Língua totonaca de Papantla
Totonaco de Papantla Lichiwin Tutunaku | ||
---|---|---|
Pronúncia: | [liːt͡ʃiwiːn tutuˈnaku] | |
Falado(a) em: | México | |
Região: | Veracruz | |
Total de falantes: | 80.000[1] | |
Família: | Totonacana Totonaco Central Lowland–Sierra Totonaco de Papantla | |
Escrita: | Alfabeto latino | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | México | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
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ISO 639-2: | --- | |
ISO 639-3: | top
| |
A língua totonaca de Papantla (endônimo: lichiwin tutunaku, pronúncia: [liːt͡ʃiwiːn tutuˈnaku]), também conhecida como lowland totonac ou totonaco de la costa, é uma língua mesoamericana variante do totonaco, falada nas proximidades da cidade de Papantla, ao norte do estado de Veracruz, no México. Pertence à família totonacana e é reconhecida como uma das línguas oficiais do México[2]. Atualmente, se encontra em situação vulnerável[3], possuindo cerca de 80.000 falantes.
O totonaco de Papantla utiliza o alfabeto latino, com estudos linguísticos documentados desde o século XVI[4], porém não apresenta uma predominância de tradição literária. Assim como a maioria das línguas indígenas no México, o totonaco de Papantla está sendo substituído gradualmente pelo espanhol dentro das comunidades. Contudo, ainda existem falantes que o possuem como primeira língua[5].
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Há uma divergência acerca da origem do nome dessa língua. Alguns autores defendem que totonaco significa “três corações”, derivado da palavra tutunaku usada pelos próprios falantes para denominar a língua, que por sua vez é a junção de tutu (três) e naku (coração) na variante de Papantla[6]. Acredita-se que esse nome representa os três principais centros arqueológicos de Totonacapan, região onde os totonacas se desenvolveram: El Tajín, Cempoala e Yohualichan[7].
Outros autores consideram que totonaco é uma derivação do náuatle, da forma verbal tona, que significa “faz calor” ou “faz sol”, com uma duplicação da raiz para marcar intensidade[8]. Com isso, totonaco seria uma alusão aos que vivem na costa tropical e assim são chamados de “os da terra quente”.
Ademais, em lichiwin tutunaku, como é autodenominado o totonaco de Papantla, lichiwin é uma palavra que expressa o conceito de “língua ou idioma”[9]. Portanto, significa literalmente “língua totonaca”.
Distribuição
[editar | editar código-fonte]Distribuição geográfica
[editar | editar código-fonte]O totonaco de Papantla é falado apenas no México, ao longo da costa do Golfo, em parte do estado de Veracruz. A maior concentração de falantes se dá na cidade de Papantla e seus arredores, mas quantitativos menores se encontram pelas cidades de El Escolín, Cazones, El Tajín, Espinal e entre outros[10].
Dialetos e línguas relacionadas
[editar | editar código-fonte]Atualmente, o totonaco é considerado parte de uma família linguística isolada, juntamente à língua tepehua: a família totonacana. Não se sabe se a família totonacana está relacionada com outras famílias mesoamericanas, pois a escassez de fontes a respeito das línguas que a compõem impossibilita o rastreamento de uma afiliação linguística longínqua com outras famílias da região. Apesar de não terem mais uma inteligibilidade mútua, o totonaco e o tepehua compartilham de uma grande variedade de vocábulos e estruturas[5].
Geralmente, é considerada a existência de pelo menos quatro variantes do totonaco, com a classificação podendo divergir para até 9, a depender do estudo[11]. Essas variações são comumente chamadas de dialetos, apesar de nem todas serem inteligíveis entre si. O totonaco de Papantla é considerado um desses dialetos.
Fonologia
[editar | editar código-fonte]Vogais
[editar | editar código-fonte]Anterior | Posterior | |
---|---|---|
Fechada | i | u |
Aberta | a |
O totonaco de Papantla possui três qualidades vocálicas, /a/, /i/ e /u/, que podem distinguir na duração, se tornando /a:/, /i:/ e /u:/. Além disso, cada uma dessas vogais, tanto curtas quanto longas, podem se tornar laringealizadas: /a̰/, /ḭ/, /ṵ/, /a̰:/, /ḭ:/ e /ṵ:/. Sendo assim, existem no total 12 fonemas vocálicos para a língua[12].
