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Bela Vista (bairro de São Paulo)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados de Bela Vista, veja Bela Vista (desambiguação).
Bela Vista
Bairro de São Paulo
Avenida Paulista, um dos logradouros mais importantes do bairro.
Dia Oficial 26 de dezembro
Fundação 01 de outubro de 1878 (146 anos)[1]
Distrito Bela Vista
Subprefeitura
Região Administrativa Centro
Mapa

Bela Vista é um bairro situado na região central do município de São Paulo pertencente ao distrito de Bela Vista e administrado pela Subprefeitura da Sé.[2] Oficialmente, faz parte dele o Bixiga, famoso bairro não-oficial, de relevância popular,[2] além de outros núcleos menores, tais como a Vila Itororó e a Grota.[2]

No bairro localizam-se diversos e hospitais, teatros, além de muitos conjuntos arquitectónicos de importância histórica.[2] Bela Vista e Bixiga, embora partem de uma rica história comum, desenvolveram identidades distintas ao longo do tempo. Enquanto a Bela Vista se modernizou e se verticalizou se tornando um importante centro de saúde paulistano pelos numerosos hospitais em sua área, o Bixiga continua a ser um símbolo da resistência e da riqueza cultural de São Paulo, com diversos marcos arquitetônicos, influências de imigrantes italianos e uma miríade de centros culturais e festas tradicionais.[3]

História e nome do bairro

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O Vale do Saracura
Mansão Matarazzo na década de 1910, demolida em janeiro de 1996
O bairro grafado como "Bella Vista" em mapa paulistano de 1929

O Belvedere Trianon foi um icônico ponto de encontro da elite paulistana localizado na Avenida Paulista, no local onde hoje se encontra o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Este charmoso mirante, que existiu por 37 anos, teve seu auge entre as décadas de 1920 e 1930.[4] Durante esse período, o Belvedere Trianon era famoso por seus salões e restaurante, oferecendo bailes luxuosos, festas e homenagens políticas, tornando-se um símbolo de sofisticação e cultura na cidade de São Paulo.[5] A região em que o Belvedere Trianon estava localizado, foi chamada de Bela Vista devido à vista panorâmica que a região oferecia, especialmente a partir do mirante, que proporcionava uma bela visão do vale onde hoje se encontra a Avenida Nove de Julho mostrando o panorama da cidade ao norte do Espigão da Paulista até os bairros da Zona Norte e a Serra da Cantareira.[6][7]

A Bela Vista, um dos bairros mais emblemáticos de São Paulo, possui suas raízes históricas profundamente enraizadas desde o século XVI.[3] Originalmente conhecida como Sítio do Capão, a região era uma vasta fazenda pertencente ao português Antônio Pinto e servia como ponto de passagem para tropas que vinham de Santo Amaro e Itapecerica.[7] No século XVIII, a área foi renomeada para Chácara das Jabuticabeiras devido à abundância dessas árvores e funcionava como rancho para o pouso de tropas e abrigo de negros, especialmente nas áreas cortadas pelo Córrego do Saracura e o Riacho Itororó.[8][1]

Até 1870, Antônio Leite Braga, apelidado de "Bexiga" após ser vítima de varíola, era o proprietário das terras.[7] Em 1º de outubro de 1878, o Imperador Dom Pedro II infuenciado por uma de suas ideologias, como a do branqueamento racial, inaugurou o loteamento do bairro, atraindo imigrantes, especialmente do sul da Itália,[1] que contribuíram significativamente para a formação do bairro na segunda metade do século XIX e início do século XX.[3] Este influxo de imigrantes, seguido por negros libertos e outros estrangeiros, transformou a Bela Vista em um dos bairros de imigrantes mais desenvolvidos da cidade.[9][8]

Divisões do bairro e do distrito

Bela Vista

Localização: Nas proximidades da Avenida Paulista, no Espigão da Paulista o bairro é conhecido por ser um centro de saúde, abrigando um grande número de hospitais renomados.
Múltiplos serviços: Na região está o mega-empreendimento Cidade Matarazzo, o Shopping Cidade São Paulo, o Teatro Gazeta, TV Gazeta, a Maternidade Pro Matre, a Fundação Cásper Líbero, o Centro Cultural Coreano, a FIAP, a sede do Coren-SP, o Shopping Pátio Paulista, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Santa Catarina, Hospital Paulistano, Hospital Samaritano Paulista e a Japan House.
Arquitetura e Urbanismo: É um bairro nobre verticalizado, refletindo a modernização contínua da cidade.

