Tipiti
Tipiti é uma espécie de prensa ou espremedor de palha trançada usado para escorrer e secar raízes, normalmente mandioca.[1] O objeto é utilizado principalmente por povos indígenas e ribeirinhos do Brasil, especialmente da região amazônica.[2][3] Seu uso é polivalente, pois além de prover o extrato básico para produção de farinha de mandioca (manibat), ainda extrai o sumo da mandioca, o tucupi.[4]
Quando os europeus chegaram ao Novo Mundo, os povos nativos utilizavam a mandioca como alimento já há séculos. Ela era preparada de inúmeras maneiras, inclusive como bebida, chamada caium, e na maioria dos casos precisava ser descascada, ralada e espremida para liberar seu sumo. Algumas comunidades a espremiam de outras formas, enquanto outras desenvolveram utensílios, como o tipiti, para facilitar o trabalho[5]
O uso do tipiti pelos nativos do Novo Mundo
[editar | editar código-fonte]O tipiti é mencionado no livro de Hans Staden, publicado em 1557. O objeto foi mencionado como parte do cotidiano tupinambá, da aldeia de Ubatuba.[6]
Alguns povos indígenas não conheciam o tipiti, como os Parakanã, do Pará. Faziam a farinha cortando a mandioca, cozendo-a e espremendo-a em uma esteira para remover a parte líquida. As bolas de mandioca eram secas em um jirau, desfeitas, peneiradas e torradas[7]
Para extrair o suco da mandioca ralada e com isso remover o ácido cianídrico nele contido, índios menos desenvolvidos espremiam a massa com a mão[8]. Outros usavam um tipo de prensa, chamada de tipiti, consistindo de um tubo flexível de fibras que era operado sob torsão pelas mãos[5].
Os Maués da Amazônia usavam o tipiti feito de talas da palmeira jacitara para espremer massa de mandioca ou polpa de frutos[9]. O tipiti mais avançado, o tipiti de peso, recebia a mandioca ralada em seu interior e era esticado com auxílio de pesos[8]. Na prensagem da massa da mandioca escorria um líquido que continha uma substância venenosa, o ácido cianídrico, e era chamado maniaca. Quando ele era fervido, recebia o nome de tucupi.[5] Se líquido que escorria da massa prensada da mandioca fosse deixado em descanso, decantava um pó fino no fundo do recipiente. Este pó era removido e lavado em água limpa várias vezes, tornando-se o polvilho[5].
Referências
- ↑ Falco, Janina Rubi; Pazinatto, Renata Parada; Aytai, Desidério. 1987. Tipiti — contribuição ao seu estudo. Revista do Museu Paulista, Nova Série, v. XXXII, p. 131-53, 18 figuras. São Paulo: Museu Paulista.
- ↑ «Portal Amazônia - Amazônia de A a Z - Artigo - Tipiti». Consultado em 15 de março de 2012
- ↑ «Perspectives for Sustainable Management of the Rwnewable Natueal Resources of the Amazon Forest» (PDF) (em inglês). Consultado em 15 de março de 2012
- ↑ «Quinhapira de Aracu com Caruru e Tucupi Preto com Saúva | Foirn». Consultado em 15 de março de 2012
- ↑ a b c d CAVALCANTE, Messias S. Comidas dos Nativos do Novo Mundo. Barueri, SP. Sá Editora. 2014, 403p.ISBN 9788582020364
- ↑ Hans Staden. Duas Viagens ao Brasil. São Paulo: L&PM. OCLC 1103980972
- ↑ REVISTA DE ATUALIDADE INDÍGENA. Comportamento social dos Parakanã. P. 26-33. In: Revista de Atualidade Indígena. Brasília, Fundação Nacional do Índio. 1979, ano III, nº 19, 64p.
- ↑ a b MACEDO, Agenor F. de & VASCONCELOS, P. C. de. O índio Brasileiro. Rio de Janeiro, Ferreira de Mattos & Cia (Casa Mattos). 1935, 200 p.
- ↑ PEREIRA, Nunes (1892-1985). Os índios Maués. Rio de Janeiro, Organização Simões. 1954, 174 p.
- ↑ admin (3 de abril de 2017). «Tipiti de madeira muito contribuiu para a produção de farinha de mandioca». Coisas da Roça. Consultado em 3 de abril de 2021