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Usuário(a):Pachequis/Teste 1

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Pessoas aguardando para utilizar a linha cruzada em um orelhão em Ipanema.

Disque-Amizade, também conhecido como Disque 145, foi um serviço de bate-papo por telefone fixo.[1]

História[editar | editar código-fonte]

O Disque-Amizade foi criado em pelos irmãos Luiz e Péricles Carlos Bravo, da Sercomtel.[2][3][4] Posteriormente, o serviço passou a ser gerido pela empresa Disque-Amizade do Brasil.[5] A ideia surgiu de um bug ocorrido nas linhas telefônicas do Disque Piada de Londrina, onde um número recebia uma ligação mas não rejeitava as outras chamadas. O sistema foi inventado após pedidos dos moradores da cidade.[3][6] Incialmente, o Disque-Amizade funcionava apenas em Natal,[2] sendo estreado em 13 de novembro de 1979. A invenção foi patenteada pela empresa em 8 de dezembro de 1981.[4]

O sistema foi implementado pela Telemar nos anos 80, fazendo sucesso até os anos 2000.[1][7] Em Londrina, ele foi implementado em 1982, virando uma febre na cidade. Curitiba implementou o serviço em 1986, também virando moda. Em 86, ele já estava presente em 63 cidades.[3] Em Pernambuco, o serviço foi um sucesso e chegou a congestionar as linhas telefônicas do estado, que fez com que a Telpe limitasse o horário em que o 145 podia ser acessado.[8] No Rio de Janeiro, até 1989 o serviço não havia chegado no estado, mas um bug que oocorria na máquina de toque permitia que várias pessoas conversassem desde que o telefone para qual estavam ligando não fosse atendido. O sistema foi apelidado de "linha cruzada", e havia medo que a Telerj acabasse com ele.[9] O sistema chegou em São Paulo em abril 1996. Ele também foi exportado para o Chile e Venezuela e chegou a ser implementado nos Estados Unidos, mas a empresa decidiu cessar o serviço pela falta de monitoramento.[2] Em 1998, foram produzidos comerciais do serviço estrelando Thiago Lacerda e Samara Felippo.[10] Em 2002, a Anatel anunciou planos de uniformizar os números de utilidade pública. O Disque-Amizade poderia ter o sufixo 0300 acrescentado, por ser um serviço pago.[11]

Bloqueio[editar | editar código-fonte]

Em abril de 1999, o deputado estadual Durval Ângelo (PT-MG) e ocoordenador do Procon da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Délio Malheiros, denunciaram o serviço para a Procuradoria Geral da República e à Procuradoria Geral de Justiça de Minas Gerais. Após diversas reclamações sobre as cobranças, eles gravaram cinco horas de conversa em dias e horários diferentes e alegaram que o bate-papo funcionava como um telessexo disfarçado para crianças e adolescentes que seria incentivado inclusive pelas monitoras das salas e que as contas de telefone não especificavam que a cobrança vinha do 145. Devido à gravidade das acusações, o caso chegou até o Ministro da Justiça Renan Calheiros.[5]

A denúncia gerou uma ação do Ministério Público Federal (MPF) contra as empresas Anatel, Telesc, Embratel e Intelig. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina deu padecer desfavorável, mas o MPF entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e foi de fato constatado a facilidade de crianças utilizarem o serviço e as outras irregularidades. De acordo com o STJ, os serviços eram um "instrumento perverso, por via do qual pratica-se, flagrantemente, a pedofilia, a prostituição infantil, o tráfico de drogas e outras mazelas, o que corrói a sociedade brasileira". Em 26 de setembro de 2016, o STJ decidiu bloquear o Disque-Amizade, Disque-Sexo e outros serviços 0900, e o usuário precisaria pedir acesso ao serviço para as operadoras caso quisesse se conectar.[12][13]

Funcionalidade[editar | editar código-fonte]

