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Fibroma ameloblástico

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O fibroma ameloblástico (FA) é uma neoplasia odontogênica rara composta por tecido epitelial ameloblástico e mesenquimal semelhante à lâmina dentária.[1] É pouco comum e representa 2,5% dos tumores odontogênicos.[1]

Sinais e sintomas

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O FA é um tumor assintomático, de crescimento lento e expansivo.[1] Seu crescimento é mais lento do que o ameloblastoma, e também não tende a se infiltrar nas trabéculas ósseas, o que faz com que as bordas da lesão normalmente sejam lisas.[1] Quando sintomático, as principais queixas são de tumefação, dor ou sensibilidade.[1]

Aspectos radiográficos e histológicos

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Radiograficamente, o tumor tende a ser uma lesão bem delimitada, radiolúcida unilocular, com lesões maiores podendo aparentar serem multiloculares, com bordas lisas e definidas.[1][2] Pode haver expansão da cortical óssea. Quando associado a um dente incluso, pode se assemelhar a um cisto dentígero.[1][2]

Histologicamente, o tumor é bifásico, composto por dois tipos de tecido.[1][2] Há ilhotas e cordões de epitélio odontogênico que se assemelham à lâmina dentária com uma camada dupla ou tripla de células epiteliais cuboidais e, perifericamente a elas, uma camada de células cuboidais a colunares semelhantes a ameloblastos.[1][3] Dentro das ilhotas epiteliais, células que se assemelham ao retículo estrelado do órgão do esmalte podem ser encontradas.[1] Há grande variação na densidade do componente epitelial dentro de diferentes áreas do tumor.[1] Raramente há degeneração cística.[1] Em casos extremamente raros, pode-se encontrar grânulos de melanina no epitélio do FA.[1]

Nas áreas de ectomesênquima, há células embrionárias abundantes que se parecem com a papila dentária ou tecido pulpar primitivo.[1][2][3] Essas células são arredondadas ou fusiformes como fibroblastos, imersas em fibras colágenas.[1] O seu estroma é bastante distinto do ameloblastoma, que possui um estroma tumoral de tecido conjuntivo denso fibroso maduro.[1] A densidade celular também pode variar dentro do tumor, com zonas livres de células e/ou de hialinização na interface entre epitélio-conjuntivo.[1] O tumor raramente é encapsulado.[1]

Variantes histológicas do fibroma ameloblástico incluem:[2]

  • Fibroma ameloblástico de células granulares: possui predominância de células granulares no componente ectomesenquimal;
  • Fibroma ameloblástico papilífero: proliferação epitelial em arranjo plexifome;
  • Ameloblastoma associado a fibroma ameloblástico;
  • Fibroma ameloblástico cístico.

Em classificações anterior, a OMS listava alguns subtipos do FA baseados na presença de tecido duro mineralizado: fibroma ameloblástico quando não há formação de tecido duro; fibrodentinoma ameloblástico quando há formação de matriz dentinode; e fibro-odontoma ameloblástico quando há formação de matriz de esmalte e dentina.[3] Entretanto, a classificação de 2017 das lesões odontogênicas removeu essas variantes por completo, porque há evidências de que a partir do momento em que há formação de tecido duro, essas lesões evoluem em odontomas.[3]

A presença de mitoses é sugestiva de malignização em um sarcoma odontogênico (em classificações anteriores chamada de fibrossarcoma ameloblástico).[2]

A sua patogênese ainda não é clara, mas teoriza-se que o componente epitelial induz a proliferação celular do ectomesênquima.[2] Entretanto, não se sabe por que não há indução de diferenciação odontoblástica no FA.[2] O perfil imuno-histoquímico da neoplasia sugere que ela se desenvolva em um estágio precoce da odontogênese.[2]

Epidemiologia

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O FA é raro, com sua frequência variando entre 1,5 a 4,5%.[2] Possui predileção por homens (2:1) e ocorre mais em pacientes jovens, com mediana de idade de 14 anos.[1][2] Acomete mais a mandíbula do que maxila, e é frequentemente associado a dentes inclusos.[2]

O diagnóstico se dá por exame anatomopatológico.[1][2] Além de hematoxilina-eosina, a imuno-histoquímica revela que o componente epitelial é positivo para citoqueratinas e vimentina na membrana basal, e o componente mesenquimal é positivo para tenascina.[2]

O tumor pode se assemelhar a outras condições, e diagnósticos diferenciais incluem:[2]

Prognóstico e tratamento

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O tratamento é cirúrgico e consiste na ressecção total do tumor.[1][2] A remoção tende a ser mais conservadora quando comparada ao ameloblastoma, porque o FA não tende a infiltrar o osso tão extensamente quanto o ameloblastoma, e se separa mais facilmente do osso.[1]

Porém, o FA possui uma taxa de recidiva alta (18%), e o FA recorrente possui taxas mais altas de MIB-1, um anticorpo monoclonal contra a proliferação associada a antígenos nucleares.[2] Tumores recidivantes possuem uma chance alta (45%) de transformação maligna em um sarcoma odontogênico.[2]

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v Vij, Ruchieka; Vij, Hitesh (9 de julho de 2013). «Ameloblastic fibroma: an uncommon entity». BMJ Case Reports: bcr2013010279. ISSN 1757-790X. PMC 3736284Acessível livremente. PMID 23843410. doi:10.1136/bcr-2013-010279. Consultado em 30 de setembro de 2024 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r Nasir, Abdullah; Khare, Abhisheik; Ali, Iqbal; Khan, Mohammad I. (fevereiro de 2023). «Ameloblastic fibroma: A case report». Journal of Oral and Maxillofacial Pathology : JOMFP (Suppl 1): S60–S63. ISSN 0973-029X. PMID 37082286 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.4103/jomfp.jomfp_337_22. Consultado em 30 de setembro de 2024 
  3. a b c d Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2013). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2017 (4th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. doi:10.5146/tjpath.2017.01410. Consultado em 30 de setembro de 2024