As vogais fechadas /i/, /i:/, /u/ e /u:/ se tornam abertas ao encontrarem /q/ ou /nq/ e, em menor frequência, ao estarem no final da palavra. Por exemplo, sikgna (banana) se pronuncia ['se:qna] e kgulu (velho) se pronuncia [qo:'lo][13].
As vogais curtas não laringealizadas /a/, /i/ e /u/ se tornam mudas no final da palavra ([ḁ], [i̥], [u̥])[13].
Consoantes
[editar | editar código-fonte]Bilabial | Labiovelar | Alveolar | Palatal | Velar | Uvular | |
---|---|---|---|---|---|---|
Plosiva | p | t | k | q | ||
Africada | t͡s tɬ | t͡ɕ | ||||
Nasal | m | n | ||||
Fricativa | s | ɕ | x | |||
Fricativa Lateral | ɬ | |||||
Aproximante | w | j | ||||
Aproximante lateral | l |
Existem 16 fonemas consonantais no totonaco de Papantla. Em alguns estudos, é considerado um 17º fonema /r/, que muitas vezes substituí o /l/ quando entre vogais[14]. Em outros, o /r/ é visto como uma alofonia, provavelmente surgida de um empréstimo linguístico do espanhol[15].
As plosivas /p/, /t/, /k/, /q/ e as africadas /ts/, /tɕ/ e /tɬ/ se tornam vozeadas quando estão depois de consoantes nasais e às vezes entre duas vogais. Ou seja, se convertem em [b], [d], [g], [G], [dz], [d͡ʑ] e [dɮ], respectivamente[16].
O /q/ pode ser realizado como uma plosiva uvular surda ou uma fricativa uvular surda. Por exemplo, takgnu (chapéu) pode ser ['ta:qno] ou ['ta:χno][16].
O fonema /x/ é pronunciado como [x] antes de vogais e como [h] antes de consoantes ou estando no final da palavra[16].
/m/, /n/, /w/ e /j/ se tornam surdos no final da palavra ([m̥], [n̥], [w̥], [j̥])[17].
O /n/ é coarticulado com a consoante posterior. Assim, se torna [m] quando precede uma labial, [ɲ] quando precede uma alvéolo-palatal, [ŋ] quando precede uma velar e [ɴ] quando precede uma uvular[13].
Fonotática
[editar | editar código-fonte]A estrutura de uma sílaba é formada por um ataque, seguido de uma rima. A rima se divide em duas partes: núcleo e coda. O núcleo é a parte da sílaba com maior intensidade e é obrigatória, já a coda, que sucede o núcleo, pode ou não existir. O ataque, também chamado de onset, antecede o núcleo e, assim como a coda, pode ou não estar presente. O ataque e a coda são compostos por consoantes, já o núcleo é geralmente constituído por vogal.
A formação silábica no totonaco de Papantla consiste em minimamente um núcleo vocálico — embora o estudo de Crescencio García Ramos considere que no totonaco haja consoantes silábicas como núcleo[15] — e se estende até quatro consoantes. As possíveis formações são[15][18]:
- V, VC, CV, CVC, VCC, CCV, CCVC, CVCC, CVCCC (V significa vogal e C significa consoante)
O estudo de Carolyn J. Mackay argumenta que o ataque é obrigatório na estrutura silábica mínima, com a inserção de uma oclusiva glotal sempre que o núcleo é iniciado somente com uma vogal[19], mas isso não é corroborado por outras fontes.