Bixiga
Ver artigo principal: Bixiga

Localização: Conhecido oficialmente como Bixiga, essa área mantém características originais do traçado urbano, com casário baixo e forte influência italiana.
Cultura e tradições: Famoso por suas cantinas tradicionais, como o Rancho Nordestino, e por ser um polo teatral, com muitos teatros como o Teatro Oficina e eventos como a Festa de Nossa Senhora Achiropita.[10]

Morro dos Ingleses
Ver artigo principal: Morro dos Ingleses

Localização: Conhecido por suas características residenciais e históricas está localizado na região das ruas: dos Ingleses, dos Franceses, dos Alemães, dos Holandeses, dos Belgas, Alameda Joaquim Eugênio de Lima e Alm. Marques de Leão.
Cultura e tradições: O bairro é conhecido por suas ruas arborizadas e por abrigar antigas mansões que refletem a arquitetura do início do século XX. Originalmente, o Morro dos Ingleses era uma área residencial para a elite paulistana, incluindo muitos imigrantes ingleses, o que deu origem ao nome do bairro.[8]

Cerqueira César
Ver artigo principal: Cerqueira César (Baixo Augusta)

Localização: Avenida Paulista, Rua Peixoto Gomide, Rua Frei Caneca e Avenida Nove de Julho.
Cultura e tradições: O bairro dividido entre os distritos de Consolação, Jardim Paulista e Bela Vista, no distrito é conhecido por abrigar o Museu de Arte de São Paulo, o Shopping Frei Caneca, o Shopping Center 3, o Hospital 9 de Julho, Hospital Sírio-Libanês, o 34º Cartório - Oficial de Registro Civil do 34º Subdistrito Cerqueira César, hoteis e a região boêmia do Baixo Augusta.[8]

A Bela Vista se tornou um distrito de paz em 1893 e abrangia o bairro do Bixiga,[9] Bela Vista, parte de Cerqueira César e Morro dos Ingleses, razão pela qual até hoje há confusão quanto ao nome (Bixiga ou Bela Vista).[7][11]

A Família Matarazzo, uma das mais influentes de São Paulo, deixou um legado significativo na cidade, especialmente na região da Avenida Paulista.[7] Em 1896, a primeira residência da família começou a ser construída na Avenida Paulista, projetada pelos arquitetos italianos Giulio Saltini e Luigi Manini em estilo eclético.[9] Esta casa permaneceu no local até o início dos anos 1940.[12] A influência da família se estende até hoje com o complexo Cidade Matarazzo, que reúne 10 prédios centenários tombados.[13] Este complexo está localizado onde funcionava o Hospital e Maternidade Matarazzo e ainda abriga a Capela Santa Luzia. Francesco Matarazzo, o patriarca da família, foi um empresário de destaque, consagrado como Conde Matarazzo pelo rei italiano Vítor Emanuel II.[14][15][16] Ele construiu um império industrial que se tornou o maior conglomerado de negócios da América do Sul nos anos 1930.[7]

A primeira transmissão de rádio realizada por Roberto Landell de Moura, um padre e cientista brasileiro, é um marco significativo na história das comunicações.[17] Landell de Moura, foi um dos pioneiros na transmissão de voz por ondas de rádio, muito antes de a tecnologia se tornar amplamente reconhecida e utilizada, na época era pároco da Capela de Santa Cruz.[18] Em 1899, Landell de Moura realizou uma das primeiras transmissões de rádio do mundo, que ocorreu entre o Belvedere Trianon e o Alto de Santana, na Zona Norte de São Paulo.[18] Este feito notável demonstrou a capacidade de transmitir voz e música sem fio, utilizando ondas de rádio, uma inovação que precedeu os experimentos de Guglielmo Marconi, que são mais amplamente conhecidos.[3] Apesar de suas contribuições pioneiras, Landell de Moura enfrentou ceticismo e resistência em sua época. Ele foi muitas vezes desacreditado e chamado de "louco" e "bruxo" por suas ideias inovadoras, que estavam muito à frente de seu tempo.[8] No entanto, sua visão e experimentos estabeleceram as bases para o desenvolvimento da radiodifusão, tornando-o um precursor importante na história do rádio.[18][17]

