Marimba Ani

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Marimba Ani
Nacionalidade norte-americana
Ocupação antropóloga
Escola/tradição Pan africanismo, afrocentrismo

Marimba Ani (nascida como Dona Richards) é uma antropóloga e estudiosa dos Estudos da África mais conhecida por sua obra Yurugu, uma crítica abrangente da cultura e pensamento europeus e por ter cunhado o termo "Maafa" para o holocausto africano.

Vida e obra[editar | editar código-fonte]

Marimba Ani completou seu bacharelado na Universidade de Chicago e o seu mestrado e doutorado em antropologia na Faculdade de Pós-Graduação da New School.[1] Em 1964, durante o Verão da Liberdade, ela serviu como secretária de campo do Comitê Coordenador Não Violento de Estudantes (Student Nonviolent Coordinating Committee) e se casou com o ativista dos direitos civis Robert Parris Moses; eles se divorciaram em 1966.[2][3] Ela foi Professora de Estudos da África no Departamento de Estudos Negros e Porto-Riquenhos da Universidade da Cidade de Nova Iorque[1][3] e à ela é creditada a introdução do termo Maafa para descrever o holocausto africano.[4][5]

Yurugu[editar | editar código-fonte]

A obra de Ani de 1994, Yurugu: An Afrikan-Centered Critique of European Cultural Thought and Behavior, examinou, por uma perspectiva africana, a influência da cultura europeia na formação das estruturas institucionais modernas através do colonialismo e do imperialismo.[6][7][8] Descrito pela autora como "uma polêmica intencionalmente agressiva", o livro deriva seu título de uma lenda do povo Dogon sobre um ser incompleto e destrutivo sendo rejeitado por seu criador.[9][10]

Áudios externos
"Marimba Ani speaks" – Yurugu e o asili europeu (em inglês)

Ao examinar as causas da supremacia branca global, Ani defendeu que o pensamento europeu acredita implicitamente em sua própria superioridade, afirmando: "A cultura europeia é única no que se refere à asserção do interesse político".[6]

Em Yurugu, Ani propôs uma conceptualização tripartida de cultura, baseada nos conceitos de

  1. Asili, a semente central ou "matriz germinativa" de uma cultura,
  2. Utamawazo, "pensamento ou visão de mundo culturalmente estruturado", "a maneira como o pensamento de membros de uma cultura deve ser modelado se o asili deve ser cumprido", e
  3. Utamaroho, a "força vital" ou "fonte de energia" de uma cultura, que "lhe dá o seu tom emocional e motiva o comportamento coletivo de seus membros".[8][9][11]

Os termos usados por Ani neste modelo são de origem suaíle. Asili é uma palavra suaíle comum que significa "origem" ou "essência"; utamawazo e utamaroho são neologismos criados por Ani com base nas palavras suaíle utamaduni ("civilização"), wazo ("pensamento") e roho ("espírito").[9][12][13] O utamawazo e o utamaroho não são vistos como separados do asili, mas como suas manifestações, que "nascem do asili e por sua vez, o afirmam."[11]

Ani caracterizou o asili da cultura europeia como sendo dominado por conceitos de separação e controle, com dicotomias que estabelecem separações como "homem" e "natureza", "o europeu" e "o outro", "pensamento" e "emoção" — separações que, na verdade, acabam negando a existência do "outro", que, por sua vez, acaba tornando-se subserviente às necessidades do homem (europeu).[8] O controle é disfarçado pelo universalismo já que, na realidade, "as formulações abstratas 'universais' na experiência europeia têm sido usadas para controlar as pessoas, impressioná-las e intimidá-las."[14]

De acordo com o modelo de Ani, o utamawazo da cultura europeia "é estruturado pela ideologia e experiência bio-cultural", e seu utamaroho ou força vital é a dominação, refletida em todas as estruturas de base europeia e na imposição de valores da civilização ocidental em povos em todo o mundo, destruindo culturas e línguas em nome do progresso.[8][15]

O livro também aborda o uso do termo maafa, baseado em uma palavra suaíle que significa "grande desastre", para descrever a escravidão. Intelectuais afrocêntricos subsequentemente popularizaram e expandiram a conceitualização de Ani.[16] Citando tanto a história de séculos de escravidão e exemplos mais recentes como o estudo de Tuskegee, Ani diz que os europeus e os norte-americanos brancos possuem uma "enorme capacidade para a perpetração de violência física contra outras culturas" e que isso resultou em um tratamento "anti-humano e genocida" dos negros.[16][17]

Recepção crítica[editar | editar código-fonte]

Phillip Higgs, em African Voices in Education, descreve Yurugu como um "excelente delineamento da ética da convivência harmoniosa entre seres humanos", mas cita como ponto fraco a maneira como o livro "negligencia as estruturas de desigualdade social e conflito que podem ser encontradas em todas as sociedades, incluindo as indígenas".[15] Molefi Kete Asante descreve Yurugu como um "trabalho elegante".[18] Stephen Howe acusa de Ani de ter pouco interesse de fato na África (além da sua romantização) e desafia sua crítica da lógica "eurocêntrica", já que ela investe fortemente em seu uso no livro.[9]