O Disque Amizade podia ser acessado por telefone fixo pelo número 145.[1] O serviço era oferecido por diversas operadoras. Era cobrado R$ 0,48 por minito pelo serviço. As pessoas entravam em uma sala, onde podiam conversar por voz com outros usuários.[6][7] As salas comportavam até 5 ou 6 pessoas, que eram monitoradas por funcionários da Disque-Amizade do Brasil.[5] As monitoras eram todas mulheres, e passavam por um treinamento e acompanhamento psicológico. De acordo com a empresa, elas eram instruidas a não participarem da conversa, mas o ato acabava acontecendo.[14] Os usuários eram banidos da sala por falar palavrões, fazer sugestões sexuais ou agir de maneira perturbadora. As monitoras alertavam o usuário com um sinal de ocupado que durava um minuto antes de derrubá-lo da linha. Também era possível fazer uma denúncia aos monitores ao apertar *.[2][4] Nos anos 90 houve melhorias no serviço, como a possibilidade de criar uma sala de bate-papo privada ao digitar * seguido dos últimos dígitos do telefone da pessoa.[1] Não era permitido o acesso ao serviço por orelhões.[4]

Cobranças indevidas[editar | editar código-fonte]

Em julho de 1997, Santo André bloqueou os serviços 0900, 900 e 145 por causa do grande número de queixas.[15] Em outubro de 1998, o Procon de São Paulo multou a Telesp em R$ 1,5 milhão por 300 reclamações referentes aos serviços 145 e 0900.[16] Em seguida, a Polícia Civil de Campinas instaurou ontem um inquérito contra a Telesp pela cobrança de 3 mil pulsos a mais do Disque-Amizade.[17] Em 1999, a Telefônica, que substituiu a Telesp, admitiu a queda de qualidade dos serviços mas afirmou que a maior parte das reclamações de cobranças indevidas eram de serviços não prestados pela empresa.[18] Por causa da situação, a Telemar anunciou que queria excluir a cobrança de serviços como o 145.[19]

Cultura[editar | editar código-fonte]

Usuários[editar | editar código-fonte]

Por ser um serviço de voz, era normal que as pessoas simulassem vozes "mais empossadas" ou diferentes para chamar a atenção dentro da sala. O uso de pseudônimos também era comum. Um usuário chamado Atalaia notorizou-se por estar sempre online.[1] Alguns usuários ligavam para o serviço apenas para ouvir as conversas. De acordo com a Embratel, a média de retenção em 1987 era de 7 minutos.[4] Os usuários também marcavam encontros na vida real e ações filantrópicas.[3] Em Pernambuco, os usuários do serviço criaram o Clube 145.[8] De acordo com a Folha de S.Paulo, a maior parte dos usuários eram homens.[20] Por vezes, as monitoras ouviam pessoas com problemas ou em busca de aconselhamento.[21]

a Folha de S.Paulo opinou que a febre pelo serviço poderia ser um ato de voyeurismo.[8] O psicanalista Luís Alberto Py atribuiu o sucesso ao pequeno risco que havia em criar novas amizades, onde se algo desagradasse o indivíduo, ele poderia simplesmente mudar de linha, e a possibilidade de controlar a própria imagem.[9]

Sexualidade e relacionamentos[editar | editar código-fonte]

Muitas pessoas entravam no serviço para namorar, e algumas chegaram a se conhecer e casar.[6] De acordo com a empresa, a maioria dos usuários utilizavam o Disque-Amizade para aplacar a solidão e encontrar relacionamentos.[20] Ainda de acordo com a empresa, algumas das monitoras do sistema já se casaram com usuários que conheceram em uma das salas.[14] De acordo com as monitoras, costumava a haver brigas entre homossexuais e heterossexuais.[21]

O serviço também foi usado para cometer atos que se enquadram como crimes sexuais. Em abril de 1997, a mãe de uma garota de 17 anos entrou na justiça contra um homem casado de 29 anos por ter relações sexuais com sua filha. Ambos se conheceram em Guará pelo Disque-Amizade. Na ocasião, o Superior Tribunal de Justiça absolveu o réu por entender "que a simples prática de ato sexual não consiste em corrupção de menores", já que o comportamento da garota não havia mudado.[22] No mesmo mês, uma mulher de Campinas foi estuprada após encontrar-se com um homem que conheceu no Disque-Amizade.[23]

Memes[editar | editar código-fonte]