Construção de MASP em 1965
Teatro Brasileiro de Comédia, que evoca a história da arte cênica paulistana

No século XX, a Bela Vista consolidou-se como um importante polo cultural. Em 1910, foi oficialmente renomeada, inspirada pelo mirante Trianon e sua bela vista sobre a cidade. O bairro ganhou destaque com a inauguração do Cine Teatro Paramount em 1928[11] e a fundação do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) em 1947, que se transferiu para seu famoso edifício na Avenida Paulista em 1968, projetado por Lina Bo Bardi.[16]

Durante as décadas de 1980 e 1990, a Bela Vista tornou-se um símbolo de resistência cultural[19] durante a ditadura militar,[19] com o Teatro Ruth Escobar organizando protestos contra a censura.[9][19] Atualmente, a área do bairro localizada nas proximidades da Avenida Paulista e Avenida Nove de Julho, é conhecida por ser um centro de saúde,[8] abrigando renomados hospitais, e por sua cultura e modernidade, destacada pelo empreendimento Cidade Matarazzo e por locais como o MASP e a Japan House. A área é mais vertical e urbanizada, refletindo a modernização contínua da cidade.[3]

Por outro lado, o Bixiga, oficialmente parte da Bela Vista, mantém características originais do traçado urbano com casario horizontal e forte influência italiana.[16] Famoso por suas cantinas tradicionais e como um polo teatral, o Bixiga preserva seu caráter histórico e cultural, refletindo as tradições italianas e a diversidade cultural que sempre caracterizou a região.[1] Apesar das mudanças, a pesquisadora Giulia Vercelli destaca que, embora as fachadas das casas possam ter mudado, a forma dos lotes permanece a mesma, estreita e comprida, assim como os esqueletos das construções.[3]

Uma das características mais marcantes da Bela Vista é sua reputação como um "bairro da saúde". A área é conhecida por concentrar hospitais renomados, como o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital 9 de Julho, que são reconhecidos por oferecerem serviços médicos de excelência.[16] Esses hospitais atraem pacientes de todo o Brasil, consolidando a Bela Vista como um centro de referência em saúde. Outros nosocômios: BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP Mirante), Maternidade Pro Matre Paulista, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital IGESP, Hospital Santa Catarina - Paulista, Hospital Paulistano, Hospital Samaritano Paulista, Hospital Municipal da Bela Vista, Instituto de Psiquiatria Paulista, dentre outros.[9]

Além de sua importância na área médica, a Bela Vista também desempenha um papel significativo nas relações internacionais, abrigando diversos consulados. A presença desses consulados reforça o caráter cosmopolita do bairro e sua relevância no cenário diplomático.[8] Abriga pontos culturais de destaque como Museu de Arte de São Paulo. E instituições de ensino de influência como a Escola de Administração de Empresas, a Escola de Economia e a Escola de Direito ambas da Fundação Getulio Vargas e o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.[9]

A transformação econômica e cultural da Bela Vista é exemplificada pelo empreendimento Cidade Matarazzo.[20] Localizado no antigo Hospital Matarazzo[11] este megacomplexo inclui lojas de grife, um hotel de luxo, restaurantes e espaços culturais, com um investimento de cerca de R$ 2 bilhões. A Cidade Matarazzo revitaliza a área, atraindo turistas e investidores, e contribuindo para o desenvolvimento econômico do bairro.[20] O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor B", assim como outras áreas nobres da capital como Jardim Paulistano, Vila Olímpia e Pinheiros.[21]

Outra área notável proxima ao bairro é o Baixo Augusta, localizado no bairro de Cerqueira César, conhecido por sua vida noturna vibrante e alternativa.[8] Esta região é um ponto de encontro para jovens e artistas, oferecendo uma variedade de bares, casas de shows e teatros. O Baixo Augusta simboliza a diversidade cultural de São Paulo, refletindo a mistura de tradições e modernidade que caracteriza a cidade.[16]

