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Igreja Católica no Barein

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(Redirecionado de Catolicismo no Barém)
IgrejaCatólica

Barein
Igreja Católica no Barein
Catedral de Nossa Senhora da Arábia, em Awali, Barein.
Ano 2021[1]
População total 1.367.431[2]
Cristãos 165.459 (12,1%)[2]
Católicos 161.000 (11%)[3]
Paróquias 2[1]
Presbíteros 8[1]
Seminaristas 2[1]
Religiosas 7[1]
Presidente da Conferência Episcopal Pierbattista Pizzaballa[4]
Núncio apostólico Eugene Martin Nugent[5]
Códice BH

A Igreja Católica no Barein[6][7] (também grafado Barém,[6][8] Bahrein,[7][9] ou Bareine[7]) é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. A população do país é de maioria muçulmana xiita.[10] A maior parte dos cristãos bareinitas são estrangeiros, que vivem no país a trabalho, além de uma pequena quantidade de nativos. A fé cristã pode ser praticada em locais privados, e não pode haver proselitismo aos muçulmanos e nem insultos ao islã. A lista mundial da perseguição de 2023, elaborada pela Fundação Portas Abertas, classificou o país como o 65.º que mais persegue os cristãos.[11]

História[editar | editar código-fonte]

Imagem de Nossa Senhora da Arábia.

As tradições cristãs afirmam que a Arábia foi primeiramente evangelizada pelo Apóstolo Bartolomeu. No século III a região já era território de uma diocese árabe. No século seguinte, o número de cristãos vinha em crescimento, aliado também à perseguição que os mesmos vinham sofrendo na Pérsia, no ano 339, de modo que o Barein era considerado um refúgio seguro.[11]

Parte das ações da Igreja foram prejudicadas pelo crescimento da heresia nestoriana. Ruínas de um mosteiro desse período foram encontradas em Samaheej, e de outro em Al-Dair, já que essa é a palavra em aramaico para mosteiro. Registros do período nestoriano evidenciam que a presença cristã entre os séculos V e VII estava bem enraizada. Há registros da participação regular de bispos bareinitas em concílios, como no Primeiro Concílio de Niceia, em 325. Exércitos árabes conquistaram a região, em 633, introduzindo o islã no Barein. As duas dioceses que as ilhas possuíam perduraram até 835.[11] Quando Maomé morreu, muitas das tribos que haviam se convertido ao islã regressaram ao cristianismo, mas foram punidos pelo califa. O segundo califa, Omar II, considerou que "duas religiões não podiam coexistir na Arábia". Ainda hoje em dia, este slogan é popular na região. O governante deu às tribos cristãs as opções de retornar ao islã, tributação pesada ou deixarem a região. A terceira opção foi a escolhida pela maioria, que migrou para a Anatólia e para a Síria. As tribos árabes cristãs da Península Arábica perduraram até o século IX.[12]

Em 1521, exploradores portugueses chegam à região, trazendo consigo missionários católicos. Seu domínio perdurou até a invasão dos árabes da Pérsia em 1602, apagando toda a influência católica construída. Em 1782, uma família kuwaitiana tomou o controle, apoiada pelos britânicos, assim permanecendo entre os anos de 1820 até 1971. Enquanto a Grã-Bretanha se preparava para se desligar da região, o Barein desenvolveu um governo de transição em 1970, quatro décadas depois de a descoberta de jazidas de petróleo ter impulsionado a sua economia. O país permaneceu quase inteiramente muçulmano e o Islã era a religião oficial, embora houvesse liberdade religiosa garantida dentro de certos limites.[13] Milhares de cristãos expatriados viajaram ao Barein, iniciando a formação de uma nova e florescente comunidade cristã.[11]

Atualmente[editar | editar código-fonte]

Igreja do Sagrado Coração, localizada em Manama.

