Africanização

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Africanização é a adoção de uma língua africana e de outros atributos associados a etnias negras, voluntariamente ou não, por comunidades. Tem sido aplicada em vários contextos, nomeadamente geográficos, de nomeação e composição do serviço público. [1]

Africanização dos pardos[editar | editar código-fonte]

De acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, os pardos são considerados como negros. Essa metodologia também é adotada pelo IBGE, que vem agregando as categorias pardos e pretos numa categoria única denominada "negros".[2] Porém, esta decisão tem causado muitas polêmicas, pois não é um consenso geral na sociedade brasileira. Para o sociólogo Demétrio Magnoli, os pardos são um grupo mestiço, que não se vê nem como branco, nem como negro, mas como um grupo separado.[3] Por sua vez, o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho classifica essa metodologia como "genocídio racial estatístico", uma vez que a categoria "parda" sempre incluiu muitos brasileiros mestiços de índios, predominantes nos estados do Norte, os quais estão sendo excluídos das estatísticas com essa nova metodologia. Ainda segundo Murilo de Carvalho, separar a população brasileira somente entre "brancos" e "negros", ignorando a grande parcela miscigenada, é uma tentativa falha de copiar o modelo binário de classificação racial norte-americano para a realidade brasileira.[4]

Certos segmentos do movimento negro defendem que alguns pardos devem ser excluídos das cotas. Em entrevista, Frei David do Santos, diretor executivo da organização não governamental Educafro, afirmou: "Todo o problema está no pardo-branco, porque ele tem poucos traços fenotípicos do povo negro e usa a genotipia [genética/ascendência] para usurpar um benefício que não lhe pertence".[5]

Segundo a jurista Roberta Kaufmann, existe uma "grotesca manipulação dos índices relacionados aos negros". Ela cita que muitos ativistas contam os pardos como negros para dizer que a maioria da população brasileira é negra, mas excluem os pardos quando afirmam, por exemplo, que há apenas 3% de negros nas universidades brasileiras.

A questão dos pardos tem causado polêmicas. Em 2016, para o concurso do Itamaraty, diplomatas ouvidos pela Folha de S. Paulo afirmaram que, no afã de eliminar candidatos tidos como "fraudadores", os cotistas classificados como "pardos" foram eliminados do concurso pela comissão verificadora.[6] A Lei 12.990/2014, que reserva 20% das vagas nos concursos públicos federais para candidatos "negros", instituiu que "pretos" e "pardos" fazem jus às cotas.[7]

Segundo o censo do IBGE de 2010, apenas 7,6% dos brasileiros identificaram-se como pretos, ao passo que 43,1% identificaram-se como pardos e 47,7% como brancos.[8]

Africanização do serviço público[editar | editar código-fonte]

Em alguns países, imediatamente após a sua independência, houve políticas de ações afirmativas denominadas "Africanização". O objetivos delas era destinado a aumentar o número de Africanos no serviço civil (que tinha sido, historicamente dominado por brancos[9] ou Asiáticos).[10]

Políticas similares de cotas raciais também ocorreram em países como o Brasil, ainda que não sobre o pretexto utilizado na África, mas sobre a justificativa de pagar uma dívida histórica com os negros escravizados.[11]

Africanização de nomes[editar | editar código-fonte]

Africanização se refere à modificação de nomes de lugares e nomes pessoais para refletir uma identidade "Africana". Em alguns casos, as alterações não são uma substituição do nome europeu por meio de transliteração.[12]

Em muitos casos, durante o período colonial, as terras e localizações africanas tiveram seus nomes  Anglonizados ou Francofonizados.

Nomes de lugar[editar | editar código-fonte]

Nomes de países[editar | editar código-fonte]

Vários países Africanos sofreram alterações de nome durante o século XX e XXI, como resultado de consolidações, ganho de soberania, empoderamento e mudanças de regime.

Nome anterior Ano Nome atual
República do Daomé 1975 República do Benim
Protetorado da Bechuanalândia 1966 República do Botsuana
Alto Volta 1984 Burquina Fasso
Ubangui-Chari 1960 República Centro-Africana
Zaire 1997 República Democrática do Congo
Meio Congo 1960 República do Congo
Somalilândia Francesa / Afares e Issas 1977 República do Jibuti
Guiné Espanhola 1968 República da Guiné Equatorial
Reino da Suazilândia 2018 Reino de Essuatini
Costa do Ouro 1957 República do Gana
Guiné Francesa 1958 República da Guiné
Guiné Portuguesa 1974 República da Guiné-Bissau
Basutolândia, Território da 1966 Reino do Lesoto
Niassalândia 1964 República do Maláui
Sudão Francês 1960 República do Mali
Sudoeste Africano 1990 República da Namíbia
Ruanda-Urundi 1962 República de Ruanda / República de Burundi
Zanzibar / Tanganica 1964 República Unida da Tanzânia
Buganda 1962 República do Uganda
Rodésia do Norte 1964 Zâmbia
Rodésia do Sul 1980 República do Zimbábue

Nomes pessoais[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. African Successes Four Public Managers of Kenyan Rural Development David K. Leonard UNIVERSITY OF CALIFORNIA PRESS
  2. IBGE usa classificação de cor preta; grupo negro reúne pretos e pardos
  3. MAGNOLI, Demétrio (2008). Uma Gota de Sangue. [S.l.]: Editora Contexto 
  4. Genocídio racial estatístico
  5. Candidato negro a concurso público terá de se apresentar para comprovar a cor
  6. Itamaraty exclui de concurso 47 candidatos autodeclarados negros
  7. LEI Nº 12.990, DE 9 DE JUNHO DE 2014
  8. IBGE. Censo Demográfico 2010
  9. Adedeji, Adebayo. "Comparative strategies of economic decolonization of Africa." In Ali AlʼAmin Mazrui and Christophe Wondji, eds. Africa Since 1935. UNESCO
  10. Pp.176-178. Goans of the North Atlantic: A Transnational Study of Migration, Technology Adoption, and Neoculturation across Six Generations by Clifford Pereira in Migration, technology and Transculturation: Global Perspective. Edited by Myna German and Padmini Banerjee. Center for International and Global Studies. Lindenwood University Press. St. Charles. Mo. USA
  11. ConJur. «Lei de Cotas no serviço público federal é constitucional, decide Supremo» 
  12. Edgar A. Gregersen. Language in Africa: An Introductory Survey. [S.l.: s.n.] ISBN 0-677-04380-5