Caso Ingrid Bueno
Caso Ingrid Bueno | |
---|---|
Ingrid era uma jogadora profissional de Call of Duty: Mobile | |
Local do crime | São Paulo, São Paulo, Brasil |
Data | 22 de fevereiro de 2021 por volta das 14h30 (UTC−3) |
Tipo de crime | homicídio |
Arma(s) | faca e espada |
Vítimas | Ingrid Oliveira Bueno da Silva |
Réu(s) | Guilherme Alves Costa |
Advogado de defesa |
|
Promotor | Fernando Cesar Bolque |
Juiz | Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro |
Local do julgamento | Fórum Criminal da Barra Funda |
Situação | encerrado |
Consequência | réu sentenciado a 14 anos de prisão, sem direito de recorrer em liberdade |
O Caso Ingrid Bueno ocorreu em 22 de fevereiro de 2021 em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo, quando a gamer da equipe de Call of Duty: Mobile FBI E-Sports Ingrid Oliveira Bueno da Silva, conhecida como Sol, foi assassinada com o uso de uma faca e uma espada por Guilherme Alves Costa, conhecido como Flashlight e Flash Amodeus.
No dia 8 de maio de 2022, Guilherme foi condenado a 14 anos de prisão.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Ingrid Oliveira Bueno da Silva tinha 19 anos e havia acabado de começar sua carreira nos e-sports jogando Call of Duty: Mobile na equipe FBI E-Sports, onde era conhecida como Sol. Ela participava de campeonatos organizados pelo grupo Battle Girls, onde, diferente de outros torneios, o jogador não precisa pagar taxa de inscrição.[1][2]
Guilherme Alves Costa tinha 18 anos e jogava em outro time, Gamers Elite, onde era conhecido como Flashlight[1][2] e Flash Amodeus.[3] Ele era muito prestativo e fez um curso de teologia por um ano. Seu irmão morreu de overdose de cocaína na sua frente, o que teria sido o seu gatilho para se decepcionar com a religião. Também tinha problemas com o pai, apesar do desconhecimento de sua família.[4]
Eles se conheceram na internet um mês antes do assassinato e mantiveram o relacionamento sem o conhecimento de seus familiares.[3] Guilherme conversava com Ingrid sobre os seus problemas, o que fez com que ela quisesse ajudá-lo. Ele também dizia estar apaixonado pela garota.[4] O pai de Ingrid acessou mensagens no celular, onde ela diz para Guilherme que suspeitava estar com Covid-19. Guilherme insiste em encontrá-la, mesmo se o resultado do teste fosse positivo. Guilherme então diz que "[v]ocê deve ser minha. Isso faz parte do sacrifício. Agora você não entende, está confusa". Ingrid responde: "Isso não é um livro, Guilherme". Ele diz: "Mas em breve você vai entender o real motivo de eu pedir isso".[5]
Assassinato
[editar | editar código-fonte]Vídeos externos | |
---|---|
Guilherme admite que matou Ingrid e pede para divulgarem seu livro |
No dia 22, Guilherme chamou Ingrid para ir a sua casa em Pirituba para jogar. Ela entrou e tomou café da manhã com a mãe de Guilherme. Ela saiu para trabalhar como diarista. Ambos ficaram sozinhos até as 10h30, quando o irmão de Guilherme entrou para pegar sua bolsa para fazer entregas de marmitas. Lá, por volta das 14h30, ele a perfurou múltiplas vezes com uma faca e uma espada, e ainda tentou degolá-la.[4][6]
Guilherme postou vídeo com imagens do corpo nas redes sociais e vídeo onde mostra o dedo do meio para o espelho em seu quarto, escrevendo “Sou eu no vídeo, vocês estão cegos?” Seus seguidores duvidaram que o corpo fosse real, então Guilherme gravou vídeo onde ri da situação e diz “Vocês estão achando que é tinta, que é montagem, ou algo do tipo. Mas não, não é [risos]. Eu realmente matei ela, entendeu? Bom, eu tenho um livro também. Pedir para o pessoal tá divulgando esse meu livro e é isso aí. Espero que vocês leiam, tem algumas verdades”.[7][8][9] O vídeo também foi enviado para os membros da Gamers Elite. Os responsáveis pelo grupo enviaram o vídeo para as autoridades responsáveis e pediram que os membros não o divulgassem. Após ferir Ingrid, Guilherme fugiu e seu irmão encontrou o corpo de Ingrid sobre a cama. Guilherme disse aos seus familiares que queria se matar, mas seu irmão o convenceu de se entregar.[2][10] No vídeo, Guilherme estava usando a mesma máscara dos perpetradores do Massacre de Suzano.[11]
Os policiais militares foram chamados por ocorrência de mulher esfaqueada. O óbito de Ingrid foi constatado pela equipe de resgate.[2]
Investigação
[editar | editar código-fonte]Meia hora após o crime, Guilherme se entregou no 87º Distrito Policial. Ele admitiu que planejou o homicídio e disse ter escrito um livro de 52 páginas sobre o motivo do crime, que foi anexado ao inquérito. Ele afirmou em depoimento para a Polícia Civil ter a sanidade mental completamente apta e que matou Ingrid porque quis. Guilherme foi indiciado pelo promotor Fernando Cesar Bolque por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meio cruel.[3][6] O livro se chamava Meu Dicionário, onde Guilherme diz ser um soldado combatendo o cristianismo, e matou Ingrid por ela ter entrado em seu caminho.[10] Também diz ter ressentimento do pai por tê-lo abandonado, chama sua família de hipócrita e dizia estar vivendo uma vida dupla.[4]