As mulheres etnicamente barenitas são proibidas de se casar com um não muçulmano. Uma cristã casada com um muçulmano terá negados seus direitos a custódia dos filhos e herança. Elas também sofrem pressão da família ao se converter, são agredidas, casadas à força com muçulmanos, ou até ser ameaçadas de morte. Mesmo as trabalhadoras estrangeiras está vulneráveis, especialmente com a possibilidade de estupro, e têm de usar roupas típicas do islã para tentar evitar situações de abuso. Enquanto isso, os homens que se convertem normalmente são demitidos do trabalho, expulsos de casa e da família e ameaçados.[11]

A construção de novas igrejas depende da aprovação do governo, e dificilmente é permitida; em razão disso, normalmente as igrejas ficam superlotadas. [11] Os católicos têm três opções de igrejas: a Catedral de Nossa Senhora da Arábia, situada em Awali, a Igreja do Sagrado Coração em Manama, construída em 1939 após o terreno ser doado pelo então rei, Hamad ibn Isa Al-Khalifa, e uma casa de culto pequena, que é partilhada com os anglicanos em Awali.[10][14] Atualmente, a catedral recebe cerca de mil visitantes por dia.[15]

A grande maioria dos católicos que vivem na região são trabalhadores estrangeiros, especialmente oriundos das Filipinas, os quais formavam uma única paróquia em 2000, liderada por três padres e auxiliada por menos de 100 religiosos. Os líderes da Igreja não tem permissão de falar sobre questões políticas, e nem de fazer proselitismo. Em janeiro de 2000, o emir bareinita Hamad bin Isa al-Khalifa, reuniu-se com o Papa João Paulo II antes mesmo de o Barein ter estabelecido relações diplomáticas formais com a Santa Sé.[13] A Igreja gerencia no país duas escolas primárias, que atendem 987 estudantes, e uma escola média, que atende 328 estudantes.[16]

Em 10 de dezembro de 2021, foi consagrada a Catedral de Nossa Senhora da Arábia em Awali, sendo ela a maior igreja católica da Península Arábica, com capacidade para 2.300 pessoas, e a primeira catedral a ser inaugurada na região em 60 anos. O terreno em que ela foi construída foi doado Rei do Barein, Hamad ibn Isa Al Khalifa, e também foram feitos uma área residencial para a cúria episcopal, uma casa de hóspedes e instalações educativas. É a igreja mais importante do Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional. No mesmo mês, o governo barenita atribuiu um novo terreno para um cemitério cristão em Salmabad. No fim de 2021, o município de Awali ainda não havia aprovado a construção de outras três igrejas cristãs propostas, evidenciando a lentidão do governo em permitir a construção de templos cristãos.[10] Em 19 de maio de 2014, o Rei barenita havia visitado o Papa Francisco no Vaticano e deu-lhe de presente uma maquete da catedral que ainda estava em construção. A pedra fundamental do templo foi doada pelo Papa.[17][18]

Organização territorial[editar | editar código-fonte]

O Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional cobre todo o território do Barein.

O catolicismo está presente no país com uma circunscrição eclesiástica de rito romano, o Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional, que, além de incluir todo o território bareinita, também inclui a Arábia Saudita, o Catar e o Kuwait.[19]

Conferência Episcopal[editar | editar código-fonte]

A reunião de bispos de vários países do Chifre da África e Oriente Médio, incluindo o Barein, forma a Conferência dos Bispos Latinos das Regiões Árabes, que foi criada em 31 de março de 1967.[4]

Nunciatura Apostólica[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Nunciatura Apostólica do Barein

A Nunciatura Apostólica do Barein foi criada em 2001, e sua sede fica localizada na Cidade do Kuwait.[5]

Visitas papais[editar | editar código-fonte]

O país foi visitado uma vez pelo Papa Francisco, entre os dias 3 e 6 de novembro de 2022,[20] e foi considerada histórica, por dar um importante passo para o diálogo inter-religioso; o Santo Padre também frisou a importância de a liberdade religiosa ser posta em prática.[10][14][21]

