António da Costa Fernandes

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António Fwaminy "Tony" da Costa Fernandes (Cabinda, 26 de abril de 1942) é um cientista social, diplomata e político angolano. Juntamente com Jonas Savimbi, foi co-fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).[1]

É um dos diplomatas mais experientes e graduados de Angola, especializado nos campos artísticos e culturais.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Tony da Costa Fernandes nasceu em 26 de abril de 1942[3] na cidade de Cabinda.[4] Seu pai era A. Mamkafi Fernandes e sua mãe Ilda Mazissa da Costa.[3]

Estudou nas escolas primárias de Cabinda e seus estudos secundários foram feitos no Seminário Menor de Luanda.[3] Envolvido desde este período com grupos nacionalistas angolanos, conseguiu ser enviado como noviço católico para Quinxassa para escapar da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).[3]

No Congo-Quinxassa, em 1962, conhece a Jonas Savimbi, já secretário geral da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).[3] Savimbi filia Tony na Juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola (JFNLA)[3] e na FNLA.[5]

Em 1962 mudou-se para Portugal para concluir seus estudos secundários.[3] Permaneceu pouco tempo no país, partindo em 1963 para estudar ciências sociais e políticas na Universidade de Friburgo,[3] na Suíça.[6]

Miliância na UNITA[editar | editar código-fonte]

Rompeu com a FNLA em 1964 juntamente com a ala de Savimbi.[3] Tony foi membro da União dos Estudantes Negros de Angola[3] até 1965, e foi o responsável por articular, entre 1965 e 1966, juntamente com Jonas Savimbi, a formação da UNITA.[7] Inclusive uma carta dirigida aos estudantes angolanos, datada de 11 de abril de 1966, apelando para a unidade, com o lema "unidos venceremos", é de sua autoria.[7] É dado como facto que a UNITA surgiu na verdade em 1965 após longas reflexões e elaborações de programas e estatutos entre Tony e Savimbi em Lausana,[6] Champex[3] e Genebra, na Suíça.[8][9]

Em outubro de 1965, no processo de formação da UNITA, foi para a República Popular da China[3] para receber instruções.[6] No retorno, foi comissionado por Savimbi para ser o responsável por recrutar e fazer parte da delegação dos primeiros quatorze militantes do partido enviados para a Tanzânia e para a Zâmbia[10] para receber treinamento em táticas maoístas e guerrilha rural em dezembro de 1965.[11]

Após a formação da UNITA, em 1966, foi nomeado como Secretário da Informação[12], porta-voz chefe[3] e Ministro dos Negócios Estrangeiros da organização,[13][3] instalando-se novamente na Suíça para concluir seus estudos e erguer a sede internacional do partido em Friburgo.[3]

Com a prisão de Savimbi em Lusaca, na Zâmbia, em julho de 1967, estabelece contatos diplomáticos com Gamal Abdel Nasser para dar exílio ao líder da UNITA no Cairo.[3] Conseguindo tal feito, Tony transfere a sede dos Negócios Estrangeiros do partido para o Cairo em 1968, permanecendo no país também como representante da UNITA junto ao Egito até 1973.[3]

Em 1973 consegue articular a normalização das relações da UNITA com a Zâmbia, possibilitando a instalação da sede dos Negócios Estrangeiros do partido em Lusaca.[3] Permanece nesta cidade até 1974, retornando para Angola para assumir novamente como Secretário da Informação até 1976.[3] Nesta função, participa das negociações que firmaram o Acordo do Alvor, em 1975.[3]

Em 1976 foi nomeado como representante da UNITA no Reino Unido, estabelecendo escritório em Londres.[11] Permanece no país até 1979,[3] quando é nomeado Secretário dos Assuntos Públicos (porta-voz) da organização.[3]

Entre 1985 e 1986 serviu como Secretário do Comércio Interno da República Popular Democrática de Angola (RPDA),[3] quando é nomeado como Vice-Secretário da Informação, função que ocupa até 1987.[3] É promovido a general de divisão das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA).[3]

É nomeado, em 1989 como Ministro das Relações Exteriores da UNITA/RPDA, servindo nos Estados Unidos.[3]

Rompimento com a UNITA[editar | editar código-fonte]