Ortografia
[editar | editar código-fonte]Alfabeto
[editar | editar código-fonte]A primeira iniciativa de se padronizar uma escrita para todas as variantes do totonaco ocorreu em 11 de abril de 1983, a partir de uma reunião com falantes nativos dos estados de Puebla e Veracruz e professores bilíngues. Houve outras oficinas ao longo dos anos para a atualização das normas da língua, tendo a mais recente ocorrido em 13 de dezembro de 2015[18]. A seguir está uma representação dos grafemas do totonaco de Papantla:
Latino | Fonema AFI | Aproximação com o português |
---|---|---|
a | /a/ | caro |
ch | /t͡ɕ/ | Běijīng (em mandarim); não há equivalente no português brasileiro |
e | /e/ (alofone de /i/) | dedo |
i | /i/ | quis |
j | /x/ | rio |
k | /k/ | corpo |
kg | /q/ | qit't (em árabe); como o /k/ em português mas mais no fundo da garganta |
l | /l/ | escola |
lh | /ɬ/ | llall (em galês); não há equivalente no português brasileiro |
m | /m/ | mato |
n | /n/ | negócio |
o | /o/ (alofone de /u/) | dois |
p | /p/ | pai |
r | /r/ | perro (em espanhol); presente em alguns dialetos do português brasileiro |
s | /s/ | sábado |
t | /t/ | teorema |
tl | /tɬ/ | āxōlōtl (em náuatle); não há equivalente no português brasileiro |
ts | /t͡s/ | participante (falado rápido) |
u | /u/ | uva |
w | /w/ | pueril |
x | /ɕ/ | shio (em japonês); como o /ʃ/ em português mas falado com a ponta da língua no lugar da lâmina |
y | /j/ | iogurte |
A consoante r ocorre somente em algumas palavras emprestadas do espanhol e em certas onomatopeias[18]. Não existe um consenso se seu som pode ser considerado um fonema da língua ou apenas uma alofonia do /l/.
Alguns estudos, como o de Paulette Levy, utilizam a oclusiva glotal <'> ([ʔ]) como representação para as vogais laringealizadas[20], já outros consideram a presença de oclusivas glotais de forma fonêmica na língua.
Acentuação
[editar | editar código-fonte]O totonaco de Papantla possui dois acentos: primário e secundário. O acento primário é contrastivo, isto é, sua utilização pode mudar o significado de uma palavra, já o secundário é de menor intensidade e não contrastivo. Geralmente, eles recaem sobre a penúltima (paroxítona) ou última (oxítona) sílaba, ainda que hajam palavras com ênfase na antepenúltima (proparoxítona)[21].
Na transcrição, serão acentuadas (‘) todas as palavras que tiverem maior intensidade na última e antepenúltima sílaba. As palavras com maior intensidade na penúltima sílaba não levam acento[18]:
- Pupunú. “mar.” (oxítona)
- Wápapa. “sapo.” (proparoxítona)
- Statu. “estrela.” (paroxítona)
Palavras monossílabas não são acentuadas[18]:
- Chi. “hoje.”
Gramática
[editar | editar código-fonte]Pronomes
[editar | editar código-fonte]Os pronomes em totonaco de Papantla se dividem em pessoais, possessivos, demonstrativos, interrogativos e indefinidos[18].
Pessoais
[editar | editar código-fonte]Os pronomes pessoais são substitutos da pessoa e sua função é essencialmente actancial[22].
1ª | 2ª | 3ª | |
---|---|---|---|
singular | akit (eu) | wix (tu) | wa / xla (ele ou ela) |
plural | akín (nós - exclusivo)
akinín (nós - inclusivo) |
wixín (vós) | xlakán (eles ou elas) |
- O vocábulo wa cumpre a função de pronome e em algumas ocasiões, responde perguntas[18]. Exemplo:
— ¿Tiku ama skuja?. (quem vai trabalhar?)
— Wa. (ele/ela)
Possessivos
[editar | editar código-fonte]Os pronomes possessivos se constroem a partir de afixos que marcam o possessor, aos quais se acrescenta o genitivo -la-[23].
1ª | 2ª | 3ª | |
---|---|---|---|
singular | kilá (meu) | milá (teu) | ixlá (dele ou dela) |
plural | kilakán (nosso - exclusivo)
kilakanin (nosso - inclusivo) |
milakán (vosso) | ixlakán (deles ou delas) |
- A pluralização do possessor se dá pelo sufixo -kan em todas as pessoas, exceto para o inclusivo, que se dá pelo sufixo -kanin[24].
Demonstrativos
[editar | editar código-fonte]Os pronomes demonstrativos indicam a proximidade de algo em relação ao falante ou ouvinte.
Pronome | Tradução |
---|---|
ja'e / umá | este ou esta |
namá | esse ou essa |
amá | aquele ou aquela |
Interrogativos
[editar | editar código-fonte]Os pronomes interrogativos são utilizados para formular perguntas.
