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História
[editar | editar código-fonte]Roma iniciou a anexação de províncias no século III a.C., quatro séculos antes de alcançar a sua maior extensão territorial e, nesse sentido, constituía já um "império", apesar de ainda ser governado enquanto república.[1][2][3] As províncias republicanas eram administradas por antigos cônsules e pretores, que eram eleitos para um mandato de um ano com plenos poderes e autonomia.[4] A acumulação desproporcional de riqueza e poder por parte de alguns destes líderes provinciais foi um dos principais fatores que motivaram a transição de um regime republicano para uma autocracia imperial.[5]
O assassinato de Júlio César em 44 a.C. esteve na origem de um período de instabilidade e turbulência política. No ano seguinte, Augusto, um dos mais destacados generais republicanos, torna-se um dos três membros do Segundo Triunvirato, uma aliança política com Lépido e Marco António.[6] As tensões entre Augusto e Marco António no período que se seguiu à Batalha de Filipos levariam à dissolução do triunvirato em 32 a.C. e ao confronto entre ambos na Batalha de Áccio, da qual Marco António e a rainha Cleópatra saíram derrotados e que proporcionou a anexação do reino egípcio por Augusto.[7]
Sendo agora o único governador de Roma, Augusto iniciou uma série de reformas militares, políticas e económicas em larga escala. O senado atribuiu-lhe o poder de nomear os próprios senadores e autoridade sobre os governadores de província, criando de facto o cargo que mais tarde seria denominado imperador romano. Em 27 a.C., Augusto tentou devolver o poder ao senado, o qual recusou, confirmando assim o novo regime político. Otaviano recebeu do senado o título de Augustus e escolheu para si o título de princeps (o primeiro).[8]
Como o primeiro imperador, Augusto assumiu a posição oficial de que ele havia salvo a república e cuidadosamente elevou seu poder dentro dos princípios constitucionais republicanos. Ele rejeitou os títulos que os romanos associavam com a monarquia e em vez disso passou a referir a si mesmo como princeps, "cidadão de liderança". Cônsules continuaram a ser eleitos, tribunos continuaram a legislar e os senadores ainda debatiam na cúria. Foi Augusto, no entanto, que estabeleceu o precedente de que o imperador controlava as decisões finais, apoiado pela força militar.
O reinado de Augusto, que durou mais de 40 anos, foi retratado na literatura e na arte augustina como uma nova "Era Dourada". Augusto consolidou uma duradoura fundação ideológica para os três séculos do império conhecido como o Principado (27 a.C.-284 d.C.), os primeiros 200 anos do que é tradicionalmente considerado como a Pax Romana. Mas, mesmo durante esse período, várias revoltas foram controladas e sufocadas, como na Grã-Bretanha (revolta de Boadiceia) e na Judeia (Guerras judaico-romanas).
O sucesso de Augusto em estabelecer princípios de sucessão dinástica foi limitado por uma série de talentosos herdeiros potenciais: a dinastia júlio-claudiana durou por mais quatro imperadores: Tibério, Calígula, Cláudio e Nero; antes produziu, em 69 d.C., o conflituoso ano dos quatro imperadores, a partir do qual Vespasiano emergiu como vencedor.
Vespasiano tornou-se o fundador da breve dinastia flaviana, seguida pela dinastia Nerva-Antonina, que produziu os "cinco bons imperadores": Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio. Na visão do historiador grego Dião Cássio, um observador da época, a adesão do imperador Cómodo em 180 d.C. marcou a queda "de um reino de ouro para um de ferrugem e ferro",[9] um famoso comentário de que tem levado alguns historiadores, como Edward Gibbon, a considerar o reinado de Cómodo como o início da queda do Império Romano.
Em 212, durante o reinado de Caracala, a cidadania romana foi concedida a todos os habitantes nascidos livres no império. Mas, apesar deste gesto de universalidade, a dinastia severa foi tumultuada, o reinado do imperador foi encerrado rotineiramente por seu assassinato ou execução e após a sua queda, o Império Romano foi engolido pela crise do século terceiro, um período de invasões, guerra civil, depressão econômica e pestes.[10] Na definição das épocas históricas, esta crise é por vezes vista como a marca da transição da Antiguidade Clássica para a Antiguidade Tardia.