Existia uma cultura de piadas que são análogas ao meme de internet. Por vezes, homens de voz fina fingiam que eram mulhere e revelavam seu gênero após algum houtro homem mostrar-se interessado.[6] Um usuário notorizou-se por imitar garotas e quando perguntavam "quem é" ele respondia com um sonoro "é o Credo".[1]

Representações na mídia[editar | editar código-fonte]

Em 2014, Ivam Cabral interpretou na peça Pessoas Perfeitas um personagem que cuidava da mãe idosa de dia e vivia no Disque Amizade de noite.[24]

Em 2021, foi criada uma sala chamada "disque-amizade" no Clubhouse, rede social que funciona apenas com voz.[25]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f Anderson Rios (2 de maio de 2020). «Disque Amizade 145: histórias e personagens». Hora do Lobo. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 – via Medium 
  2. a b c d Carla Conte (1 de junho de 1997). «Bedel censura baixaria em papo telefônico». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  3. a b c d «No Paraná, é possível ter amigos através do telefone». Folha de S.Paulo. 16 de novembro de 1986. Consultado em 8 de julho de 2024 
  4. a b c d e Torres, Lilian de Lucca (30 de março de 1993). «Para não Ver Cara Nem Coração: um estudo sobre o serviço telefônico Disqueamizade». Universidade de São Paulo. Cadernos de Campo (3): 63–75. ISSN 2316-9133. doi:10.11606/issn.2316-9133.v3i3p63-75. Consultado em 8 de julho de 2024 
  5. a b c «Folha de S.Paulo - Disque-Amizade é acusado de pedofilia». Folha de S.Paulo. 22 de abril de 1999. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  6. a b c d Carlos Cardoso (22 de agosto de 2022). «Telefone, disque-amizade e a Internet antes da Internet». Meio Bit. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  7. a b Gabriela Bubniak (2 de outubro de 2017). «Nostalgia: quem aí lembra do "disque amizade" 145?». OCP News. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  8. a b c «Serviço congestina linhas em Pernambuco». Folha de S.Paulo. 30 de maio de 1988. Consultado em 8 de julho de 2024 
  9. a b «Linha promove namoros e amizades». Folha de S.Paulo. 23 de abril de 1989. Consultado em 8 de julho de 2024 
  10. Cristina Padiglione (24 de novembro de 1998). «CLIPE». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  11. Patrícia Zimmermann (16 de maio de 2002). «Anatel quer uniformizar números de utilidade pública». Folha Online. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  12. «Telessexo, disque-amizade e outros são bloqueados previamente pelo STJ». Direito Diário. 1 de outubro de 2016. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  13. Gabriel Mascarenhas (26 de setembro de 2016). «Usuários de tele-sexo terão de pedir desbloqueio às operadoras telefônicas». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  14. a b «Psicóloga acompanha serviço». Folha de S.Paulo. 1 de junho de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  15. «Santo André proíbe serviços». Folha de S.Paulo. 21 de julho de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  16. «Procon notifica e pode multar Telesp». Folha de S.Paulo. 17 de outubro de 1998. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  17. «Polícia investiga cobrança da Telesp». Folha de S.Paulo. 27 de outubro de 1998. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  18. Fernando Godinho (26 de janeiro de 1999). «Telefônica reconhece "perda de qualidade'». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  19. «Contas podem ser "expurgadas"». Folha de S.Paulo. 4 de julho de 1999. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  20. a b «Solidão é principal motivo das ligações». Folha de S.Paulo. 1 de junho de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  21. a b «Brincadeiras conquistam a simpatia dos usuários». Folha de S.Paulo. 1 de junho de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  22. «Sexo com menor não é corrupção, diz STJ». Folha de S.Paulo. 2 de abril de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  23. «Mulher vai a encontro e é estuprada». Folha Campinas. 8 de abril de 1997. Consultado em 8 de julho de 2024. Cópia arquivada em 8 de julho de 2024 
  24. Fabiana Seragusa (12 de fevereiro de 2016). «Lúdica, 'Pessoas Sublimes' mostra portal entre o mundo dos mortos e o dos vivos». Guia Folha. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  25. Beatriz Montesanti (10 de fevereiro de 2021). «No Clubhouse, usuário pula de sala em sala entre mercado e BBB». Folha de S.Paulo. Consultado em 8 de julho de 2024