Pronome | Tradução |
---|---|
¿tiku? | quem? |
¿niku? | onde? |
¿tuku? | o quê? |
¿xniku? | quando? |
¿nikulá? | quanto? |
¿wana? / ¿wanchi? | por quê? |
¿nikulá? / ¿lantla? | como? |
¿neje? / ¿nikumá? | qual? |
Indefinidos
[editar | editar código-fonte]Os pronomes indefinidos aparecem no discurso de modo vago, impreciso ou genérico.
Pronome | Tradução |
---|---|
tsankgatí / wití / wintí / witiku | alguém |
tsankgatú / witú / wituku | algo |
tsankganí / wintániku / wini | em algum lugar |
tsankgaxní / xalán / xamakgtúm | algum dia |
Substantivos
[editar | editar código-fonte]Os substantivos em totonaco de Papantla não se flexionam em gênero, salvo os casos em que a própria significação da palavra é masculina ou feminina. Também não há uma flexão de número, pois a marcação do plural geralmente se dá pelo verbo ou complementos que o acompanham[25]. Quanto a sua forma, os substantivos podem ser simples ou compostos.
Compostos
[editar | editar código-fonte]Os substantivos compostos são formados por duas ou mais raízes de outras palavras que, ao se unirem, geram outro substantivo com significado próprio[18].
Base léxica simples | Base léxica simples | Palavra composta |
---|---|---|
kiwi
“árvore” |
paxni
“porco” |
kiwípaxni
“javali” |
pakglhcha
“tomate” |
pin
“pimenta” |
pakglhchapin
“molho de tomate” |
Outra forma de representar esses substantivos seria unindo um adjetivo e um substantivo[18], por exemplo:
- xkuta (azedo) + laxix (laranja) = xkutalaxix (laranja-azeda)
Prefixos
[editar | editar código-fonte]O totonaco de Papantla é uma língua altamente aglutinada. Isso significa que frequentemente ocorre a junção de raízes de palavras diferentes e também de afixos para formar novas palavras. Esses morfemas, incluindo as raízes, normalmente consistem em uma única sílaba[26].
Existem diversos afixos para a descrição de partes do corpo, cheiros, pessoas, formatos, entre outros. A ocorrência dessas junções se encontra mais na formação de verbos, mas também se dá nos substantivos, numerais, adjetivos e advérbios[27]. Exemplos:
- Em verbos:
akga “orelha”
akgawanán → “ele escuta/ele entende”
- Em substantivos:
lakán “rosto”
lakapún → (rosto + centro) “testa”
- Em numerais:
cha “humano”
“chatúm músico” → (humano + um) “um musicista”
- Em adjetivos:
ti “linha reta”
tilanka → (linha reta + grande) “largo” (para algo contínuo, como uma estrada)
- Em advérbios:
ak “cabeça”
akxtúm → (cabeça + um) “igualmente, identicamente, junto”
Verbos
[editar | editar código-fonte]Os verbos em totonaco de Papantla se distinguem em tempo, número, pessoa, aspecto e modo. Geralmente, essas distinções são indicadas por afixos adicionados ao verbo[28].
Tempo
[editar | editar código-fonte]Na língua existem três tempos verbais: passado, presente e futuro. A seguir estão retratadas as formações simples desses tempo verbais[29]:
- O presente não possui nenhum tipo de marcação, em contrapartida com o passado e o futuro, nos quais é possível observar prefixos;
- O passado é marcado pelo prefixo x- ou xa- (aparecimento uma vogal de apoio antecedendo o índice pessoal de primeira pessoa);
- O futuro é marcado pelo prefixo na-.
Conjugações
[editar | editar código-fonte]O totonaco de Papantla há três classes de conjugações verbais, determinadas pela forma fonológica da base[30]:
- A primeira conjugação inclui os verbos que na terceira pessoa do presente possuem base terminada em vogal.
- A segunda conjugação inclui os verbos que na terceira pessoa do presente possuem base terminada em consoante distinta de n.
- A terceira conjugação inclui os verbos que na terceira pessoa do presente possuem base terminada em n.
Modo
[editar | editar código-fonte]O totonaco de Papantla conta com três modos verbais: indicativo, imperativo e subjuntivo, formados pela adição de afixos na raiz verbal[31].