A ilusão da antiga república foi sacrificada pela imposição da ordem: Diocleciano (reinou entre 284 e 305) trouxe o império de volta da crise, mas recusou o papel de princeps e se tornou o primeiro imperador a ser abordado regularmente como dominus, "mestre" ou "senhor".[11] O estado de absolutismo autocrático que resultou no Dominato, que durou até a queda do Império Romano do Ocidente em 476. O reinado de Diocleciano trouxe também um maior esforço concentrado do Império contra a ameaça do cristianismo, o que foi chamado de a "Grande" Perseguição.
Foi a partir desse ponto que a unidade do Império Romano se tornou uma ilusão, como ficou graficamente revelado pela divisão de poder implementada por Diocleciano entre quatro "co-imperadores", a chamada Tetrarquia.[12] A ordem foi novamente abalada logo depois, mas foi restaurada por Constantino, que se tornou o primeiro imperador a se converter ao cristianismo e que estabeleceu Constantinopla como a nova capital do Império Romano do Oriente. Durante as décadas das dinastias Constantina e Valentiniana, o império foi dividido ao longo de um eixo leste-oeste, com dois centros poder em Constantinopla e Roma. O reinado de Juliano, que tentou restaurar a religião helenística e romana clássica, apenas interrompeu brevemente a sucessão de imperadores cristãos. Teodósio I, o último imperador a governar Oriente e o Ocidente, morreu em 395 d.C., depois de tornar o cristianismo a religião estatal.[13]
No final do século IV, o império começou a se desintegrar com bárbaros do norte desafiando o controle da Roma cristã. A maioria das cronologias colocam o fim do Império Ocidental em 476, quando Rômulo Augusto foi forçado a se render ao chefe militar germânico Odoacro.[14] O Império do Oriente, hoje conhecido como o Império Bizantino, mas chamado no seu tempo como o "Império Romano" ou por vários outros nomes, terminou em 1453 com a morte de Constantino XI Paleólogo e com a queda de Constantinopla para os turcos otomanos.[15]
Referências
- ↑ Kelly 2006, p. 4ff.
- ↑ Brennan 2000, p. 605.
- ↑ Ando 2011, pp. 39-40.
- ↑ Ando 2010, p. 179.
- ↑ Nicolet 1991, pp. 1,15.
- ↑ Eck 2003, p. 12.
- ↑ Davis 1999, p. 63.
- ↑ Abbott, pp. 267-269.
- ↑ Dio Cassius 72.36.4, Loeb edition translated E. Cary
- ↑ Brown, P., The World of Late Antiquity, London 1971, p. 22.
- ↑ Adrian Goldsworth, How Rome Fell: Death of a Superpower (Yale University Press, 2009), pp. 405–415.
- ↑ Potter, David. The Roman Empire at Bay. 296–98.
- ↑ Chester G. Starr, A History of the Ancient World, Second Edition. Oxford University Press, 1974. pp. 670–678.
- ↑ Isaac Asimov. Asimov's Chronology of the World. Harper Collins, 1989. p. 110.
- ↑ Asimov, p. 198.
Ando, Clifford (2011). «From Republic to Empire». The Oxford Handbook of Social Relations in the Roman World. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780195188004
Ando, Clifford (2010). «The Administration of the Provinces». A Companion to the Roman Empire. [S.l.]: Blackwell
Brennan, T. Corey (2000). The Praetorship in the Roman Republic. [S.l.]: Oxford University Press
Kelly, Christopher (2006). The Roman Empire: A Very Short Introduction. [S.l.]: Oxford University Press
Nicolet, Claude (1991). Space, Geography, and Politics in the Early Roman Empire. [S.l.]: University of Michigan Press
Lintott, Andrew (1999). The Constitution of the Roman Republic. [S.l.]: Oxford University Press
Eder, W. (1993). «The Augustan Principate as Binding Link». Between Republic and Empire. [S.l.]: University of California Press
Eck, Werner (2003). The Age of Augustus. Oxford: [s.n.] Parâmetro desconhecido |eitora=
ignorado (ajuda)
Davis, Paul K. (1999). 100 Decisive Battles from Ancient Times to the Present: The World’s Major Battles and How They Shaped History. Oxford: [s.n.] Parâmetro desconhecido |editira=
ignorado (ajuda)
Abbott, Frank Frost (2001). A History and Description of Roman Political Institutions. [S.l.]: Adamant. ISBN 978-0543927491