Bela Vista (bairro de São Paulo)
Bela Vista | |
---|---|
Bairro de São Paulo | |
Avenida Paulista, um dos logradouros mais importantes do bairro. | |
Dia Oficial | 26 de dezembro |
Fundação | 01 de outubro de 1878 (146 anos)[1] |
Distrito | Bela Vista |
Subprefeitura | Sé |
Região Administrativa | Centro |
ver |
Bela Vista é um bairro situado na região central do município de São Paulo pertencente ao distrito de Bela Vista e administrado pela Subprefeitura da Sé.[2] Oficialmente, faz parte dele o Bixiga, famoso bairro não-oficial, de relevância popular,[2] além de outros núcleos menores, tais como a Vila Itororó e a Grota.[2]
No bairro localizam-se diversos e hospitais, teatros, além de muitos conjuntos arquitectónicos de importância histórica.[2] Bela Vista e Bixiga, embora partem de uma rica história comum, desenvolveram identidades distintas ao longo do tempo. Enquanto a Bela Vista se modernizou e se verticalizou se tornando um importante centro de saúde paulistano pelos numerosos hospitais em sua área, o Bixiga continua a ser um símbolo da resistência e da riqueza cultural de São Paulo, com diversos marcos arquitetônicos, influências de imigrantes italianos e uma miríade de centros culturais e festas tradicionais.[3]
História e nome do bairro
[editar | editar código-fonte]O Belvedere Trianon foi um icônico ponto de encontro da elite paulistana localizado na Avenida Paulista, no local onde hoje se encontra o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Este charmoso mirante, que existiu por 37 anos, teve seu auge entre as décadas de 1920 e 1930.[4] Durante esse período, o Belvedere Trianon era famoso por seus salões e restaurante, oferecendo bailes luxuosos, festas e homenagens políticas, tornando-se um símbolo de sofisticação e cultura na cidade de São Paulo.[5] A região em que o Belvedere Trianon estava localizado, foi chamada de Bela Vista devido à vista panorâmica que a região oferecia, especialmente a partir do mirante, que proporcionava uma bela visão do vale onde hoje se encontra a Avenida Nove de Julho mostrando o panorama da cidade ao norte do Espigão da Paulista até os bairros da Zona Norte e a Serra da Cantareira.[6][7]
A Bela Vista, um dos bairros mais emblemáticos de São Paulo, possui suas raízes históricas profundamente enraizadas desde o século XVI.[3] Originalmente conhecida como Sítio do Capão, a região era uma vasta fazenda pertencente ao português Antônio Pinto e servia como ponto de passagem para tropas que vinham de Santo Amaro e Itapecerica.[7] No século XVIII, a área foi renomeada para Chácara das Jabuticabeiras devido à abundância dessas árvores e funcionava como rancho para o pouso de tropas e abrigo de negros, especialmente nas áreas cortadas pelo Córrego do Saracura e o Riacho Itororó.[8][1]
Até 1870, Antônio Leite Braga, apelidado de "Bexiga" após ser vítima de varíola, era o proprietário das terras.[7] Em 1º de outubro de 1878, o Imperador Dom Pedro II infuenciado por uma de suas ideologias, como a do branqueamento racial, inaugurou o loteamento do bairro, atraindo imigrantes, especialmente do sul da Itália,[1] que contribuíram significativamente para a formação do bairro na segunda metade do século XIX e início do século XX.[3] Este influxo de imigrantes, seguido por negros libertos e outros estrangeiros, transformou a Bela Vista em um dos bairros de imigrantes mais desenvolvidos da cidade.[9][8]
Bela Vista Localização: Nas proximidades da Avenida Paulista, no Espigão da Paulista o bairro é conhecido por ser um centro de saúde, abrigando um grande número de hospitais renomados.
Ver artigo principal: Bixiga
Localização: Conhecido oficialmente como Bixiga, essa área mantém características originais do traçado urbano, com casário baixo e forte influência italiana.
Ver artigo principal: Morro dos Ingleses
Localização: Conhecido por suas características residenciais e históricas está localizado na região das ruas: dos Ingleses, dos Franceses, dos Alemães, dos Holandeses, dos Belgas, Alameda Joaquim Eugênio de Lima e Alm. Marques de Leão.