O modo indicativo exprime uma ação verdadeira e real, em que o falante demonstra certeza e segurança em sua posição, relatando a ação com precisão. Segundo Herman Pedro Aschmann[25], os tempos do indicativo no totonaco de Papantla incluem presente, futuro, pretérito imperfeito, pretérito perfeito simples, pretérito perfeito composto, pretérito mais-que-perfeito. A seguir estão os afixos para cada tempo, na primeira conjugação:
Prefixos | Sufixos |
---|---|
k- | -ya |
ta- | -yatit |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
nak- | -ya |
na- | -yatit |
nata- |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
xak- | -ya |
ix- | -yatit |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
k- | -lh |
ta- | -tit |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
k- | -nit |
ta- | -nita |
nitau | |
nitantit |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
xak- | -nit |
ix- | -nita |
-nitau | |
nitantit |
No totonaco de Papantla, o imperativo e subjuntivo não fazem distinção, portanto, há apenas uma forma para os dois. A seguir estão os afixos para o tempo imperativo-subjuntivo, na primeira conjugação[25]:
Prefixos | Sufixos |
---|---|
kak- | -lh |
ka- | -tut |
kata- |
O modo contínuo indica uma ação que está em andamento. Os tempos contínuos do totonaco de Papantla são o presente circunstancial e o imperfeito circunstancial. A seguir estão os afixos para cada tempo, na primeira conjugação[25]:
Prefixos | Sufixos |
---|---|
k- | -ma |
ta- | -pat |
-manau | |
-panantit | |
-mana |
Prefixos | Sufixos |
---|---|
xak- | -ma |
ix- | -pat |
ixta- | -manau |
-panantit | |
-mana |
Aspectos
[editar | editar código-fonte]No totonaco de papantla, observa-se três aspectos: completivo, perfectivo e imperfectivo[30].
Para formar o completivo, o sufixo -lh é adicionado às raízes de verbos da primeira conjugação; um i aparece como vogal de apoio em verbos da segunda conjugação, formando -lhi; nas raízes da terceira conjugação o n é removido, passando a seguir as raízes da primeira conjugação[32].
Para formar o perfectivo, adiciona-se o sufixo -nita às raízes dos verbos, que também pode aparecer como -nit e -nitan[33].
Para formar o imperfectivo, utiliza-se o sufixo -ma nas raízes dos verbos, exceto para os da segunda pessoa (como sujeito), que se tornam -pa; nos verbos da terceira conjugação, o n final se torna m, e a consequente junção mm pode ser reduzida a m em alguns casos[34].
Actantes
[editar | editar código-fonte]Os actantes são os participantes do processo verbal. No totonaco de Papantla, eles são marcados no verbo por afixos pronominais: o índice pessoal de Primeiro Actante (S) corresponde à função de sujeito, enquanto que o de índice pessoal de Segundo Actante (O) corresponde à função de objeto[35].
1ª | 1ª + 2ª | 1ª + 3ª | 2ª | 3ª | |
---|---|---|---|---|---|
singular | k- | -t | |||
plural | -w | k- -w | -tit | -kgu- |
1ª | 1ª + 2ª | 1ª + 3ª | 2ª | 3ª | |
---|---|---|---|---|---|
singular | ki- | -n | |||
plural | ki-ka- -n | ki-ka | ka- -n | ka- |
Sentença
[editar | editar código-fonte]Ordem da frase
[editar | editar código-fonte]As frases em totonaco de Papantla seguem a ordem SVO, ou seja, sujeito-verbo-objeto[1]. Além disso, na língua existem dois tipos de enunciados simples, a partir da forma do predicado: nominais e verbais[36].
Frases nominais
[editar | editar código-fonte]A frase nominal não apresenta verbos em sua estrutura. Portanto, o predicado pode ser composto por substantivo, pronome, adjetivo, locativo e quantificador[37]:
- Akit tsumat. → “eu sou uma garota”. (literalmente: eu garota)
- palhka stilili. → ”o comal é redondo”. (literalmente: comal redondo)
Frases verbais
[editar | editar código-fonte]Já na frase verbal, o verbo é um constituinte importante do predicado, podendo também compor sozinho o enunciado. As sentenças verbo nominais no totonaco de Papantla possuem obrigatoriamente[38]:
1. Uma raiz verbal;
2. Índices pessoais que marcam os actantes. Exemplo: o prefixo k- e o sufixo -tit são marcações no verbo para indicar a 1° pessoa do singular e 2° pessoa do plural, respectivamente;
3. Uma marca aspecto-temporal.
- Lhkuyat namisa. → “o fogo se apaga”.