É atendido pela Linha 2-Verde do metrô e futuramente será também coberto pela Linha 6-Laranja.[11] O romance Anarquistas, Graças a Deus de Zélia Gattai se passa no bairro, assim como parte do enredo de dois populares livros infanto-juvenis intitulados O Mistério do Cinco Estrelas e O Covil dos Vampiros.[22]

  • Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108 
  • Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN 8573592230 
  • MOURO, Nathália Bianco; COELHO, Simone (2015). Bairro Bela Vista: o mais tradicional de São Paulo Revista História Urbana, v. 12, n. 3 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. pp. 33–50 
  • PASIANI, Dallila (2016). A Bela Vista e suas características históricas e urbanas Revista Estudos Paulistanos, v. 14, n. 2 ed. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. pp. 22–40 
  • FONSECA, Luis Fernando (2018). Bela Vista: história e geografia de um bairro central de São Paulo Revista Geografia Urbana, v. 21, n. 4 ed. São Paulo: USP. pp. 55–80 
  • MOURA, Beatriz Helena (2019). Bela Vista: cultura, urbanização e memória paulistana Revista Cidades, v. 17, n. 3 ed. São Paulo: Unesp. pp. 22–40 
  • PRADO, João F. de Almeida (2020). A formação histórica do bairro da Bela Vista em São Paulo Revista de História Paulistana, v. 8, n. 2 ed. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura. pp. 45–60 

Referências

  1. a b c d 140 anos do bairro Bela Vista
  2. a b c d Prefeitura de São Paulo. «Resolução no 22/2002» (PDF). Consultado em 29 de abril de 2014. Cópia arquivada (PDF) em 29 de abril de 2014 
  3. a b c d e f Memória: a história da Bela Vista, o bairro da Festa de Nossa Senhora da Achiropita
  4. Cronicas e conversas psicodramaticas. Por Maria Alicia Romana.
  5. Adhemar de Barros: trajetória e realizações Por Paulo Cannabrava Filho
  6. Além dos mapas: os monumentos no imaginário urbano contemporâneo - Página 267 Cristina Freire - 1997
  7. a b c d e f A história da Bela Vista
  8. a b c d e f g h Bela Vista
  9. a b c d e f Bexiga, história viva das origens da cidade de São Paulo
  10. «Memória: a história da Bela Vista, o bairro da Festa de Nossa Senhora da Achiropita». Gazeta de São Paulo. 19 de agosto de 2021. Consultado em 27 de março de 2024 
  11. a b c d Bixiga-Bela Vista: história e memória
  12. Geronazzo, Fernando (17 de novembro de 2021). «Capela Santa Luzia é reinaugurada e marca início das atividades da Cidade Matarazzo». Jornal O São Paulo. Consultado em 18 de novembro de 2021 
  13. «A cidade de São Paulo receberá em breve novas marcas de hotéis de luxo». Revista Hotéis. 1 de abril de 2021. Consultado em 30 de abril de 2021 
  14. Simonelli, Nádia. «Hospital histórico vai se tornar hotel seis estrelas com fachada verde, em SP». Casa Vogue. Consultado em 30 de abril de 2021 
  15. «Está nascendo o novo símbolo de sofisticação em São Paulo». Esquema Imóveis. 17 de março de 2020. Consultado em 30 de abril de 2021 
  16. a b c d e Resgatando a história das mercearias, escrevendo a história do bairro
  17. a b História, cultura e boemia: conheça a Bela Vista, região no Centro de São Paulo onde o antigo e o moderno se misturam
  18. a b c «O Colégio Santana e a História do Bairro». Consultado em 7 de outubro de 2009. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2010 
  19. a b c Bela Vista, o bairro paulistano que era local de luta contra a censura
  20. a b «Conheça o megacomplexo Cidade Matarazzo». INFRA FM. Consultado em 30 de abril de 2021 
  21. «Pesquisa CRECI» (PDF). 11 de julho de 2009. Consultado em 13 de julho de 2009 
  22. «4 vezes em que o bairro Bela Vista foi destaque em SP». Gazeta de São Paulo. 22 de março de 2021. Consultado em 27 de março de 2024