No mesmo dia, a professora Lola Aronovich alega ter recebido às 23h09 e-mail do autor do crime ou alguém se passando por ele, onde explica seu ódio às mulheres e se declarou usuário de chans. Também disse ter planejado o assassinato por duas semanas. Um dia depois, foi ameaçada de morte por uma ligação anônima.[12][13] Mas o promotor de Justiça Fernando Cesar Bolque se manifestou dizendo que o garoto não poderia ter sido o autor da mensagem e da ameaça, pois ele já se encontrava detido na delegacia e sem seu celular. O e-mail usado também é falso e não-rastreável.[12] Uma postagem já apagada no Endchan, imageboard que hospedava o Dogolachan, afirmava ter ajudado Guilherme no planejamento e divulgação do assassinato.[14] O fórum original havia sido fechado em 2019 após a Operação Illuminate, que prendeu cinco moderadores.[15][16] Outro grupo que teria ajudado Guilherme seria o Crazychan, grupo de WhatsApp criado em 2016 envolvido em diversos crimes, incluindo misoginia e pedofilia, que teria dado uma pistola 9mm para Guilherme, que não foi encontrada pela polícia. Ainda, no Firechan, um usuário chamado Ghostfag disse ter sido o mentor de Guilherme.[11] O garoto, porém, nega ter qualquer involvimento com imageboards. Apesar disso, declarou admirar Anders Breivik.[14]
Guilherme foi preso preventivamente, transferido para o Centro de Detenção Provisória Paulo Gilberto de Araújo, no bairro de Belém, Zona Leste. O Ministério Público denunciou Guilherme no dia 25, quebrou o sigilo de seu celular e pediu que fosse realizado um exame de insanidade.[3][17] Inicialmente, a denúncia foi por feminicídio, mas foi descartada pelo promotor.[14] A defesa alegou que o réu era inimputável, mas o exame declarou que Guilherme não possuía doenças mentais.[18] A defesa, então, realizou exame por um psiquiatra particular, alegando que o laudo possuía poucas folhas. O novo laudo concluiu que Guilherme tem Transtorno Delirante Persistente e Traços de Personalidade Antissocial.[10] No dia 2 de março, o Ministério Público pediu a reconstrução da cena do crime.[19]
Guilherme foi a juri popular, presidido pela juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro. Originalmente, o julgamento seria no dia 3 de março de 2022, mas foi adiado para o dia 9 de maio a pedido da defesa, pela anexação dos documentos que não haviam sido analizados pelo Ministério Público. Sua defesa é realizada pelos advogados João Marcos Alves Batista, William Vinicius Sartório e Fernanda Magnusson. Ela alega que o réu tenha problemas mentais o que o tornaria semi-imputável e evitaria sua prisão. A tese, porém, foi contestada pelo advogado Fernando Cesar Bolque do Ministério Público, que se baseia no laudo oficial feito pelos peritos da justiça.[10] No dia 8 de maio, o júri no Fórum Criminal da Barra Funda condenou Guilherme a 14 anos de prisão, sem direito de recorrer em liberdade. Durante sua prisão, ele deve receber acompanhamento psiquiátrico.[7]
Reações
[editar | editar código-fonte]Após o assassinato, o grupo FBI E-Sports postou mensagem de luto nos stories do Instagram, dizendo que "Ela era uma pessoa extraordinária, a quem vamos lembrar todo dia que o Sol nascer, todo dia que a luz do Sol tocar no nosso corpo, toda vez que olharmos para o Sol, nós vamos lembrar dela".[1] A Gamers Elite publicou nota dizendo que "não compactua com qualquer criminoso de nenhum modo e jamais irá compactuar ou fazer apologias ao mesmo".[2] Sua família e amigos prestaram homenagens.[12] O pai de Ingrid publicou carta aberta, onde chamou o crime de premeditado e prestou solidariedade à família de Guilherme.[20] A família de Guilherme se desculpou com um rápido telefonema para a família de Ingrid.[21] No dia 24, a mãe de Guilherme deu entrevista para a TV Record, dizendo não reconhecer o próprio filho.[22] No dia 26, suas fãs a homenagearam no Call of Duty Mobile, se ajoelhando na frente da igreja dentro do jogo.[23]
O assassinato foi comemorado em grupos de WhatsApp e fórums como o Dogolachan.[14]
O fato teve repercussão internacional.[24][25][26]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c Lucas Gerardi (6 de outubro de 2022). «COD: Jogadora Sol é assassinada em São Paulo». ESPN. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 24 de fevereiro de 2021