Vocabulário
[editar | editar código-fonte]Numeração
[editar | editar código-fonte]Os números de um a vinte não são propriamente palavras completas e sim partículas. Para completar seu sentido, é preciso adicionar prefixos às partículas, que podem representar formatos, partes do corpo, entre outros. De vinte para cima não se utilizam os prefixos e a utilização no vinte é opcional[25]. A seguir estão algumas nomeações de números, sem prefixo:
-tum | um |
-tuy | dois |
-tutu | três |
-tati | quatro |
-kitsis | cinco |
-chaxán | seis |
-tujún | sete |
-tsayán | oito |
-najatsa | nove |
-kaw | dez |
De onze a dezenove os numerais são formados pela base dez seguidos dos números das unidades, com interferências morfofonológicas[39]:
kawitu → dez - i(ligação) - um(perda do m em tum) | onze |
kutuy → kaw se reduz a ku | doze |
kututu | treze |
kutati | quatorze |
kukitsis | quinze |
kuchaxán | dezesseis |
kutujún | dezessete |
kutsayán | dezoito |
kunajatsa | dezenove |
- Puxam → vinte
De vinte e um a trinta e nove, os numerais são formados pela base vinte e um -a que serve como uma ligação entre as dezenas e as unidades[39]:
puxamatúm | vinte e um |
puxamatuy | vinte e dois |
… | … |
puxamakáw | trinta → 20 + 10 |
puxamakawitu | trinta e um |
puxamakutuy | trinta e dois |
… | … |
puxamakunajatsa | trinta e nove |
- Tipuxam → quarenta → 2 x 20 (tuy se reduz a ti)
…
- Tipuxamakáw → cinquenta → 2 x 20 + 10
…
- Tutupuxám → sessenta → 3 x 20
…
- Tutupuxamakáw → setenta → 3 x 20 + 10
- Tutupuxamakutum → setenta e um → 3 x 20 + 11 (kawitu se reduz a kutu e o m volta a aparecer)
…
- Tatipuxam → oitenta → 4 x 20
…
- Tatipuxamakaw → noventa → 4 x 20 + 10
- Tatipuxamakutum → noventa e um → 4 x 20 + 11
A partir do 100, utiliza-se novamente os prefixos:
- -Túm ciento → cem → 1 - 100 (ciento é um empréstimo do espanhol)
- -Túm ciento -túm → cem → 1 - 100 - 1
…
- -Tum mil → mil → 1 - 1000 (mil é um empréstimo do espanhol)
Referências
- ↑ a b «Totonac, Papantla». Ethnologue (em inglês). Consultado em 14 de março de 2023
- ↑ «Ley General de los Derechos Lingüísticos de los Pueblos Indígenas». INALI (em espanhol). Consultado em 17 de março de 2023
- ↑ «Spoken L1 Language: Papantla Totonac,Papantla». Glottolog (em inglês). Consultado em 15 de março de 2023
- ↑ Pilling, James C. (1895). «The Writings of Padre Andres De Olmos in the Languages of Mexico.». American Anthropologist. 8 (1): 43-60 – via JSTOR
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- ↑ «Los Totonacas de Veracruz: Población, Cultura y Sociedad» (PDF). Secretaria de Educación del Estado de Veracruz (em espanhol). Consultado em 17 de março de 2023
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- ↑ MacKay 1999, p. 12.
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- ↑ MacKay 1999, p. 32.
- ↑ a b c Levy, Paulette (1990). Totonaco de Papantla, Veracruz. Cidade do México: El Colegio de México. p. 27. ISBN 968-12-0448-4
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- ↑ a b c «Manual de fonética totonaca» (PDF). Secretaria de Educación del Estado de Veracruz (em espanhol). Consultado em 18 de março de 2023
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Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- MacKay, Carolyn J. (1999). A grammar of Misantla Totonac. Salt Lake City: University of Utah Press. OCLC 48138803
- Troiani, Duna (2007). Fonología y morfosintaxis de la lengua totonaca, municipio de Huehuetla, Sierra Norte de Puebla. Cidade do México: Instituto Nacional de Antropología e Historia. p. 9. ISBN 978-968-03-0258-1
- Levy, Paulette (1990). Totonaco de Papantla, Veracruz. Cidade do México: El Colegio de México. p. 27. ISBN 968-12-0448-4