No Pentecostes – dizem os Atos dos Apóstolos –, os discípulos 'encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar' (2, 1). Notemos como o Espírito, apesar de Se pousar sobre cada um, todavia escolhe o momento em que estão todos juntos. Podiam adorar a Deus e fazer bem ao próximo mesmo separadamente, mas é convergindo em unidade que se abrem de par em par as portas à obra de Deus. O povo cristão é chamado a reunir-se, para que aconteçam as maravilhas de Deus. O fato de estar aqui no Barein como um pequeno rebanho de Cristo, disperso em vários lugares e confissões, ajuda a sentir a necessidade da unidade, da partilha da fé: assim como neste arquipélago não faltam ligações seguras entre as ilhas, assim aconteça também entre nós, para não estarmos isolados, mas em comunhão fraterna.
 
Discurso de Francisco no encontro ecumênico e oração pela paz, no dia 4 de novembro de 2022[22].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e «Catholic Church in Bahrain» (em inglês). GCatholic. Consultado em 16 de junho de 2024 
  2. a b «National Profile - Bahrain». The ARDA. Consultado em 16 de junho de 2024 
  3. «Bangladesh» (em inglês). Departamento de Estado dos Estados Unidos. 2022. Consultado em 5 de junho de 2024 
  4. a b «Conférence des Evêques Latins dans les Régions Arabes» (em inglês). GCatholic. Consultado em 16 de junho de 2024 
  5. a b «Apostolic Nunciature - Bahrain» (em inglês). GCatholic. Consultado em 16 de junho de 2024 
  6. a b «Bareinita». Dicionário Houaiss. Consultado em 16 de junho de 2024 
  7. a b c Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2009). Minidicionário Aurélio 7 ed. [S.l.]: Positivo. p. 74. 895 páginas. ISBN 9788574729596 
  8. «Barém». Dicionários Porto Editora. Infopédia 
  9. «Autocrata do Bahrein, no poder desde 1971, morre aos 84 anos». Folha de S. Paulo. 11 de novembro de 2020. Consultado em 17 de junho de 2024 
  10. a b c d «Bahrein». Fundação ACN. Consultado em 16 de junho de 2024 
  11. a b c d e f «Bahrein». Portas Abertas. Consultado em 17 de junho de 2024 
  12. «Direto do Vaticano: Bahrein, um refúgio para cristãos na Península Arábica». Aleteia. 28 de outubro de 2022. Consultado em 17 de junho de 2024 
  13. a b «Bahrain, The Catholic Church In» (em inglês). Encyclopedia.com. Consultado em 17 de junho de 2024 
  14. a b «Papa termina viagem ao Bahrein com visita à igreja mais antiga do Golfo». CNN. 6 de novembro de 2022. Consultado em 17 de junho de 2024 
  15. Débora Donnini (17 de dezembro de 2021). «A catedral do Bahrein, um oásis de graça no deserto». Vatican News. Consultado em 17 de junho de 2024 
  16. «A Igreja Católica no Reino do Bahrein». Vatican News. 3 de novembro de 2022. Consultado em 17 de junho de 2024 
  17. Ricardo Sanches (24 de outubro de 2022). «Conheça a moderna Catedral de Nossa Senhora da Arábia». Aleteia. Consultado em 17 de junho de 2024 
  18. «Bahrein inaugura a maior igreja católica da Península Arábica». Estado de Minas. 10 de dezembro de 2021. Consultado em 17 de junho de 2024 
  19. «Apostolic Vicariate of Northern Arabia» (em inglês). GCatholic. Consultado em 17 de junho de 2024 
  20. «Special Celebrations in a.d. 2022» (em inglês). GCatholic. Consultado em 17 de junho de 2024 
  21. «Papa defende unidade contra lógica de "blocos opostos"». Exame. 4 de novembro de 2022. Consultado em 11 de junho de 2024 
  22. Papa Francisco (4 de novembro de 2022). «DISCURSO DO SANTO PADRE». Vatican.va. Consultado em 17 de junho de 2024