- ↑ a b c d e «Estudante é suspeito de matar jogadora profissional de game que conheceu pela internet; jovem de 19 anos foi morta a facadas em SP». G1 SP. 23 de fevereiro de 2021. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b c d Tiago Scheuer e William Soares (24 de fevereiro de 2021). «Estudante preso por esfaquear e matar jogadora profissional de game é indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil em SP». SP1 e G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b c d Grasielle Castro (7 de março de 2021). «De religioso a assassino: como agia o jovem que matou gamer a facadas». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ «'Você deve ser minha', diz jovem em mensagem antes de matar gamer». R7. 1 de março de 2021. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b Glauco Araújo e Kleber Tomaz (25 de fevereiro de 2021). «MP acusa estudante de usar faca e espada para matar jogadora profissional de game em SP e pede exame de insanidade mental». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b Mariana Costa e Gabriela Marçal (9 de agosto de 2022). «Jovem que matou gamer com espada em SP é condenado a 14 anos de prisão». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Rebeca Borges (24 de fevereiro de 2021). «Acusado de assassinar gamer a facadas gravou vídeo: "Realmente matei"». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2021
- ↑ «Jovem que matou Ingrid Sol com espada postou vídeo mostrando o corpo: 'olha que maravilha'». Ei Nerd. 9 de agosto de 2022. Consultado em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b c d Kleber Tomaz (3 de março de 2022). «Estudante que usou faca e espada para matar gamer conhecida como Sol vai a júri popular em SP». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b Lola Aronovich (25 de fevereiro de 2021). «Lola Aronovich: O assassinato de Sol não é caso isolado». CartaCapital. Consultado em 23 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 23 de setembro de 2024
- ↑ a b c Laura Reif (26 de fevereiro de 2021). «Família e amigos lamentam morte de jovem gamer: "Cruel e injusto", diz irmã». Marie Clarie. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Lola Aronovich (25 de fevereiro de 2021). «O assassinato de Sol não é caso isolado». CartaCapital. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ a b c d Leonardo Coelho (10 de março de 2021). «Sol, Luciana, Elidia, Massacres de Suzano e Realengo: as 23 vítimas do terrorismo misógino». Ponte Jornalismo. Consultado em 9 de outubro de 2022
- ↑ Chico Alves (9 de dezembro de 2020). «Ameaças a vereadoras negras e trans são perigo real, diz ativista Lola». Uol. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022
- ↑ Leonardo Coelho (12 de dezembro de 2020). «Os ataques dos trolls de extrema-direita a políticas negras e LGBT+ recém-eleitas». Ponte Jornalismo. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022
- ↑ Renato Fontes (27 de fevereiro de 2021). «Justiça quebra sigilo de jovem suspeito de matar jogadora de game em SP». Agora São Paulo. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Kleber Tomaz (10 de setembro de 2021). «Laudo diz que estudante que usou faca e espada para matar gamer em SP não tem doença mental; réu poderá ir a júri popular». G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Cesar Sacheto (2 de março de 2021). «MP pede a reconstituição de assassinato de gamer em São Paulo». R7. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Lucas Gerardi (3 de março de 2021). «'Foi um crime hediondo, cruel, brutal, macabro, planejado', desabafa pai de Sol em carta aberta». ESPN. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Alfredo Henrique (2 de março de 2021). «Parentes de suspeito de matar gamer pedem perdão à família dela, diz advogado». Agora São Paulo. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 2 de março de 2021
- ↑ Roberto Wagner (24 de fevereiro de 2021). «Mãe de acusado de matar gamer desabafa: "Filho que criei não foi esse"». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Anselmo Caparica (26 de fevereiro de 2021). «Grupo de meninas homenageia jogadora dentro de game preferido dela; adolescente foi assassinada por estudante em SP». SP1 e G1 SP. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Cade Onder (24 de fevereiro de 2021). «Call Of Duty eSports Player Murdered In Disturbing Tragedy» (em inglês). ScreenRant. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022
- ↑ Kayleigh Partleton. «Call of Duty: Mobile pro reportedly murders female player» (em inglês). pocketgamer.biz. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de abril de 2021
- ↑ Yaron Steinbuch (26 de fevereiro de 2021). «Brazilian gamer arrested after posting footage after allegedly killing Call of Duty: Mobile rival». News.co.au. Consultado em 9 de outubro de 2022