Localização: Avenida Paulista, Rua Peixoto Gomide, Rua Frei Caneca e Avenida Nove de Julho. |
A Bela Vista se tornou um distrito de paz em 1893 e abrangia o bairro do Bixiga,[9] Bela Vista, parte de Cerqueira César e Morro dos Ingleses, razão pela qual até hoje há confusão quanto ao nome (Bixiga ou Bela Vista).[7][11]
A Família Matarazzo, uma das mais influentes de São Paulo, deixou um legado significativo na cidade, especialmente na região da Avenida Paulista.[7] Em 1896, a primeira residência da família começou a ser construída na Avenida Paulista, projetada pelos arquitetos italianos Giulio Saltini e Luigi Manini em estilo eclético.[9] Esta casa permaneceu no local até o início dos anos 1940.[12] A influência da família se estende até hoje com o complexo Cidade Matarazzo, que reúne 10 prédios centenários tombados.[13] Este complexo está localizado onde funcionava o Hospital e Maternidade Matarazzo e ainda abriga a Capela Santa Luzia. Francesco Matarazzo, o patriarca da família, foi um empresário de destaque, consagrado como Conde Matarazzo pelo rei italiano Vítor Emanuel II.[14][15][16] Ele construiu um império industrial que se tornou o maior conglomerado de negócios da América do Sul nos anos 1930.[7]
A primeira transmissão de rádio realizada por Roberto Landell de Moura, um padre e cientista brasileiro, é um marco significativo na história das comunicações.[17] Landell de Moura, foi um dos pioneiros na transmissão de voz por ondas de rádio, muito antes de a tecnologia se tornar amplamente reconhecida e utilizada, na época era pároco da Capela de Santa Cruz.[18] Em 1899, Landell de Moura realizou uma das primeiras transmissões de rádio do mundo, que ocorreu entre o Belvedere Trianon e o Alto de Santana, na Zona Norte de São Paulo.[18] Este feito notável demonstrou a capacidade de transmitir voz e música sem fio, utilizando ondas de rádio, uma inovação que precedeu os experimentos de Guglielmo Marconi, que são mais amplamente conhecidos.[3] Apesar de suas contribuições pioneiras, Landell de Moura enfrentou ceticismo e resistência em sua época. Ele foi muitas vezes desacreditado e chamado de "louco" e "bruxo" por suas ideias inovadoras, que estavam muito à frente de seu tempo.[8] No entanto, sua visão e experimentos estabeleceram as bases para o desenvolvimento da radiodifusão, tornando-o um precursor importante na história do rádio.[18][17]
No século XX, a Bela Vista consolidou-se como um importante polo cultural. Em 1910, foi oficialmente renomeada, inspirada pelo mirante Trianon e sua bela vista sobre a cidade. O bairro ganhou destaque com a inauguração do Cine Teatro Paramount em 1928[11] e a fundação do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) em 1947, que se transferiu para seu famoso edifício na Avenida Paulista em 1968, projetado por Lina Bo Bardi.[16]
Durante as décadas de 1980 e 1990, a Bela Vista tornou-se um símbolo de resistência cultural[19] durante a ditadura militar,[19] com o Teatro Ruth Escobar organizando protestos contra a censura.[9][19] Atualmente, a área do bairro localizada nas proximidades da Avenida Paulista e Avenida Nove de Julho, é conhecida por ser um centro de saúde,[8] abrigando renomados hospitais, e por sua cultura e modernidade, destacada pelo empreendimento Cidade Matarazzo e por locais como o MASP e a Japan House. A área é mais vertical e urbanizada, refletindo a modernização contínua da cidade.[3]
Por outro lado, o Bixiga, oficialmente parte da Bela Vista, mantém características originais do traçado urbano com casario horizontal e forte influência italiana.[16] Famoso por suas cantinas tradicionais e como um polo teatral, o Bixiga preserva seu caráter histórico e cultural, refletindo as tradições italianas e a diversidade cultural que sempre caracterizou a região.[1] Apesar das mudanças, a pesquisadora Giulia Vercelli destaca que, embora as fachadas das casas possam ter mudado, a forma dos lotes permanece a mesma, estreita e comprida, assim como os esqueletos das construções.[3]
Atualidade
[editar | editar código-fonte]Uma das características mais marcantes da Bela Vista é sua reputação como um "bairro da saúde". A área é conhecida por concentrar hospitais renomados, como o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital 9 de Julho, que são reconhecidos por oferecerem serviços médicos de excelência.[16] Esses hospitais atraem pacientes de todo o Brasil, consolidando a Bela Vista como um centro de referência em saúde. Outros nosocômios: BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP Mirante), Maternidade Pro Matre Paulista, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital IGESP, Hospital Santa Catarina - Paulista, Hospital Paulistano, Hospital Samaritano Paulista, Hospital Municipal da Bela Vista, Instituto de Psiquiatria Paulista, dentre outros.[9]
