862
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita IX 40-41
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VIII, 16, 12.
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita VIII, 17.
- ↑ Broughton, pg. 142
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita IX, 7.
- ↑ Broughton, pg. 153
- ↑ Broughton, pg. 148
- ↑ Broughton, pg. 159
- ↑ Smith, pg. 862; Broughton, pgs. 162-3
- ↑ Broughton, pg. 164; Smith, pg. 862
- ↑ Broughton, pgs. 169-170
- ↑ a b Lívio, Ab Urbe condita X, 3.
- ↑ Forsythe, pg. 295; Smith, pg. 862
- ↑ Broughton, pg. 170
- ↑ Oakley, pgs. 44-45
- ↑ Broughton, pg. 171; Smith, pg. 862
- ↑ Oakley, pg. 70
- ↑ Smith, pg. 862, Broughton, pgs. 170-1
- ↑ Oakley, pgs. 43-47
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita X, 4-5.
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita X, 6.
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita X, 9.
- ↑ Broughton, pg. 172; Oakley III, pg. 346
- ↑ Smith, pg, 862; Broughton, pg. 172
- ↑ Bringmann, pg. 45
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita X, 6-9.
- ↑ Oakley, pg. 521
- ↑ Broughton, pg. 173; Smith, pg. 862
- ↑ Lívio, Ab Urbe condita X, 11.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- T. Robert S., Broughton (1951). The Magistrates of the Roman Republic. Volume I, 509 B.C. - 100 B.C. (em inglês). I, número XV. Nova Iorque: The American Philological Association. 578 páginas
- Oakley, S. P., A Commentary on Livy, Books 6-10 Vol. IV (2007) (em inglês)
- Forsythe, Gary, A Critical History of Early Rome from Prehistory to the First Punic War (2005) (em inglês)
- Broughton, T. Robert S., The Magistrates of the Roman Republic, Vol I (1951) (em inglês)
- Arnold, Thomas, History of Rome, Vol. II (1840) (em inglês)
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Este artigo incorpora texto do artigo «Marcus Valerius Corvus» (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- Este artigo contém texto do artigo «Marcus Valerius Corvus» do Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology (em domínio público), de William Smith (1870).