Entre 1991 e 1992, Tony e o Ministro do Interior da UNITA, general Miguel N'Zau Puna, descobriram o facto de que o líder da UNITA Jonas Savimbi ordenou os assassinatos de Wilson dos Santos, representante da UNITA em Portugal, e de Tito Chingunji, chefe dos negócios estrangeiros do partido.[14] As mortes de Wilson dos Santos e Chingunji e as deserções de Fernandes e Puna enfraqueceram as relações Estados Unidos-UNITA[14] e prejudicaram seriamente a reputação internacional de Savimbi.[14][15]

Com Puna e Paulo Tchipilica,[16] fundou a Tendência de Reflexão Democrática (TRD) dentro da UNITA,[17] mas acabaram por levar a TRD para dentro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) pouco tempo depois.[4][18]

Carreira como diplomata de Estado[editar | editar código-fonte]

Depois que rompeu com a UNITA foi convidado a integrar o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional e depois o Governo da República de Angola, servindo como embaixador de Angola no Reino Unido,[19] na Índia,[20] na Etiópia, no Egito, no Iraque, em Omã, no Iémen, no Líbano, na Jordânia, no Irão, na Síria,[21] na Bélgica, na União Europeia e na União Africana.[7]

Referências

  1. «UOL Últimas Notícias - Co-fundador da Unita e dissidente expressa satisfação com cessar-fogo em Angola 05/04/2002 - 14h57». noticias.uol.com.br. Consultado em 23 de dezembro de 2020 
  2. Tony da Costa Fernandes, um homem dedicado às artes. Jornal de Angola. 24 de outubro de 2021.
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z UNITA (1990). The UNITA Leadership. Jamba: União Nacional para a Independência Total de Angola. p. 75-76 
  4. a b Ariel Rolim Oliveira (2016). Dissensões do universal: um itinerário da imaginação nacional em Angola (PDF). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo 
  5. Marcelina Macana Bungo (Junho de 2015). O pensamento político de Agostinho Neto no contexto da luta de libertação nacional em Angola. Lisboa: ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa 
  6. a b c Os meandros da Fundação da UNITA - Carlos Kandanda. Club-K. 20 de junho de 2016.
  7. a b c Carlos Alberto de Jesus Alves (2013). Política externa angolana em tempo de guerra e paz: colonialismo e pós-colonialismo (PDF). Coimbra: Universidade de Coimbra 
  8. História da Unita. UNITA-Espanã. 2017.
  9. António Gonçalves (22 de outubro de 2019). «Acerca do livro de Augusta Conchiglia "Agostinho Neto, da Guerrilha aos Primeiros anos da Independência"» (PDF). Edições Novembro. Cultura - Jornal Angolano de Artes e Letras 
  10. Tomás Diel Melícias (2017). O Feitiço do Moderno: Jonas Savimbi e seus projetos de nação angolana (1966-1988) (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
  11. a b Brittain, Victoria (1998). Death of Dignity: Angola's Civil War. [S.l.: s.n.] 10 páginas 
  12. “Em Angola as pessoas morrem por pequenas coisas”. Vanguarda. 4 de setembro de 2019.
  13. Severino Carlos (18 de dezembro de 2004). «Inventário de uma enorme hemorragia: A sangria do Galo Negro» (PDF). Semanário Angolense 
  14. a b c Marcelo Bittencourt Ivair Pinto (julho de 2016). «As eleições angolanas de 1992». Irati. Revista TEL. 7 (2): 170-192. ISSN 2177-6644 
  15. Meredith, Martin (2005). The Fate of Africa: From the Hopes of Freedom to the Heart of Despair: A History of 50 Years of Independence. [S.l.: s.n.] 
  16. A longa história das dissidências. Jornal de Angola. 1 de abril de 2017.
  17. Faleceu em Luanda N'zau Puna, nacionalista e deputado angolano. Rádio Nacional de Angola. 17 de julho de 2022.
  18. Faleceu em Luanda N'zau Puna, nacionalista e deputado angolano. angola24horas. 17 de julho de 2022.
  19. Londres acolhe conferência sobre Angola. angonet.org. 2002.
  20. Unita: a Traição como a Separação do Trigo e do Joio. ovimbundu.org. 10 de julho de 2009.
  21. Embaixador angolano António da Costa Fernandes acreditado. Portal da Lideranca. 2014.