Além de sua importância na área médica, a Bela Vista também desempenha um papel significativo nas relações internacionais, abrigando diversos consulados. A presença desses consulados reforça o caráter cosmopolita do bairro e sua relevância no cenário diplomático.[8] Abriga pontos culturais de destaque como Museu de Arte de São Paulo. E instituições de ensino de influência como a Escola de Administração de Empresas, a Escola de Economia e a Escola de Direito ambas da Fundação Getulio Vargas e o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.[9]
A transformação econômica e cultural da Bela Vista é exemplificada pelo empreendimento Cidade Matarazzo.[20] Localizado no antigo Hospital Matarazzo[11] este megacomplexo inclui lojas de grife, um hotel de luxo, restaurantes e espaços culturais, com um investimento de cerca de R$ 2 bilhões. A Cidade Matarazzo revitaliza a área, atraindo turistas e investidores, e contribuindo para o desenvolvimento econômico do bairro.[20] O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor B", assim como outras áreas nobres da capital como Jardim Paulistano, Vila Olímpia e Pinheiros.[21]
Outra área notável proxima ao bairro é o Baixo Augusta, localizado no bairro de Cerqueira César, conhecido por sua vida noturna vibrante e alternativa.[8] Esta região é um ponto de encontro para jovens e artistas, oferecendo uma variedade de bares, casas de shows e teatros. O Baixo Augusta simboliza a diversidade cultural de São Paulo, refletindo a mistura de tradições e modernidade que caracteriza a cidade.[16]
É atendido pela Linha 2-Verde do metrô e futuramente será também coberto pela Linha 6-Laranja.[11] O romance Anarquistas, Graças a Deus de Zélia Gattai se passa no bairro, assim como parte do enredo de dois populares livros infanto-juvenis intitulados O Mistério do Cinco Estrelas e O Covil dos Vampiros.[22]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Villaça, Flávio (1998). Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel. pp. 107–108
- Ponciano, Levino (2001). Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: SENAC. pp. 107–108. ISBN 8573592230
- MOURO, Nathália Bianco; COELHO, Simone (2015). Bairro Bela Vista: o mais tradicional de São Paulo Revista História Urbana, v. 12, n. 3 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo. pp. 33–50
- PASIANI, Dallila (2016). A Bela Vista e suas características históricas e urbanas Revista Estudos Paulistanos, v. 14, n. 2 ed. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. pp. 22–40
- FONSECA, Luis Fernando (2018). Bela Vista: história e geografia de um bairro central de São Paulo Revista Geografia Urbana, v. 21, n. 4 ed. São Paulo: USP. pp. 55–80
- MOURA, Beatriz Helena (2019). Bela Vista: cultura, urbanização e memória paulistana Revista Cidades, v. 17, n. 3 ed. São Paulo: Unesp. pp. 22–40
- PRADO, João F. de Almeida (2020). A formação histórica do bairro da Bela Vista em São Paulo Revista de História Paulistana, v. 8, n. 2 ed. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura. pp. 45–60
Referências
- ↑ a b c d 140 anos do bairro Bela Vista
- ↑ a b c d Prefeitura de São Paulo. «Resolução no 22/2002» (PDF). Consultado em 29 de abril de 2014. Cópia arquivada (PDF) em 29 de abril de 2014
- ↑ a b c d e f Memória: a história da Bela Vista, o bairro da Festa de Nossa Senhora da Achiropita
- ↑ Cronicas e conversas psicodramaticas. Por Maria Alicia Romana.
- ↑ Adhemar de Barros: trajetória e realizações Por Paulo Cannabrava Filho
- ↑ Além dos mapas: os monumentos no imaginário urbano contemporâneo - Página 267 Cristina Freire - 1997
- ↑ a b c d e f A história da Bela Vista
- ↑ a b c d e f g h Bela Vista
- ↑ a b c d e f Bexiga, história viva das origens da cidade de São Paulo
- ↑ «Memória: a história da Bela Vista, o bairro da Festa de Nossa Senhora da Achiropita». Gazeta de São Paulo. 19 de agosto de 2021. Consultado em 27 de março de 2024
- ↑ a b c d Bixiga-Bela Vista: história e memória
- ↑ Geronazzo, Fernando (17 de novembro de 2021). «Capela Santa Luzia é reinaugurada e marca início das atividades da Cidade Matarazzo». Jornal O São Paulo. Consultado em 18 de novembro de 2021
- ↑ «A cidade de São Paulo receberá em breve novas marcas de hotéis de luxo». Revista Hotéis. 1 de abril de 2021. Consultado em 30 de abril de 2021
- ↑ Simonelli, Nádia. «Hospital histórico vai se tornar hotel seis estrelas com fachada verde, em SP». Casa Vogue. Consultado em 30 de abril de 2021
- ↑ «Está nascendo o novo símbolo de sofisticação em São Paulo». Esquema Imóveis. 17 de março de 2020. Consultado em 30 de abril de 2021
- ↑ a b c d e Resgatando a história das mercearias, escrevendo a história do bairro
- ↑ a b História, cultura e boemia: conheça a Bela Vista, região no Centro de São Paulo onde o antigo e o moderno se misturam
- ↑ a b c «O Colégio Santana e a História do Bairro». Consultado em 7 de outubro de 2009. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2010
- ↑ a b c Bela Vista, o bairro paulistano que era local de luta contra a censura
- ↑ a b «Conheça o megacomplexo Cidade Matarazzo». INFRA FM. Consultado em 30 de abril de 2021
- ↑ «Pesquisa CRECI» (PDF). 11 de julho de 2009. Consultado em 13 de julho de 2009
- ↑ «4 vezes em que o bairro Bela Vista foi destaque em SP». Gazeta de São Paulo. 22 de março de 2021. Consultado em 27 de março de 2024