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • "The Ideology of European Dominance," The Western Journal of Black Studies. Vol. 3, Nº 4, inverno de 1979, e Présence Africaine, No. 111, 3º Trimestre, 1979.
  • "European Mythology: The Ideology of Progress," in M. Asante and A. Vandi (eds), Contemporary Black Thought, Beverly Hills: Sage Publications, 1980 (59-79).
  • Let The Circle Be Unbroken: The Implications of African Spirituality in the Diaspora. New York: Nkonimfo Publications, 1988 (orig. 1980).
  • "Let The Circle Be Unbroken: The Implications of African-American Spirituality," Présence Africaine. Nº 117-118, 1981.
  • "The Nyama of the Blacksmith: The Metaphysical Significance of Metallurgy in Africa," Journal of Black Studies. Vol. 12, Nº 2, dezembro de 1981.
  • "The African 'Aesthetic' and National Consciousness," in Kariamu Welsh-Asante (ed.), The African Aesthetic, Westport, Ct.: Greenwood Press, 1993 (63-82)
  • Yurugu: An Afrikan-centered Critique of European Cultural Thought and Behavior. Trenton: Africa World Press, 1994.
  • "The African Asili," in Selected Papers from the Proceedings of the Conference on Ethics, Higher Education and Social Responsibility, Washington, D.C.: Howard University Press, 1996.
  • "To Heal a People", in Erriel Kofi Addae (ed.), To Heal a People: Afrikan Scholars Defining a New Reality, Columbia, MD.: Kujichagulia Press, 1996 (91-125).
  • "Writing as a means of enabling Afrikan Self-determination," in Elizabeth Nuñez and Brenda M. Greene (eds), Defining Ourselves; Black Writers in the 90's, New York: Peter Lang, 1999 (209–211).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Women of the African Diaspora». womenoftheafricandiaspora.com. 2011. Consultado em 4 de julho de 2011 
  2. «Welcome to the Civil Rights Digital Library». crdl.usg.edu. 2011. Consultado em 4 de julho de 2011 
  3. a b «Ani, Marimba». crdl.usg.edu. 2011. Consultado em 4 de julho de 2011 
  4. Vivian Gunn Morris; Curtis L. Morris (julho de 2002). The Price They Paid: desegregation in an African American community. [S.l.]: Teachers College Press. p. 10. ISBN 978-0-8077-4235-8. Consultado em 4 de julho de 2011 
  5. «mksfaculty2». hunter.cuny.edu. 2003. Consultado em 4 de julho de 2011. Arquivado do original em 2 de setembro de 2000 
  6. a b Melanie E. L. Bush (28 de julho de 2004). Breaking the Code of Good Intentions: everyday forms of whiteness. [S.l.]: Rowman & Littlefield. p. 28. ISBN 978-0-7425-2864-2. Consultado em 4 de julho de 2011 
  7. New York African Studies Association. Conference; Seth Nii Asumah; Ibipo Johnston-Anumonwo; John Karefah Marah (abril de 2002). The Africana human condition and global dimensions. [S.l.]: Global Academic Publishing. p. 263. ISBN 978-1-58684-220-8. Consultado em 4 de julho de 2011 
  8. a b c d Susan Hawthorne (2002). Wild politics: feminism, globalisation, bio/diversity. [S.l.]: Spinifex Press. pp. 17–19, 388. ISBN 978-1-876756-24-6. Consultado em 4 de julho de 2011 
  9. a b c d Stephen Howe (1999). Afrocentrism: mythical pasts and imagined homes. [S.l.]: Verso. pp. 247–248. ISBN 978-1-85984-228-7. Consultado em 4 de julho de 2011 
  10. Marimba Ani (1994). Yurugu: An Afrikan-Centered Critique of European Cultural Thought and Behavior. [S.l.]: Africa World Press. pp. xi, 1. ISBN 978-0-86543-248-2. Consultado em 17 de setembro de 2011 
  11. a b Ani (1994). Yurugu. [S.l.: s.n.] p. xxv. Consultado em 17 de setembro de 2011 
  12. Alamin M. Mazrui (2004). English in Africa: after the Cold War. [S.l.]: Multilingual Matters. p. 101. ISBN 978-1-85359-689-6. Consultado em 4 de julho de 2011 
  13. Susan Hawthorne (2002). Wild politics: feminism, globalisation, bio/diversity. [S.l.]: Spinifex Press. p. 388. ISBN 978-1-876756-24-6. Consultado em 4 de julho de 2011 
  14. Ani (1994). Yurugu. [S.l.: s.n.] p. 72. Consultado em 19 de janeiro de 2012 
  15. a b Philip Higgs (2000). African Voices in Education. [S.l.]: Juta and Company Ltd. p. 172. ISBN 978-0-7021-5199-6. Consultado em 4 de julho de 2011 
  16. a b Pero Gaglo Dagbovie (15 de março de 2010). African American History Reconsidered. [S.l.]: University of Illinois Press. p. 191. ISBN 978-0-252-07701-2. Consultado em 4 de julho de 2011 
  17. Ani (1994). Yurugu. [S.l.: s.n.] pp. 427, 434. ISBN 978-0-86543-248-2. Consultado em 17 de setembro de 2011 
  18. Molefi Kete Asante, "Afrocentricity, Race, and Reason", in Manning Marable, ed., Dispatches from the Ebony Tower: intellectuals confront the African American experience (New York, NY: Columbia University Press, 2000), ISBN 978-0-231-11477-6, page=198. Accesso em: 4 de julho de 2011.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]